quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

COPA 2014 – O ESTÁDIO DO MINEIRÃO E DIRETRIZES DE SUSTENTABILIDADE NA PRIMEIRA COPA VERDE DO MUNDO


COPA 2014 – O ESTÁDIO DO MINEIRÃO E DIRETRIZES DE SUSTENTABILIDADE NA PRIMEIRA COPA VERDE DO MUNDO




fonte: http://cbic.org.br/sites/default/files/Artigo%20copa%202014.pdf


Autoria: Alyne Ferreira Guedes (1); Ana Carolina de Oliveira Veloso (2); Ana Cecília Moreno (3); Marianna Costa Mattos (4); Roberta Vieira Gonçalves de Souza (5)

(1) e (2) Arquitetas, mestrandas em Ambiente Construído e Patrimônio Sustentável;

(3) e (4) Arquitetas, especialistas em Sustentabilidade e alunas eletivas do mestrado em Ambiente Construído e Patrimônio Sustentável;

(5) Profa. Dra. do Departamento de Tecnologia da Arquitetura e do Urbanismo da Escola de Arquitetura da UFMG, Coordenadora do mestrado em Ambiente Construído e Patrimônio Sustentável.

Universidade Federal de Minas Gerais, Escola de Arquitetura,

Programa de Pós-graduação em Ambiente Construído e Patrimônio Sustentável.

1. INTRODUÇÃO

Estamos presenciando uma época importante e decisiva na mudança de paradigma da arquitetura, por meio da busca pela sustentabilidade e de sistemas tecnológicos inovadores que geram desempenho e mais autonomia aos edifícios. A Copa de 2014, que será realizada no Brasil, possui a finalidade de referenciar este grande acontecimento como a primeira “copa verde” do mundo com a recomendação de que todos os estádios estejam em conformidade com a certificação Leed – Leadership in Energy and Environmental Design.

A Copa do Mundo teve início em 1872, com amistosos entre as comunidades britânicas. Em maio de 1904 foi criada a FIFA – Federação Internacional da Associação do Futebol, a qual começou a traçar diretrizes para os eventos que fossem realizados. Nesta época, a FIFA contava com sete países associados: França, Bélgica, Dinamarca, Holanda, Espanha, Suécia e Suíça. Hoje são mais de 213 países presentes nesta associação. Em 2007 foi publicada pela Federação a 4° Edição do Manual de Especificações Técnicas para Estádios de Futebol, a qual será utilizada para subsidiar as prioridades de projeto e planejamento da Copa de 2014. Neste Manual constam exigências como: decisões de pré-construções referentes às dimensões mínimas e capacidade de público; orientação do campo, bem como a área do jogo relativo ao tamanho, à grama, às arquibancadas; orientação das tribunas para mídia; diretrizes para segurança pública, conforto e hospitalidade; localização dos estacionamentos, vestiários e acessos; diretrizes referentes à energia e iluminação e também o Green Goal, que é um programa com foco na sustentabilidade, voltado para a redução das emissões de CO2 em seus eventos.

Ao relacionar as datas de surgimento da Copa do Mundo e do conceito de sustentabilidade, é possível refletir se este momento, em que se busca a inserção da sustentabilidade em uma Copa do Mundo, é realmente inédito, visto que não é um assunto recente, assim como a Copa não é um episódio novo, como já foi referenciado.

Em 1987 surgiu através do Relatório Brutland – intitulado também como Nosso Futuro Comum (Our Common Future) – a idéia de desenvolvimento sustentável o qual foi conceituado como sendo "o atendimento das necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem as suas próprias necessidades". A partir daí, foi ampliando diretrizes para adoção deste conceito através de conferências e outros documentos importantes como o Protocolo de Quioto, elaborado em 1997 com exigências mais rígidas relativas ao efeito estufa e ao aquecimento global. Todavia, a idéia de sustentabilidade atual deve considerar três abordagens fundamentais as quais devem ser levadas em conta para que de fato seja concretizada esta idéia: a esferas social, econômica e ambiental, de modo que projetos sustentáveis devem dar garantias de atendimento a todos os grupos humanos, sem distinção social e valores culturais, assim como deve ser viável economicamente e, em especial, preservar a biodiversidade de os recursos naturais, buscando o mínimo de impacto ao meio ambiente.

O LEED, que constitui o selo de certificação para edifícios sustentáveis está sendo recomendado pela FIFA para que todos os estádios estejam aptos à adoção do mesmo. Este selo foi criado, no

ano de 2000, pela U.S. Green Building Council (USGBC), uma organização sem fins lucrativos criada nos Estados Unidos e com representação em diversos países. Por ser um selo de reconhecimento internacional, o mundo todo poderá ter o conhecimento das técnicas sustentáveis e da eficiência dos estádios. A idéia principal da certificação é a busca por medidas construtivas mais sustentáveis determinadas através de critérios como: localização, inovação e processo do projeto, eficiência no uso da água e no tratamento de esgoto, redução no consumo de energia com o uso de fontes renováveis, o uso de materiais e recursos e a qualidade do ambiente interno.

2. A MODERNIZAÇÃO DO ESTÁDIO MINEIRÃO

A proposta para a modernização do Estádio do Mineirão (estádio Governador Magalhães Pinto) em Belo Horizonte segue as recomendações da FIFA para a criação das Ecoarenas, que seria os estádios ecológicos/verdes. A idéia é que, assim como o Mineirão, todos os estádios brasileiros sejam construídos de forma a causar o menor impacto ambiental possível, sem desperdício de materiais e com maior eficiência energética.

