quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Lua em uma gigantesca usina de energia solar


Projeto japonês transformará a Lua em uma gigantesca usina de energia solar

Por Ian O’Neill




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© Shimizu Corporation
Quando o assunto é energia e exploração espacial, temos que pensar grande – e é exatamente o que uma empresa japonesa está fazendo.
Uma das grandes vantagens do nosso satélite é que um de seus hemisférios é constantemente banhado pela luz do Sol (exceto durante eclipses ocasionais) e, portanto, gerar energia em painéis solares instalados na Lua pode não parecer algo tão distante.
Um exemplo é o recém-lançado rover chinês Chang’e 3/Yutu, que é movido a energia solar. Antes dele, os astronautas das missões Apollo já haviam realizado experimentos com energia solar no regolito lunar. Mas que tal recobrir o equador da Lua com uma faixa de painéis solares de 400 quilômetros de extensão e enviar a energia para a Terra?
É exatamente essa a ideia da Shimizu Corporation, que pretende aproveitar o fluxo constante de 13.000 terawatts de energia gerados pelo Sol. Segundo a revista Business Insider, “nos Estados Unidos, a capacidade total de geração de energia elétrica no verão foi de 1.050,9 gigawatts”. Uma fonte de energia tão vasta poderia transformar totalmente a nossa civilização.
Como Obi -Wan diria: “Aquilo não é a Lua. É uma estação (solar) espacial”. “Essa mudança de foco, do uso de recursos limitados para o aproveitamento ilimitado de energia limpa, é o sonho de toda a humanidade. O LUNA RING, nosso conceito de geração de energia solar lunar, transforma esse sonho em realidade por meio de ideias engenhosas, aliadas a tecnologias de ponta”, descreve o site oficial da empresa.
De fato, a empreitada exigirá tecnologias espaciais avançadas, não só para absorver a energia solar e enviá-la de forma eficiente para a Terra: sua própria construção exigirá vários saltos no desenvolvimento de tecnologia robótica. No entanto, é preciso haver mudanças significativas nos acordos internacionais de cooperação espacial antes que o projeto saia do papel.
Uma estrutura digna da ficção científica, o LUNA RING é um anel que se estende pela circunferência da Lua ao longo de 11 mil quilômetros, construído por robôs que “executarão várias tarefas na superfície lunar, incluindo terraplanagem e escavação dos estratos inferiores do solo”. O projeto será supervisionado por uma equipe humana, enquanto a maior parte das tarefas robóticas será operada remotamente da Terra.
Mas como a energia chegaria ao nosso planeta? Como a nossa atmosfera é praticamente transparente para microondas e lasers, a Shimizu pretende enviar a energia através de transmissores localizados no hemisfério lunar que está voltado para a Terra. À medida que a Lua orbita a Terra e nosso planeta gira, estações internacionais de recepção alimentariam as redes de eletricidade com a energia solar abundante gerada no processo.
Seus criadores se apressam em destacar que essa fonte quase inesgotável de energia limpa poderia beneficiar toda a humanidade. Além disso, quando a infraestrutura estiver pronta, outros recursos poderão ser explorados – como a extração de minérios preciosos e a fabricação de produtos do regolito. Pode-se imaginar um consórcio internacional de nações e/ou empresas que comprariam cotas da LUNA ANEL para viabilizar sua construção. Cada sócio teria o direito de construir estações de recepção na localização geográfica de sua escolha, livrando o planeta de fontes de energia poluentes. O Japão, afetado pelo devastador acidente de Fukushima em 2011, está buscando ativamente novas fontes de energia alternativa para que possa abrir mão da energia nuclear – e não dá para ser mais “alternativo” do que isso.
A data prevista para o início da construção do LUNA RING é 2035. Até lá, a Shimizu acredita que a infraestrutura e a tecnologia de geração de energia solar no espaço terá avançado o bastante para possibilitar um projeto dessa magnitude. Preocupar-se com pequenos detalhes práticos – como a limpeza dos painéis solares do LUNA RING e a obtenção do apoio da comunidade internacional – parece um pouco prematuro.
O projeto pode parecer um sonho distante, mas se as tecnologias atuais de fato avançarem, pode ser feito. É claro que seria a maior façanha de engenharia da história da humanidade, mas não uma tarefa impossível para uma civilização em constante avanço tecnológico.
Se realizássemos tal proeza, estaríamos perto de nos tornar uma civilização Tipo 1 na Escala de Kardashev, que mede o desenvolvimento tecnológico de uma civilização. Por enquanto estamos no Tipo 0: nossa capacidade de aproveitar as fontes de energia globais é muito limitada. Para chegar ao Tipo 1, teremos que captar toda a energia disponível na Terra. Portanto, se conseguirmos criar uma usina de geração de energia solar no satélite natural do nosso planeta, provavelmente ganharemos um bom impulso na escala de Kardashev.
Embora seja apenas um conceito, não é difícil vislumbrar como a LUNA RING se tornará realidade. Às vezes, é preciso pensar realmente grande para enfrentar alguns dos maiores desafios da nossa espécie.

Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU: quem paga?

Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU: quem paga?


19/12/2013 - Envolverde - Por Martin Khor*
Economia 

As discussões sobre os meios de implementação de uma futura agenda de desenvolvimento e sobre as propostas de associação mundial para o desenvolvimento (Global Partnership for Development) estão estreitamente vinculadas.  Os fins a ser alcançados, ou seja, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que serão definidos no próximo ano, dependem dos meios financeiros e tecnológicos de que disponham os países em desenvolvimento.

Como os ODS implicam áreas de ação adicionais às responsabilidades já assumidas pelos países em desenvolvimento, é óbvio que os recursos locais disponíveis não serão suficientes e devem ser complementados com apoio externo.  Daí a necessidade de uma nova aliança global que mobilize as finanças e a tecnologia necessárias; porém, que inclua um propício sistema financeiro e comercial internacional.  Essa aliança também implica que, ao formular suas políticas nacionais, os países desenvolvidos levem em consideração os efeitos causados por estas políticas e adequem seu planejamento de forma a apoiar os objetivos mundiais e, em particular, os esforços desses países.

É por isso que South Centre recomenda que, juntamente com cada ODS formulado, sejam especificados também os meios de implementação necessários para que sejam alcançados.  A aliança global deve ser um capítulo ou um ODS específico.  Por exemplo: o compromisso acordado em 1973 pelos países desenvolvidos de destinar 0,7% de seu PIB à assistência ao desenvolvimento deve ser incorporado aos ODS, porque essa ajuda continua sendo necessária.

Espera-se também que os países em desenvolvimento tomem medidas novas para alcançar os ODS; e esses países têm ama legítima expectativa de obter recursos financeiros novos e adicionais para apoiar essa implementação.  No entanto, a assistência oficial ao desenvolvimento vem diminuindo desde 2011, tanto em termos absolutos quanto em termos relativos; ou seja, como porcentagem do PIB.  Os relatórios da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) mostram que a ajuda foi reduzida em 6% em termos reais em 2011 e 2012, a primeira queda desde 1997.

Novas ações são necessárias para alcançar objetivos ambientais, começando pela mudança climática, e essas medidas requererão financiamento adicional.  Porém, isso não justifica renunciar a outras causas nobres, como a redução da pobreza, a saúde, a educação e a industrialização.  Mesmo crescendo 0,7%, a ajuda não será suficiente para alcançar os ODS ambicionados.  Os governos devem examinar outras fontes.  Por exemplo, o imposto sobre as transações financeiras, que começarão a ser aplicadas por 11 países membros da União Europeia, produzirá entre 30.000 e 35.000 milhões de Euros ao ano.  Está planejado “para garantir que o setor financeiro faça uma justa e substancial contribuição aos ingressos públicos” e “participe com maior responsabilidade”.  Uma parte dos impostos arrecadados poderia ser canalizada para financiar o desenvolvimento sustentável.

Um recente relatório da ONU ressalta que em 2012 alguns países em desenvolvimento tiveram que reestruturar sua dívida e outros encontram-se em alto risco de super endividamento, nove deles na África subsaariana.  A desaceleração econômica mundial, caso continue, gerará crise de dívida em vários países em desenvolvimento ainda não atingidos.  Portanto, a questão da dívida não pode ser ignorada pelos ODS.

Do ponto de vista dos meios, para alcançar os fins, a comunidade internacional deve acordar os seguintes pontos:

1. Reduzir a dívida dos países em desenvolvimento criticamente endividados para evitar que sua carga impeça seu progresso rumo aos ODS>

2. Alentar à comunidade internacional para desenvolver e difundir as ferramentas e técnicas para a gestão eficaz a dívida.

3. Melhorar a oportunidade e a cobertura dos dados da dívida disponíveis publicamente, sobre a base dos relatórios dos credores e dos devedores, a fim de tornar possível avaliar a sustentabilidade ia e fo uma melhor transparência.

4. Elaborar princípios para reduzir a dívida excessiva que equilibre as necessidades sociais e de desenvolvimento.

5. As necessidades financeiras de um país para cumprir com seus ODS devem ser um fator importante a ser considerado na avaliação da sustentabilidade da dívida.

6. Estabelecer um mecanismo internacional para a reestruturação da dívida soberana, sob os auspícios da ONU, seguindo as recomendações do grupo de trabalho da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD).

[Extrato da intervenção de Martin Khor, diretor executivo de South Centre, no dia 9 de dezembro, em Nova York, ante o Grupo de Trabalho sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas.  Fonte: Red del Tercer Mundo, 13 de diciembre de 2013 - No.  144 - Año 2013].

* Martin Khor é fundador da Rede do Terceiro Mundo e diretor-executivo do South Centre, uma organização de países em desenvolvimento com sede em Genebra./ Tradução: Adital

* Publicado originalmente no site Adital. 

(Adital)

17/12/2013 - 10h29