segunda-feira, 20 de junho de 2011

Fonte: http://www.ambienteenergia.com.br/index.php/2010/11/a-energia-eolica-e-os-impactos-ambientais/7001


autoria: Por Marilia Bugalho Pioli


Processos judiciais e reclamações quanto aos impactos ambientais provocados pela energia eólica levanta a polêmica: afinal, este tipo de energia é a favor ou contra o meio ambiente?
Em tempos de preocupação com o meio ambiente – que em verdade é muito mais um caso de sobrevivência do que mera consciência ecológica – as questões de desenvolvimento sustentável e de matriz energética renovável ganha destaque mundial.
O Brasil, que já foi apontado por um estudo do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente como maior mercado mundial de energia renovável – apresenta-se como grande expoente no mercado de energias renováveis, tendo atraído a atenção de investidores estrangeiros e encontrado respaldo governamental por meio da realização de leilões em que se comercializa energia oriunda de fontes renováveis, a exemplo das eólicas, da biomassa e das PCHs (pequenas centrais hidrelétricas).
A grande estrela das fontes renováveis no Brasil tem sido inquestionavelmente a energia eólica. Nos dois leilões realizados em agosto de 2010 (leilão de energia de reserva e leilão de fontes renováveis), 70% da energia negociada provém dos ventos. Uma das grandes vantagens alardeadas da energia eólica – e são muitas – é o fato de ser uma fonte eminentemente limpa e “semp impacto” ao meio ambiente.
Contudo, já começam a circular notícias de problemas advindos dos impactos ambientais provocados pela energia eólica. Mas, afinal… a energia eólica causa ou não impacto ambiental?
Recentemente estão circulandno notícias, principalmente pela internet, de ações judiciais e queixas sobre poluição sonora e visual, sobre desvalorização imobiliária das propriedades vizinhas dos gigantes cataventos, alteração nos componentes geoambientais (água, solo, morfologia, topografia e paisagem), alteração dos fluxos das marés e até alegações mais extremas como a que atribui aos sons e vibrações dos aerogeradores impactos fisiológicos como taquicardia, náuseas e visão turva.
O objetivo aqui não é analisar a veracidade ou não de tão drásticas alegações (até mesmo porque para isso são necessários dados técnicos e científicos válidos, até agora inexistentes), mas alertar para os extremismos das expressões e afirmações. A energia eólica causa impacto ambiental? Sim, causa, como eu causo, você causa, os animais causam, toda a humanidade e a modernidade causam (com certeza o meio ambiente era muito melhor quando os portugueses aproximaram suas naus da costa brasileira). Viver causa impacto ambiental. Enfim, tudo causa impacto ambiental. Portanto, condenar a energia eólica por causar impacto ambiental é condenar tudo o mais que existe no mundo.
Este outro extremo, por sua vez, não pode servir de muleta para justificar qualquer medida ou implantação de “parques de vento”. Não é porque tudo causa impacto ambiental que se vai concluir que qualquer medida ou implantação é justificada porque, afinal, não há nada que se possa fazer quanto a isso. Os extremos são sempre muito perigosos.
Em vez de erguerem-se bandeiras antiventos e alçarem-se vozes contrárias à instalação de parques eólicos, há que se exigir o estabelecimento de critérios técnicos que conduzam a diligências eficazes e conscientes para diminuir os inevitáveis impactos sobre o meio ambiente.
O Brasil padece de um marco regulatório padrão para os cada vez mais difundidos parques eólicos em nosso território. Por mais falha que seja a legislação brasileira para o setor, nesta área as normas ambientais são as mais abundantes. Falta, contudo, uma padronização para estabelecer uma criteriosidade e garantir a mitigação dos impactos ambientais.