A proposta do arquiteto Gustavo Penna foi qualificar o diálogo com a paisagem cultural da região e integrar o projeto ao conjunto Urbanístico-Arquitetônico da Lagoa da Pampulha. As várias soluções sustentáveis que foram pretendidas foram com o intuito de minimizar o impacto do edifício no meio ambiente, tais como: implantação de painéis fotovoltaicos na cobertura, reaproveitamento de água pluvial, sistemas eficientes de iluminação e condicionamento de ar, utilização prioritária de materiais certificados e regionais, dentre outros que serão explicitados no próximo item.

3. CRITÉRIOS DE SUSTENTABILIDADE

3.1. Prevenção da poluição nas atividades de construção

A maioria das atividades de uma obra provoca poluição, através da emissão de materiais particulados (poeira, fumaça, fumo e névoa) e de outros gases poluentes, como o CO2 (gás carbono) e o SO2 (dióxido de enxofre), que estão presentes em atividades desde a terraplanagem até a execução de acabamentos. Segundo Resende (2007), a “movimentação de terra e os processos de quebra, corte e perfuração, são grandes fontes potenciais geradoras de poluição", bem como o armazenamento e o transporte inadequado dos materiais. Entretanto, técnicas simples podem conferir um efeito satisfatório na prevenção de poluentes e na qualidade do ar e do solo, durante e após a execução.

Uma das técnicas é a reciclagem ou o reaproveitamento dos materiais utilizados na obra e, em casos de demolição, é importante o uso de uma barreira física e a aspersão com água durante o processo, minimizando a emissão da poeira e outras partículas poluentes. A transferência da terra da retroescavadeira para caçambas dos caminhões deve ser feita a uma altura menor, a fim de reduzir a quantidade de poeira que é dissipada no ambiente. A lavagem dos pneus dos caminhões antes de sair do canteiro de obra também evita a poluição, pois a lama deixada pelas ruas, ao secar, é levada pelos ventos entrando em contato com a atmosfera. (Resende, 2007)

Impedir a erosão do solo que ocorre devido aos desgastes do terreno receptor das atividades de construção, também é uma das formas de prevenir a poluição. O terreno natural contém matéria orgânica, nutrientes e a biodiversidade de micróbios e insetos, os quais controlam as enfermidades e pragas e conferem um equilíbrio na vida vegetal, além de regular a drenagem da água. Contudo, a ação das chuvas e o freqüente tráfego de veículos durante a execução da obra favorecem o enfraquecimento do solo causando o assoreamento e a perda de todo o equilíbrio vegetal contido no mesmo. Este fato pode restringir a viabilidade de plantios futuros, demandando o aumento de fertilizantes, irrigação e pesticidas, os quais, levados pela ação das chuvas, podem causar a poluição dos rios e lagos, próximos à edificação. De acordo com Daniela Corcuera, arquiteta auditora das certificações Acqua e Leed, uma forma eficaz de evitar esta poluição é plantar uma gramínea de rápido crescimento durante as atividades de construção, que irá preservar o terreno natural e o equilíbrio vegetal do mesmo. Além da gramínea pode-se utilizar

“cascas de árvores, pedriscos, palha ou mantas plásticas para cobrir e reter o solo”.1

3.2. Gestão de resíduos da obra

Atualmente existe o projeto de gerenciamento de resíduos em obras com grandes percentuais de entulhos, o qual é formalizado conforme a Resolução CONAMA n° 307, através de um documento escrito e apresentado, junto com o projeto da edificação, ao órgão competente a esta exigência. Segundo os profissionais do SindusCon-SP, esta atividade deve integrar os seguintes agentes, os quais irão participar deste processo que acontece dentro e fora do canteiro de obra, são eles: o órgão público municipal (responsável pelo controle e fiscalização); os geradores de resíduos (responsáveis pela observância dos padrões previstos na legislação específica); e os transportadores (responsáveis pela destinação aos locais licenciados). Este processo de gestão requer uma seqüência de atividades – planejamento, implantação e monitoramento – que irá subsidiar o trabalho e todo o controle dos resíduos internos e externos à obra. Dentre as atividades é fundamental que haja a remoção e destinação dos resíduos, bem como a reutilização e reciclagem dos materiais possíveis de tais ações, a triagem através da coleta seletiva em quatro classes estabelecidas, a garantia do confinamento até o transporte, e por fim a manutenção e acompanhamento acerca de resíduos perigosos. Segundo a Resolução CONAMA n° 307, as quatro classes de resíduos da construção civil citadas acima são os resíduos recicláveis como agregados (componentes de pavimentações, componentes cerâmicos e peças pré-moldadas); recicláveis com outras destinações (plásticos, papéis, metais, vidro, madeiras e outros); resíduos perigosos e não recicláveis.

A gestão de resíduos possibilita aspectos positivos dentre os quais estão a redução do desperdício, o reaproveitamento dos resíduos dentro da obra, a limpeza e organização dos canteiros e a redução dos riscos de acidentes de trabalho. Dentre os aspectos críticos pode-se destacar o treinamento de mão-de-obra, o atendimento insatisfatório das empresas de coleta, o controle de registro da destinação dos resíduos e o comprometimento com estas atividades até o final da obra.

