10/07/2011 - 10h10
Aeroporto é arma para competir, diz autor de 'Aerotropolis'
MARIANA BARBOSA
DE SÃO PAULO
DE SÃO PAULO
Ao negligenciar os investimentos em aeroportos, o Brasil corre o risco de ficar para trás na competição global com outros emergentes.
Essa é a opinião do professor da Universidade da Carolina do Norte John Kasarda. O autor de "Aerotropolis", lançado em março nos EUA --e com previsão de sair no Brasil, pela DVS Editora, em novembro,-- concedeu entrevista à Folha por telefone.
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"INTERNET FÍSICA"
A cidade construída no entorno do aeroporto permite maior e mais rápida conectividade e a formação de redes de negócios globais. Os aeroportos formam uma internet física que movimenta produtos e pessoas. Um terço do comércio mundial viaja de avião --embora a carga aérea represente só 1% do volume. Você só pode competir como economia global se tiver infraestrutura aeroportuária.
VANTAGENS
Uma "aerotrópolis" oferece serviços para apoiar negócios que são de alguma forma ligados à aviação, mas também a milhares de passageiros. O conceito atrai empresas com cadeias de suprimento globais, com componentes produzidos em meia dúzia de países e que são montadas num sétimo país.
BRASIL
O aeroporto é a primeira, e a última, impressão que se tem de um país. Hoje o Brasil não tem a mais atraente porta de entrada. Quando você sai do Galeão até chegar a Copacabana, o que se vê pelo caminho tampouco é atraente.
Apresentei o conceito da aerotrópolis à Infraero, mas nada aconteceu. A exceção foi Belo Horizonte [Confins], que é um aeroporto pequeno.
BRICS
A China e a Índia estão andando muito mais rápido e o Brasil está ficando para trás. É uma pena. O país tem muito potencial para ser líder. O problema é a burocracia governamental. O governo não opera no ritmo dos negócios.
PRIVATIZAÇÃO
Só vi o anúncio preliminar, mas achei muito bom. É preciso agir rápido por conta da Copa. A exploração de terrenos no entorno dos aeroportos, sobretudo nos mais importantes, tem de ser feita de forma eficiente, atraindo empresas que dependem dessa proximidade. Os que não dependem só contribuem para piorar o trânsito.
Editoria de Arte/Folhapress FATOR SOCIAL O planejamento do entorno de Guarulhos pode afetar as pessoas que vivem em ali [5.000 famílias]. É preciso levar em conta o fator social, mas muitas vezes é preciso também tomar decisões difíceis, em nome da prosperidade do país. O fato dessas famílias morarem perto do aeroporto não as beneficia. TRANSTORNO Na China e no Oriente Médio, os aeroportos são vistos como a infraestrutura-chave para competir no século 21. No Brasil, são tidos como transtorno ou ameaça ambiental. As pessoas não entendem a importância deles para a prosperidade, que determina a qualidade de vida. COISA DE RICO Os mais prejudicados quando a aviação entra em crise são os produtores rurais da África, de rosas da Colômbia, que ficam sem vender para a Europa. E também os taxistas, as camareiras de hotel. Os ricos viajantes são o lado visível, mas eles sofrem apenas com a inconveniência. Os pobres são os que têm o seu sustento afetado. |