A Constituição Federal de 1988 foi a primeira das constituições brasileiras a abordar o meio ambiente, tendo-lhe sido dedicado um capítulo exclusivo. A proteção ambiental foi descentralizada, o que significa que todos os entes federativos (União, Estados, Municípios e Distrito Federal) têm competência, dentro dos limites constitucionais, para tratar de matéria ambiental, não havendo subordinação de uns em relação aos outros. Por isso, não se pode obrigar que um Estado aja ou atue como outro.
No entanto, essa independência federativa não pode resultar em situações tão díspares quanto as que se apresentam hoje. O que é preciso para obter a licença? Depende de qual Estado irá albergar o parque eólico! Essa situação sai do campo da autonomia federativa para tornar-se um problema na media em que critérios são impeditivos de concessão em determinados Estados e permissivos em outro.  Por certo que as características de cada local devem ser consideradas e importam consideravelmente na análise que conduzirá à concessão ou não da licença, mas o que se tem hoje é um grande disparidade de exigências.
Assim, por exemplo, é exigência de EIA (Estudo de Impacto Ambiental) e seu consequente RIMA (Relatório de Impacto Ambiental) ao invés de RAS (Relatório Ambiental Simplificado) para a concessão das indispensáveis licenças ambientais para as instalações dos parques. Pelo país há órgãos ambientais que exigem o EIA e o RIMA ao passo que outros se contentam com o RAS. Será suficiente?
A exemplo de outras “modernidades” que foram criando e dominando os espaços urbanos, diante da necessidade de aumento do fornecimento de energia e da utilização de alternativa à eletricidade dos combustíveis fósseis, o alastramento de parques eólicos parece inevitável. Estudo do Conselho Mundial de Energia Eólica (GWEC), já amplamente divulgado, aponta que a energia eólica deverá atender 12% da demanda elétrica mundial em 2020, podendo chegar a 22% em 2030.
Por esse mesmo estudo, em 20 anos estima-se que serão gerados três milhões de empregos diretos e indiretos ligados à energia eólica (atualmente são 600 mil trabalhadores). O meio ambiente, por sua vez, será beneficiado na próxima década com 1,5 bilhão de toneladas anuais de dióxido de carbono que deixará de ser lançado na atmosfera.
A tendência de ampliação de aerogeradores espalhados pelo mundo, e em especial no Brasil, revela-se também pela ampliação da competitividade da “indústria eólica” na medida em que essa indústria já vem se desenvolvendo, tanto no aspecto tecnológico quanto no econômico. A energia eólica, que até há poucos anos era proclamada como proibitivamente cara, no último leilão já alcançou patamares inferiores aos preços das PCHs. No leilão de 2009 o preço médio de venda ficou em R$ 148,39/MWh, ao passo que o de 2010 caiu para R$ 130,865/MWh.
Todos esses fatores indicam a inevitabilidade do desenvolvimento do setor, sendo também inevitável a discussão e as providências quanto aos impactos ambientais. Pregar que a energia eólica não causa impacto ambiental é afirmação extema e ingênua, da mesma forma que é exacerbado atribuir-lhe impactos da monta como já vem sendo noticiado em casos narrados pela imprensa.
A evolução e a modernidade exigem sacrifícios – quem não recorda do Salto de Sete Quedas no Rio Paraná, a maior cachoeira do mundo em volume de água, que desapareceu para dar lugar à Usina de Itaipu? – e o impacto ambiental sempre existirá. Esse fato, por óbvio, não é uma apologia à destruição ou ao descaso com a natureza, nas tão-somente um alerta para que as questões ambientais sejam tratadas com o critério que exige, sem excessos para que não se chegue ao extremo de impedir o progresso ou de comprometer o meio ambiente.
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Licitação do Projeto Megawatt Solar