3.3. Priorização do uso de materiais regionais, com conteúdo reciclado

A utilização de materiais regionais gera um benefício ambiental, bem como social e econômico. Tal prática estimula o desenvolvimento regional devido à demanda de trabalho e à movimentação da economia local; dispensa o longo transporte para a entrega dos materiais, reduzindo a emissão de poluentes e CO2; reduz o desperdício; e, na maioria das vezes, é mais barato pela produção contígua ao local da obra.

Grande importância se dá igualmente aos materiais recicláveis e/ou reciclados, os quais viabilizam a utilização racional dos recursos naturais, garantindo a permanência e disponibilidade destes por mais tempo.

No entanto, alguns pré-requisitos são balizados pelo Green Building Council Brasil (LEED), como a distância entre o local da obra e o fornecedor em um raio máximo de 800Km e também a utilização de no mínimo 10% de materiais sustentáveis na edificação.

A adoção pelos reciclados não precisam, necessariamente, partir externamente à obra, de modo que os próprios resíduos gerados na mesma podem ser reaproveitados ou reciclados. Estes resíduos são decorrências de atividades de demolição e quebra ou de desperdícios gerados no canteiro de obras. Alguns exemplos de materiais residuais em construções são o concreto, estuque, telhas, metais, madeira, gesso, aglomerados, pedras, carpetes entre outros. Porém, segundo Informativo Recicloteca (1999), os materiais a serem reciclados “devem ser submetidos a uma avaliação do risco de contaminação ambiental, possível de ser ocasionada durante o ciclo de vida do material e após sua destinação final”2. Entulhos de obras podem ser reaproveitados também em obras de infra-estrutura urbana como pavimentação de estradas e vias de acesso.

1 http://www.casaconsciente.com.br/pdf/prevencao_poluicao_construcao.pdf

2 Disponível em: Acesso em 29 Nov. 2010.

Em Belo Horizonte cerca de 50% de resíduos coletados diariamente é advindo da construção civil. Devido a isto, a Superintendência de Limpeza Urbana de Minas Gerais (SLU) implantou alguns postos de reciclagem para reduzir pontos clandestinos de descartes e aumentar a vida útil dos aterros sanitários. Esta iniciativa estimula a utilização destes reciclados, principalmente no setor da construção civil e reduz o impacto que a grande quantidade de resíduos causa ao meio ambiente e à infra-estrutura urbana.

No projeto do Mineirão para a Copa de 2014, “os resíduos gerados nas primeiras demolições (concreto armado, alvenaria, blocos e argamassa), estão sendo usados na construção de rampas de acesso ao interior do estádio para as máquinas” 3 e até mesmo em outras obras de infra-estrutura de Belo Horizonte. O concreto resultante da demolição de parte do estádio, na obra de “retrofit” será encaminhada para a Usina de Reciclagem da Prefeitura de Belo Horizonte com o objetivo de aproveitar este concreto reciclado na construção de passeios, calçamento de ruas e como base para a aplicação do asfalto. Já a terra retirada para o rebaixamento de três metros do estádio (68,8 mil metros cúbicos de terra) será aproveitada na requalificação do Ribeirão Arrudas, que será executada pelo DEOP – Departamento de Obras Públicas do Estado de Minas Gerais.

Outra medida de reaproveitamento será realizada pelos assentos das arquibancadas, dos quais 80% serão doados para cinco estádios diferentes no estado de Minas gerais. A grama também será reaproveitada num projeto social do Governo do Estado para jovens, o PlugMinas.

3.4. Conforto térmico e ventilação natural

A condição de conforto térmico é função da atividade desenvolvida pelo indivíduo, seu metabolismo, sua vestimenta, sua adaptação climática e das variáveis do ambiente, como temperatura e umidade. É papel da arquitetura considerar tais variáveis na concepção de um edifício, garantindo ambientes que sejam adaptados à zona bioclimática onde se inserem. Isso significa otimizar as condições de conforto do edifício por meio de estratégias de projeto, adequando-os aos condicionantes climáticos locais.

Num cenário de crescente preocupação com a sustentabilidade, a utilização da ventilação natural é um aliado para o alcance da eficiência energética. É um sistema passivo para conforto térmico, que pode evitar o uso do ar-condicionado, reduzindo a temperatura percebida, em função da evaporação do suor da pele e trocas convectivas entre a corrente de ar e o corpo humano.

É importante ressaltar que há distinção do que é termicamente aceitável em ambientes climatizados e ventilados naturalmente. Segundo Figueiredo e Frota (2008), o usuário tolera maiores flutuações nas condições ambientais se tiver maior controle sobre elas.

A ventilação natural é essencial para a configuração de ambientes saudáveis, por manter a qualidade interna do ar. De acordo com Frota e Schiffer (1999), "A ventilação natural é o deslocamento do ar através do edifício, através de aberturas, umas funcionando como entrada e outras, como saída". Sendo assim, a dimensão e posição das aberturas devem ser adequadas para propiciar um fluxo de ar no ambiente e renovações constantes.

A adoção desses sistemas passivos de conforto térmico desde a concepção inicial do projeto é uma das formas para se obter um melhor desempenho térmico da edificação. Com isso, fará com que reduza o consumo de energia com a utilização do sistema de ar dentro das galerias e cabines do Estádio do Mineirão.