Energia solar: preparando terreno para licitação

autoria e fonte: http://www.ambienteenergia.com.br/index.php/2011/06/energia-solar-preparando-terreno-para-licitacao/11905




Da Agência Ambiente Energia - A Eletrobras Eletrosul promove na quarta-feira, dia 22 de junho, reunião técnica com empresas que pretendem participar da futura concorrência para implantação do projeto Megawatt Solar, que tem previsão de gerar, em média, 1,2 GWh, por ano. Na terça-feira, dia 21, acontecerão visitas técnicas às instalações da estatal. A empresa que participar desta visita técnica receberá respectivo certificado, ficando dispensadas de realizar esta etapa após a divulgação do edital de concorrência.
O projeto Megawatt Solar envolve a implantação de um sistema fotovoltaico integrado ao edifício sede da Eletrosul, em Florianópolis (SC), utilizando a área do telhado e dos estacionamentos adjacentes. O projeto será conectado à rede da distribuidora de energia elétrica local. A usina solar terá a capacidade instalada de aproximadamente 1 MWp (megawatt pico).
O projeto Megawatt Solar é fruto de uma parceria entre a Eletrobras, Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Instituto Ideal, o banco de fomento alemão KfW e a agência alemã de cooperação GIZ.
Com a instalação do projeto, segundo a empresa, será possível iniciar o desenvolvimento de um mercado novo para a energia elétrica. A energia produzida pelo Megawatt Solar será vendida a consumidores livres, consumidores especiais e comercializadoras de energia interessados em serem parceiros deste projeto.
Um bom incentivo para estimular este tipo de geração de energia no país é a criação de um Selo de Energia Solar, que poderá ser obtido pelas empresas que comprarem eletricidade de fonte solar. O Selo de Energia Solar está sendo desenvolvido pelo Instituto Ideal, com o apoio da GIZ, e sua obtenção deverá ser feita de forma  associada à compra de energia, proveniente de usinas fotovoltaicas.
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Contrastes na Sustentabilidade: Social, econômico e... ambiental.

'Miseráveis entre miseráveis', mais de 10 milhões de pessoas vivem com R$ 39

Dados do Censo de 2010 que balizaram ações do Brasil sem Miséria, principal programa social da gestão de Dilma Rousseff e com meta atingir 16,3 milhões de pessoas, detalham onde vivem 8,5% dos brasileiros com renda familiar de até R$ 70