3.5. Sistemas de iluminação mais eficientes e de menor impacto ambiental

A qualidade da luz é decisiva, tanto no que diz respeito ao desempenho das atividades, quanto à influência que exerce no estado emocional e no bem-estar dos seres humanos.

A adequação de dimensionamento e forma de aberturas deve garantir o melhor aproveitamento da iluminação natural. Complementando ou substituindo-a, quando necessário, a iluminação

3 Disponível em: Acesso em 22 Nov. 2010.

artificial deve ser utilizada para que se atinjam níveis adequados, de acordo com a tarefa desenvolvida em determinado ambiente.

Alguns recursos podem ser utilizados para tornar o sistema de iluminação mais eficiente, reduzindo a potência instalada. A pintura das paredes e mobiliário de cor clara, por exemplo, aumenta a refletância do ambiente. Superfícies capazes de modificar a distribuição ou a intensidade da luz, como refletores presentes em luminárias, otimizam sua ação. A utilização da potência instalada pode ser reduzida, ainda, pela divisão do sistema de iluminação em circuitos de acionamento independente.

O retrofit de prédios antigos como o Mineirão, com a substituição de seus sistemas por outros com tecnologia mais avançada e baixo consumo é também um grande fator de economia. Lâmpadas fluorescentes, por exemplo, são mais eficientes e emitem menos calor que as incandescentes, reduzindo também a necessidade de condicionamento do ar. Lâmpadas LED geram economia ainda maior e possuem grande ciclo de vida, reduzindo o descarte de materiais.

A automação predial, que proporciona funcionalidades sem intervenção do usuário, traz conforto e segurança, além de garantir o uso mais racional dos recursos. Equipamentos como variadores de luminosidade, sensores de presença, detectores de obstáculos e sensores de luz natural contribuem para a eficiência energética.

Com todos estes recursos, é importante que o usuário receba treinamentos pré-ocupação, no sentido de saber controlar os recursos disponíveis e, o que é mais importante, conhecer sua condição de conforto e se conscientizar da importância da utilização racional dos recursos.

3.6. Medição de energia setorizada

Para que os sistemas de energia alternativa e o da energia vinda da concessionária sejam bem empregados, eles devem ser operacionalizados pra que o se obtenha um bom desempenho do sistema. Verificar e certificar que esses sistemas empregados na área de energia estão instalados, calibrados e com as características de desempenho conforme o especificado é um controle feito pelo comissionamento do edifício. É através dele que se controla os sistemas de:

• Aquecimento, Ventilação, Ar Condicionado e Refrigeração (mecânicos e passivos), assim como os seus respectivos sistemas de controle;

• Iluminação e seu respectivo sistema de controle;

• Sistemas de Água Quente (para uso doméstico);

• Sistemas de Energia Renovável (eólica, solar, etc.).

Os benefícios do comissionamento para as edificações, principalmente para o Estádio do Mineirão, incluem a redução do consumo de energia, custos operacionais menores, menor quantidade de chamadas aos instaladores para reparos/ correções, melhor documentação e melhoria na produtividade dos usuários. Assim, com esse gerenciamento da energia pode-se identificar as estratégias de redução de custos e as oportunidades de melhoria de desempenho do sistema.

De acordo com a equipe do LEED para a regionalização no Brasil (2009), “O conceito de comissionamento no Brasil ainda não está bem definido e normalmente é confundido com as atividades de fiscalização do projeto ou inspeção. (...) Além disso, é importante que a atividade de comissionamento seja vista como uma atividade de qualificação de todo o processo (incluindo o projeto e a instalação), tendo como referência a expectativa do Proprietário.”

3.7. Painéis fotovoltaicos na cobertura

Para suprir a demanda extra de energia devido a Copa do Mundo, com os hotéis e os jogos realizados no Mineirão, a CEMIG em parceria com a empresa GMP, propôs o projeto do Mineirão Solar – que será uma usina fotovoltaica, aproveitando a cobertura do estádio para gerar, entregar e comercializar a energia elétrica via rede de distribuição da empresa. Segundo Rüther (2004), “do ponto de vista da eficiência energética, estes sistemas podem ser considerados bastantes ideais,

visto que geração e consumo de energia têm coincidência espacial minimizando assim as perdas

por transmissão comuns aos sistemas geradores centrais tradicionais”.

O potencial da energia solar fotovoltaica no Brasil é muitas vezes superior ao consumo total de

energia elétrica no país (RUTHER, 2004). O grande obstáculo sofrido para a implantação de

coberturas geradoras de energia nos estádios da Copa do Mundo de 2014 está no custo de

instalação e manutenção dos painéis fotovoltaicos, que são superiores ao da energia

convencional da hidroeletricidade.

Geller (2003) destaca como barreira ao uso de energia renovável, a limitada infra-estrutura de

fornecimento. A produção de várias tecnologias de energia renovável ainda não são

suficientemente grandes para obter economia de energia em grande escala. “Módulos solares

fotovoltaicos, por exemplo, ainda apresentam custos de tal magnitude que a demanda é

relativamente pouco flexível e limitada a um pequeno número de aplicações específicas, apesar

de estarem se intensificando esforços para amplamente promover e instalar sistemas

fotovoltaicos.” (Oliver e Jackson at Geller)

FIG 01: Potencial de energia a ser gerada no Mineirão – Belo Horizonte - MG

Fonte: http://www.copa2014.org.br/ e modificado pelos autores

De acordo com Salamoni (2009), considerando a dimensão do território brasileiro, a diversidade

de recursos disponíveis e a composição atual da matriz energética, a utilização da energia solar

Fotovoltaico deve ser analisada sob um critério de complementação e não de substituição das

fontes convencionais. Ou seja, de modo estratégico, deve-se entrelaçar as fontes renováveis e as

convencionais a custos competitivos, tentando atender, além do equilíbrio ambiental, a segurança

no fornecimento. Assim, a utilização dessa tecnologia para o evento da Copa do Mundo, evitará a

sobrecarga de energia da rede convencional e introduzirá em uma maior escala, fontes

alternativas de energia no Brasil.