19 de junho de 2011 | 0h 00


autoria: Luciana Nunes Leal - O Estado de S.Paulo

Uma população estimada em 10,5 milhões de brasileiros - equivalente ao Estado do Paraná - vive em domicílios com renda familiar de até R$ 39 mensais por pessoa. São os mais miseráveis entre 16,267 milhões de miseráveis - quase a população do Chile - contabilizados pelo governo federal na elaboração do programa Brasil sem Miséria. Lançado no dia 3 de maio como principal vitrine política do governo Dilma Rousseff, o programa visa à erradicação da miséria ao longo de quatro anos.
Roberto Pereira/AE
Roberto Pereira/AE
Cenas da miséria. Casa de família em Manari (PE), onde houve evolução da renda familiar
Veja também:link ESPECIAL: O mapa da misérialink ‘É o núcleo duro da pobreza’, diz secretárialink Desigualdade de renda entre cidades cai 32%link Santana de Parnaíba tem a maior desigualdade
Dados do Censo 2010 recém-divulgados pelo IBGE que municiaram a formatação do programa federal oferecem uma radiografia detalhada da população que vive abaixo da linha de pobreza extrema, ou seja, com renda familiar de até R$ 70 mensais por pessoa - que representam 8,5% dos 190 milhões de brasileiros.
A estimativa dos que sobrevivem com até R$ 39 mensais per capita é a soma dos 4,8 milhões de miseráveis que moram em domicílios sem renda alguma e 5,7 milhões de moradores em domicílios com rendimento de R$ 1 a R$ 39 mensais. Estima-se que outros de 5,7 milhões vivem com renda entre R$ 40 e R$ 70 mensais por pessoa da família.
Os números calculados pelo Estado são aproximados e levam em conta o número médio de 4,8 moradores por domicílio com renda familiar entre R$ 1 e R$ 70 mensais.
Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento Social com base no Censo 2010, há 4 milhões de domicílios miseráveis no País. Em 1,62 milhão desse total vivem famílias que não têm renda. Em 1,19 milhão de moradias a renda familiar é de R$ 1 a R$ 39 mensais per capita e em outro 1,19 milhão as famílias vivem R$ 40 a R$ 70.
Além da baixíssima renda, os extremamente pobres têm em comum o fato de viverem em domicílios com pelo menos um tipo de carência por serviços básicos, como energia elétrica, abastecimento de água, rede de saneamento ou coleta de lixo.
Ranking. O Estado com o maior número absoluto de miseráveis é a Bahia, onde estão 2,4 milhões, ou 14,8% da população extremamente pobre. Os baianos miseráveis são 17,7% dos habitantes do Estado.
No Maranhão, no entanto, está a maior proporção de miseráveis. Um em cada quatro moradores vive com renda familiar per capita entre zero e R$ 70 - um total de 1,7 milhão de pessoas, que representam 25,7% da população.
Seis Estados (PA, MA, CE, PE, BA e SP) têm, cada um, mais de 1 milhão de moradores em extrema pobreza. Juntos, eles concentram 9,4 milhões de miseráveis, ou 58% do total.
São Paulo. Estado mais populoso do País, São Paulo tem 1,084 milhão de pessoas que vivem em domicílios em situação de pobreza extrema - o que representa só 2,6% do total de habitantes.
A pesquisadora Lena Lavinas, do Instituto de Economia da UFRJ, especializada no estudo da pobreza, acredita que em um ano seja possível "alcançar as pessoas que, embora indigentes, ficaram de fora do programa Bolsa Família". "O importante é que não haja cotas ou limites para os municípios. Todas as pessoas devem ser cobertas."
"Isso vai funcionar melhor ou pior dependendo da competência dos municípios e da capacidade de articulação dos Estados", afirma. A economista lembra que outra etapa do Brasil sem Miséria será suprir carências das famílias como acesso a serviços básicos e à educação. "Essa dinâmica toma mais tempo, é um processo mais longo", afirmou.
Para calcular a renda média das famílias extremamente pobres, o IBGE levou em conta apenas as que têm algum tipo de rendimento, entre R$ 1 e R$ 70. Essa população tem renda familiar média de R$ 40,70 mensais - uma longa distância de mais de R$ 30 para, segundo os critérios do governo, passar de miserável a pobre (renda familiar per capita de R$ 71 a R$ 140 mensais).
A contagem feita em 2010 aponta a existência de agrupamentos de moradias miseráveis mesmo nas cidades em que a população tem alta renda.
São José do Rio Preto (SP) é um exemplo. Embora a renda familiar média seja de R$ 1.161,86 mensais por pessoa, há lá um conjunto de 867 domicílios extremamente pobres em que a renda média dos moradores é de apenas R$ 18,83 mensais per capita.
Grandes capitais como Rio de Janeiro e São Paulo, com alta renda média da população, também registram grupos de famílias com baixíssima renda.
Entre 20.075 famílias paulistanas na faixa de extrema pobreza, o rendimento médio domiciliar era de R$ 43,08. Há 101 mil miseráveis (com renda entre R$ 1 e R$ 70, excluídos os que não têm renda) na capital (0,9% da população). Em números absolutos, é a maior concentração de pessoas extremamente pobres do País. 


Custo Brasil não deixa PIB dobrar

Estudo indica que sem problemas de infraestrutura e a elevada carga tributária, PIB per capita iria de US$ 10 mil para US$ 21,6 mil  
18 de junho de 2011 | 16h 31