3.8. O calor produzido pelos chillers (água quente) será utilizado para aquecer a água

potável dos chuveiros dos vestiários

Como uma forma alternativa de economia de energia, pretende aproveitar o calor produzido pelos

chillers utilizados nas tribunas e áreas vips do Estádio do Mineirão para aquecer a água potável

dos chuveiros e vestiários. Esse processo intitulado co-geração, consiste no aproveitamento local

do calor residual originado nos processos termodinâmicos de geração de energia elétrica, que de

uma outra forma seria desperdiçado.

Segundo Jannuzzi e Swisher (1997) “do ponto de vista energético, a co-geração reside nas altas

eficiências globais de conversão, da ordem de 75-90%, muito superiores àquelas alcançadas por

sistemas independentes de calor e potencia. Nesse sentido, a co-geração, pode ser entendida

como uma tecnologia energética eficiente e, do ponto de vista do sistema elétrico, como uma

opção de geração descentralizada, nos setores industrial e comercial”.

A vantagem de uso dessa tecnologia é que menos combustível fóssil é queimado para produzir a

Ocupação 46% na cobertura de policarbonato:

3456 módulos fotovoltaicos – 498 kWp de

energia gerada

Ocupação 48% na cobertura de laje de

concreto: 3614 módulos fotovoltaicos – 520

kWp de energa gerada

mesma quantidade de energia (elétrica + térmica), mas o que se deve sempre fazer é a viabilidade econômica do sistema, de modo que o ganho obtido na redução de custos venha a ser suficiente para propiciar retorno, em prazo compatível, ao investimento a ser realizado. Pois como afirma Jannuzzi e Swisher (1997), embora seja simples em seus princípios, a co-geração é uma tecnologia complexa dentro de um processo produtivo ou num sistema energético, em função das múltiplas funções associadas e dos interesses que podem ser afetados.

3.9. Eficiência no uso de água

Observa-se em diversos segmentos no cenário mundial grande e crescente preocupação em torno do meio ambiente no planeta evidenciados através de diversos problemas como a escassez de recursos naturais, poluição ambiental, insuficiência energética, elevação da temperatura global.

Neste contexto a água, vital a existência humana e manutenção do meio ambiente, é um dos recursos mais ameaçados. Isso indica que algo deve ser feito por meio da redução do consumo e de práticas autossuficientes seja pela mudança de atitudes ou pelo emprego de tecnologias inteligentes. A Agenda 21 (2001) sugere a gestão do uso da água e a procura por alternativas de abastecimento, tais como o aproveitamento das águas pluviais, a dessalinização da água do mar, a reposição das águas subterrâneas e o reuso da água como práticas que favorecem o desenvolvimento sustentável.

3.9.1. Redução no Consumo de Água potável para louças e metais

Segundo a ANA (2005), a maneira como a água é disponibilizada através dos metais, chuveiros, louças sanitárias e dispositivos hidráulicos estão entre os fatores determinantes no consumo total de água em uma edificação. Dessa forma, em um cenário que preconiza a redução no consumo de água como uma das práticas relevantes à sustentabilidade ambiental, existem séries destes equipamentos que tanto atendem as necessidades dos usuários como também favorecem o consumo racional da água nas atividades a que se relacionam.

No projeto do Mineirão para a Copa de 2014 está previsto o emprego destes equipamentos, dentre as práticas para uso racional da água. Nos quais, o mecanismo de funcionamento se baseia em dispositivos controladores da vazão de água e de fechamento automático.

Para tanto, as torneiras e duchas devem ser do tipo hidromecânica ou com sensor. Nas torneiras e duchas hidromecânicas este dispositivo é regulado em função da pressão no ponto acionado pelo usuário em uma válvula localizada na própria torneira ou no piso, em que é estabelecido um tempo para o ciclo de funcionamento. Nas que possuem sensor, o acionamento e ciclo de funcionamento se dá por um sensor que ao captar a presença é acionado e então mantido seu ciclo enquanto captar presença.

As bacias sanitárias podem requerer dispositivos para acionamento de descarga ou já serem de caixa acoplada, que requerem 6 litros para funcionamento da descarga (menos do que uma convencional). No entanto podem ser empregados dispositivos para acionamento da descarga que conferem economia de água, as válvulas “dual flush” e de sensor. As válvulas “dual flush” possibilitam dois tipos de acionamento, onde um resulta em um ciclo completo para descarga de efluentes sólidos e outro em meio ciclo somente para limpeza da bacia com efluentes líquidos. Este sistema pode ser empregado também nas bacias com caixa acoplada. As válvulas com acionamento por sensor de presença requerem que o usuário permaneça por um tempo no raio de alcance do sensor, para então o sistema ser acionado, e somente após a saída do usuário do raio de alcance é efetuada a descarga.