Autoria: Márcia De Chiara, de O Estado de S. Paulo

SÃO PAULO - O Brasil poderia mais que dobrar o Produto Interno Bruto (PIB) por habitante, dos atuais US$ 10 mil para US$ 21,6 mil, e atingir níveis de países como Coreia do Sul e Portugal, se reduzisse as ineficiências que tiram a competitividade do País, aponta estudo da LCA Consultores.
"Falta de infraestrutura e complexidade do sistema tributário, que exige 2.600 horas por ano das empresas só para pagar impostos, dividem o primeiro lugar no pódio dos principais obstáculos para ampliar a competitividade", diz o economista responsável pelo estudo, Bráulio Borges.
Para chegar a essa conclusão, Borges identificou, com base em análises estatísticas, quais são os fatores cruciais para o deslanche da competitividade e constatou seis pontos fracos que pesam no PIB per capita.
Além da conhecida falta de infraestrutura, estão nesse rol o tempo gasto pelas empresas para pagar impostos, a carga tributária sobre o lucro das companhias, o tempo para fazer valer o cumprimento dos contratos, o custo para exportar e o tempo para lidar com licenças em geral.
O economista explica que, para calcular o PIB per capita "perdido" pelo Brasil, levou em conta informações disponíveis do Banco Mundial, do Fundo Monetário Internacional e do Fórum Econômico Mundial para um grupo de 131 países. Concluiu que, se o Brasil tivesse indicadores para esses seis quesitos equivalentes à media desse grupo de países, conseguiria agregar US$ 11,6 mil ao PIB per capita anual.
Tempo. As 2.600 horas por ano que as empresas brasileiras gastam para cumprir o rito da burocracia no pagamento de impostos faz do País o campeão mundial nesse quesito, ante uma média 284 horas para esse grupo de 131 países. Essa ineficiência reduz em US$ 8,1 mil o PIB per capita do Brasil em relação à média dos 131 países, destaca Borges.
Apesar de não ter essa ineficiência traduzida em números, as empresas sentem na prática o impacto da burocracia. A fabricante de autopeças Bosch, por exemplo, tem dois departamentos só para isso, conta a gerente de tributos da empresa, Sheila Pieroni. No departamento tributário, 11 funcionários acompanham diariamente com lupa as mudanças na legislação nos 27 Estados brasileiros para adequar o sistema de recolhimento de impostos da companhia às mudanças.
"Sendo bem otimista, saem dez novas legislações por dia nas quais são alteradas as formas de tributação do produto", conta a advogada. Ela diz que o trabalho aumentou depois da implantação da substituição tributária, sistema que atribui aos fabricantes a responsabilidade pelo pagamento do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) devido pelo seu cliente. "Antes acompanhávamos a legislação de três Estados, onde estavam localizadas as fábricas."
Além do departamento tributário, a empresa tem um departamento fiscal. É uma equipe de quase 50 pessoas encarregadas de apurar os tributos. Sheila conta que uma mesma informação - por exemplo, o valor recolhido de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) - é remetida à Receita Federal de quatro formas diferentes: eletronicamente, por meio do Sistema Público de Escrituração Digital (Sped); em papel, que é a nota fiscal; na Declaração de Tributos Federais, que é mensal e na declaração de Imposto de Renda, anual.
O excesso de burocracia pesa também no Grupo Orsa, um dos gigantes do setor de embalagens de papelão. Sergio Amoroso, presidente do grupo, diz que tem pelo menos 30 pessoas nas áreas contábil, de controladoria e jurídica só para cuidar da burocracia. "Poderia ter meia dúzia de pessoas se fosse outro país. É gente que é paga para cumprir o custo burocrático do Estado ineficiente", afirma.
O empresário cita como exemplo de ineficiência o fato de a sua empresa ter de manter um hospital, o serviço de bombeiros, de abastecimento de água e de coleta de lixo em Monte Dourado, distrito de Almeirim, no norte do Pará, na divisa com o Amapá, onde a companhia tem uma fábrica de celulose.
Licenças. Outro ponto que impacta negativamente a competitividade do País é o tempo para lidar com licenças em geral. De acordo com o estudo, são 411 dias no Brasil, ante 210 dias, que é a média dos 131 países.
"Há licenças no Brasil que são absurdas", diz Amoroso. Para ilustrar a afirmação, ele conta o caso do linhão que vai levar energia elétrica da usina de Tucuruí, no Pará, até Macapá, no Amapá. Segundo o empresário, a empresa que ganhou a licitação conseguiu a licença do Ibama para fazer a limpeza da área. Agora é preciso outra licença para transportar a madeira. "Olha o absurdo: falta uma licença de algo que já está autorizado."
Profissionais que lidam diretamente com a questão das licenças ambientais admitem que um "cipoal" de exigências e a falta de definição de áreas de competências entre os organismos públicos atrasam as liberações. Mas eles ponderam que grande parte dos estudos ambientais não tem a atualidade necessária para atender aos projetos, na maioria das vezes complexos.