O emprego destes equipamentos ao longo do Mineirão é substancial para a gestão sustentável do empreendimento, visto que o consumo de água no estádio é uma das atividades mais impactantes ao meio ambiente ao longo do seu uso e operação.

3.9.2. Reutilização de Água Pluvial

O processo de reutilização das águas pluviais consiste na captação destas águas por meio de áreas de uma edificação como telhados e pátios de estacionamento, seguidos pelo armazenamento e tratamento para então serem destinadas ao consumo. Esta água pode ser destinada aos mais diversos fins em uma edificação, como irrigação de áreas verdes, torres de resfriamento de sistemas de ar condicionado, lavagens de pisos e descarga em bacias sanitárias.

Basicamente para implantação deste sistema deve ser feita um estudo acerca da pluviosidade do local, determinação da área a ser coletada e coeficiente de escoamento superficial, caracterização da qualidade da água, projetos dos reservatórios de descarte e armazenamento e estabelecimento do sistema de tratamento e distribuição (GOULARD,2010).

Segundo ANA (2005), o emprego de sistemas de captação de água de chuva é uma das práticas que mais viabilizam o uso racional da água em uma edificação. Dessa forma, no Mineirão será incorporada tecnologia para viabilizar a captação das águas de chuva no estádio por meio da cobertura, que será destinada a irrigação do campo e descarga nas bacias sanitárias e nos mictórios. Está água será armazenada em reservatório, onde serão conduzidas às unidades de tratamento para em seguida ser distribuída nas funções a que se destinam e para irrigação do lençol freático. O projeto do sistema prevê autonomia do sistema em relação a utilização de água potável ao longo de todo o ano.

Neste sistema o reservatório de armazenamento é o componente mais dispendioso do sistema de coleta e armazenamento, onde este deve ser dimensionado de forma criteriosa para que haja viabilidade. Com relação ao tratamento, este deve ser de acordo com o destino a que será utilizado a água. Para tanto, para os fins a que são comumente utilizadas, são empregados técnicas de tratamento que consistem de sedimentação simples, filtração simples, desinfecção com cloro ou luz ultravioleta.

A utilização deste sistema para captação e utilização das águas pluviais no estádio, favorecerá imensamente a racionalização do consumo de água no Mineirão e consequentemente a sustentabilidade. Pois, além de favorecer o ciclo natural da água no planeta, não gera o desperdício de água potável por meio de atividades que não necessitam.

3.10. Fácil acesso ao transporte público

Tem-se ao longo da maioria dos países, uma população tipicamente com urbana, instalada em torno instalada em torno de cidades e grandes centros, significando uma dependência intrínseca da vida humana ao ambiente edificado destas cidades (EDWARDS, 2004).

Dessa forma, é inerente que ao longo deste cenário haja um intenso fluxo de pessoas que necessitam se deslocar ao longo das cidades para a realização de suas atividades cotidianas. Na qual é necessária a utilização de meios de transporte como carros, barcos, metrô, ônibus, bicicletas para realizar este deslocamento devido às proporções da área edificada.

A conveniência mundial no quesito transporte é para as soluções que envolvam o transporte coletivo, devido a diversos motivos que vão desde a maior agilidade que confere ao sistema viário, menor no consumo de energia principalmente quando aliados à sistemas que empregam fontes alternativas, redução da emissão de gases poluentes entre outros.

Entretanto um dos grandes entraves à implantação de sistemas coletivos de transporte, enfrentados principalmente pelos países processo de desenvolvimento, como o Brasil, é a densidade e a forma como a malha urbana das cidades é estruturada. Em Belo Horizonte, é necessário que sejam realizados investimentos em infra-estrutura como o caso do metrô, políticas e programas de conscientização à população sobre os benefícios dos meios coletivos em detrimento do transporte particular e também em planos urbanísticos que visem o fácil acesso ao sistema.

Dentre as práticas requeridas para a viabilidade destes investimentos podemos destacar: implantação de metrôs e trens urbanos, eficiência no sistema de ocupação, adequação da paisagem urbana com implantação de ciclovias, eixos de deslocamento preferenciais para pedestres, melhor distribuição dos equipamentos urbanos na malha, conforto e segurança dos meios de transporte, acesso rápido e seguro aos pontos de embarque e desembarque e outros.

No entanto, o planejamento do sistema de transporte de Belo Horizonte em relação a Copa de 2014 e o Mineirão envolvem apenas estratégias de transporte terrestre, que privilegia o transporte por veículos automotores como carros e ônibus. Amplo pátio de estacionamento e reestruturação de uma das principais vias de acesso ao estádio, a Avenida Presidente Antônio Carlos, estão entre as práticas de viabilização do sistema de transporte. Pontos de ônibus serão viabilizados no entorno, porém de forma isolada, sem estreitar o acesso ao estádio. O transporte por meios alternativos também serão incentivados pela utilização de bicicletas e veículos de baixa emissão e consumo, porém em uma escala menor.

Neste contexto, ao se considerar o sistema de transporte como um todo nota-se que este está em desacordo com as práticas de sustentabilidade. O transporte por veículos automotores é grande consumidor de energia e emissor de gases poluentes na atmosfera. Além disso, tem-se a reestruturação de uma Avenida em detrimento a outras práticas mais viváveis do ponto de vista da facilidade ao acesso e da sustentabilidade.

4. CONCLUSÃO

Um empreendimento sustentável é aquele ecologicamente correto, economicamente viável, socialmente justo e culturalmente aceito. Não bastam soluções tecnológicas, sem que nestas estejam inseridas variáveis sócio-econômicas.

Portanto, vale refletir se a Copa de 2014 será verdadeiramente sustentável. Se, passados os eventos, os grandes estádios construídos de forma “sustentável” possibilitarão a continuidade da função social, através de seu uso pela comunidade, bem como a continuidade do latejo econômico.

Para o mundial de 2014, o objetivo é que as arenas sejam complementadas, reequipadas e revitalizadas. A conectividade urbana e a integração com a comunidade também devem ser garantidas. O País e as cidades-sede dos jogos, ao serem escolhidos, ratificaram um termo de compromisso com a FIFA, comprometendo-se a entregar as obras de mobilidade urbana antes do início da operação das arenas. Assim, deverá ser desenvolvido todo um aparato de infra-estrutura de transporte intraurbano, inter-regional e internacional.

Espera-se, portanto, que vários empreendimentos venham a reboque, como novos bairros, hotéis, edifícios de escritórios, equipamentos públicos, hospitais, shopping centers, entre outros. Configura-se, desta forma, o legado que o evento Copa 2014 pode deixar para o país.

A FIFA contribuiu para a realização da “Copa Verde”, ao apontar como extremamente aconselhável que as arenas busquem certificações ambientais. Embora a elaboração de um projeto sustentável não esteja necessariamente vinculada à certificação, a importância das certificações se dá no fato de permitir que toda a população identifique produtos que apresentem características desejáveis. Os projetos devem pautar-se por impactar o mínimo possível o meio ambiente durante a execução das obras e, principalmente, durante a operação das arenas.

Para promover a sustentabilidade, temos que mudar a direção de nossos olhares. Como disse Albert Einstein, “o mundo não vai superar sua crise atual usando o mesmo pensamento que criou essa situação”.

5. REFERÊNCIAS

ANA – Agência Nacional de Águas, Conservação e Reúso da Água em Edificações, Brasil, 2005.

CORCUERA, D. Arquitetura Sustentável: Prevenção da Poluição no Canteiro de Obras. Artigo disponível em: Acesso em 21 Nov. 2010.

CREA-MG. Sustentabilidade e eficiência energética no ambiente construído. Belo Horizonte, 2009. 51p.

EDWARDS, Brian. Guia básica de la sostenibilidad. Barcelona: GG, 2004. 120p.

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GOLDEMBERG, José; LUCON, Oswaldo. Energia, meio ambiente e desenvolvimento. São Paulo: EDUSP, 2008. 396p.

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COP-18, décima-oitava conferência do clima da ONU


03/12/2012 - 05h00

Conferência do clima pode sepultar extensão do Protocolo de Kyoto


GIULIANA MIRANDA
ENVIADA ESPECIAL A DOHA (QATAR)