Novas usinas hidrelétricas sem reservatórios deixam sistema vulnerável às condições climáticas

Novas usinas deixam sistema vulnerável

Hidrelétricas sem reservatório reduzem nível de armazenamento de água no sistema elétrico, o que pode ter reflexo em períodos de seca
19 de junho de 2011 | 0h 00


autoria: Renée Pereira - O Estado de S.Paulo
A construção de mega hidrelétricas, como Belo Monte, Jirau e Santo Antônio, elevará a potência instalada do Brasil, mas não vai alterar a capacidade de armazenamento de água no sistema. Para reduzir os impactos ambientais, as novas usinas estão sendo construídas a fio d"água, sem reservatórios. Na prática, isso significa ter um sistema mais vulnerável às condições climáticas e mais complexo do ponto de vista de operação.
É o que mostra o estudo Energia e Competitividade na Era do Baixo Carbono, elaborado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). De acordo com o trabalho, a capacidade do sistema hidrelétrico de estocar água no período úmido para suportar o período seco cairá dez pontos porcentuais até o fim da década, de 41% para 31%.
Segundo a CNI, no passado, os reservatórios conseguiam aguentar até dois anos com períodos secos mais severos. Hoje, esse tempo está na casa de um ano, e tende a piorar com as usinas em construção e o aumento do consumo interno. Até 2007, a relação entre o tamanho dos reservatórios e a potência das hidrelétricas era de 0,51 quilômetros quadrados (km²) por megawatt (MW). Nas novas usinas, esse número é de 0,06 km²/MW.
"Sem reservatórios, não aproveitamos todo o potencial hídrico do País. Só aproveitamos as quedas d"água. Quem vai pagar é a sociedade", avalia o vice-presidente da CNI, José de Freitas Mascarenhas. Ele destaca o caso de Belo Monte, que terá capacidade de 11.233 MW, mas vai gerar 4.571 MW médios. No período chuvoso, a usina produzirá na capacidade máxima. Mas, na seca, a produção poderá cair para meros 690 MW médios por causa da falta de reservatório.
A usina vai gerar conforme o regime hidrológico da região. Para se ter ideia, a quantidade de água no mês mais úmido do Rio Xingu é 25 vezes maior do que no mês mais seco, segundo a CNI.
A solução para contornar o problema, que foi criado para resolver outro problema (dos impactos ambientais), é diversificar as fontes de energia, avalia o professor da UFRJ, Nivalde Castro. Hoje, 75% da matriz brasileira é hídrica e 15%, térmica. O restante vem de usinas eólicas, nucleares, de biomassa e de pequenas centrais hidrelétricas (PCH). Para Castro, o Brasil não pode renunciar às hidrelétricas, mesmo que elas sejam construídas sem reservatórios.
Ele acredita que o caminho do governo de apostar na energia eólica e bioeletricidade para complementar o sistema é positivo. No Nordeste, onde está o maior número de projetos eólicos, o período seco coincide com o maior volume de ventos. Já no Sudeste, a safra de cana ocorre no período de estiagem, que reduz o nível dos reservatórios. Essa lógica está traduzida no Plano Decenal 2011/2020. No planejamento, as fontes alternativas vão alcançar 16% da matriz até o fim da década. Mas há quem discorde. Afinal, essas fontes também dependem de condições climáticas.