A COP-18, décima-oitava conferência do clima da ONU, que acontece até o fim da semana em Doha, no Qatar, entra nesta segunda-feira (3) em sua fase decisiva ainda cercada de incertezas quanto ao principal objetivo do encontro: estabelecer uma extensão do Protocolo de Kyoto, hoje o único acordo internacional de proteção climática em vigor.
O panorama geral das negociações foi resumido pela secretária-executiva do evento, Christiana Figueres. Apesar de iniciar seu balanço da primeira semana da convenção de maneira otimista, ela admitiu que muita coisa inevitavelmente ficará de fora.
Karim Jaafar/AFP
Manifestantes pedem ação climática em Doha, no Qatar
Manifestantes pedem ação climática em Doha, no Qatar
"O que vier de Doha não será no nível de ambição que precisamos", resumiu Figueres sobre as negociações, que envolvem quase 200 países.
Diferentemente da COP-15, que aconteceu em Copenhague em 2009 e foi cercada de muita expectativa sobre um grande acordo global, a atual cúpula já nasceu um tanto morna.
No encontro do ano passado, em Durban, na África do Sul, os países "concordaram em concordar" com a criação de um pacto global de redução de emissões, que englobaria países ricos e pobres. O acordo, porém, ficou para começar a ser definido em 2015, para entrar em vigor até 2020.
Para não deixar o mundo sem nenhuma meta de redução de emissões de gases do efeito estufa, as partes optaram pelo prolongamento do Protocolo de Kyoto, que oficialmente deixa de valer no próximo dia 31.
Além de decidir até quando esse "puxadinho" do acordo valerá -- se até 2017 ou até 2020--, ficou para o encontro de agora a definição do quanto será reduzido nas emissões.
De qualquer maneira, o acordo já nasce com um alcance limitado. Só a União Europeia e a Austrália, responsáveis por cerca de 15% das emissões globais de carbono, concordaram em participar com ações concretas de redução de emissões do que já está sendo chamado, nos bastidores da COP-18, de "Kyotinho".
Em sua criação, em 1997, o protocolo comprometeu as nações desenvolvidas a reduzir suas emissões de gases-estufa em 5,2%, entre 2008 e 2012, em comparação aos níveis de 1990.
O acordo, porém, já foi criado com ausências importantes. Os EUA não ratificaram o pacto, e nações em desenvolvimento como China, Índia e Brasil, que hoje respondem por boa parte das emissões mundiais, não tinham metas imediatas.
Hoje, o maior impasse para a extensão é puxado por Rússia, Polônia e Ucrânia. Esses países emitiram menos do que poderiam na primeira fase de Kyoto e agora querem levar essas "sobras" no potencial de emissões, o chamado "hot air", para a segunda fase do acordo, o que desagrada boa parte dos negociadores.
Editoria de Arte/Folhapress
Canadá e Japão, que participaram da primeira etapa, já avisaram que não vão aderir ao novo período.
EFEITO DOMINÓ
Embora vá ter um alcance limitado, a extensão das metas de Kyoto é importante na construção do futuro pacto global para redução de emissões.
Especialistas temem que um fracasso nessa negociação influencie negativamente o futuro acordo, que ainda nem foi rascunhado, mas é ameaçado pela prioridade dada à crise econômica mundial.
Mesmo nesse cenário, a delegação brasileira chegou em clima de otimismo a Doha.
O negociador-chefe do Brasil, o embaixador Luiz Figueiredo Machado, disse que não há risco de a reunião terminar esvaziada.
"Impasses são comuns em negociações longas, com mais de duas semanas, como essa", afirmou.
"Nós acreditamos que a conferência de Doha vai abrir uma nova etapa nas negociações do clima. Essa vai ser uma COP importante, complexa. Há muita coisa importante sobre a mesa, inclusive as bases para o futuro protocolo que foi negociado em Durban", completou.
Na opinião de Carlos Klink, secretário de mudanças climáticas do Ministério do Meio Ambiente, o Brasil chegará à convenção com o "dever de casa" feito, apresentando "a menor taxa de desmatamento da história na Amazônia", divulgada na semana passada.
MÁS NOTÍCIAS
Enquanto o acordo não vem, a COP está sendo marcada pela divulgação de vários estudos pouco animadores sobre as condições gerais do planeta.
Dados preliminares da Organização Meteorológica Mundial indicam que 2012 deve se tornar o nono mais quente desde que as medições foram iniciadas, em 1850. E isso mesmo com a presença do La Niña, fenômeno que contribui para o resfriamento das temperaturas.
O documento destacou ainda o degelo recorde no Ártico e eventos extremos de seca e enchentes espalhados por todo o planeta. A temporada intensa de tempestades tropicais e furacões, incluindo o Sandy, que atingiu o Caribe e os EUA, também foi ressaltada.
Já o relatório "Climate Action Tracker", que analisou a eficácia das medidas para combater o aquecimento global, foi ainda mais pessimista. Praticamente todas as grandes nações emissoras, como China, EUA e Índia, tiveram suas medidas consideradas ineficientes. Desse grupo, apenas Coreia do Sul e Japão tiveram medidas classificadas como satisfatórias.
O desempenho do Brasil foi avaliado como "na média".

Substâncias orgânicas (ou não) em Marte


Substâncias orgânicas (ou não) em Marte



Local do solo marciano onde o jipe-robô Curiosiy escavou duas das amostras analisadas (Foto: Nasa/JPL)
O MISTÉRIO SOBRE A DESCOBERTA mais recente do jipe-robô Curiosity acaba de ser revelado. O solo da cratera onde a missão está sendo conduzida é complexo e possui compostos de cloro que podem (ou não) ter também carbono, elemento que é um dos ingredientes básicos dos seres vivos. Se isso for confirmado, será preciso avaliar ainda se esse carbono tem sua origem (ou não) em seres vivos.
Diante do grande entusiasmo com que o anúncio de hoje no congresso da União Geofísica Americana vinha sendo antecipado, a notícia com tantos poréns pareceu um pouco decepcionante. Na semana retrasada, o cientista-chefe do projeto, John Grotzinger, dissera que os resultados a serem apresentados iriam “entrar para a história”, e desencadeou especulação de que moléculas complexas de carbono poderiam ter sido achadas em Marte.
O anúncio de hoje não é um desmentido total da presença de carbono no planeta vermelho, mas os cientistas não sabem ainda se o elemento encontrado no instrumento de análises de amostras do jipe é mesmo marciano. Segundo Paul Mahaffy, cientistas responsável pelo instrumento, é possível que a pequena quantidade de carbono presente na amostra analisada tenha sido levada carregada da Terra até Marte pelo Curiosity.
Segundo o cientista, se o jipe conseguir seguir achando mais e mais carbono durante sua missão, a probabilidade de que seja um problema de contaminação diminui. Se o jipe eventualmente obtiver uma amostra com bastante carbono, será possível conduzir uma análise isotópica (para análisar o peso dos átomos de carbono), algo que ajudará a determinar se esses átomos tem origem biogência. O carbono estava presente em compostos clorados de metano —a mais simples molécula orgânica— que pode ser produzida de maneiras mais triviais. [Existe carbono na atmosfera de Marte na forma de CO2, mas a produção dessa molécula simples nada tem a ver com a existência de vida ou reações orgânicas mais complexas.]
Outra notícia interessante embutida na apresentação foi o encontro da evidência de mais água em Marte. Mesmo na região seca onde o Curiosity se encontra agora, a cratera Gale, havia moléculas de água isoladas, grudadas nos grãos de poeira analisados pelo jipe. O cloro visto nas amostras provavelmente saiu de perclorato, um composto de cloro reativo que poderia ser usado como fonte energia por seres vivos, apesar de normalmente ser algo tóxico.
Obrigado a desmentir os boatos de que o jipe tinha encontrado evidência de vida em Marte, Grotzinger afirmou que teve seu entusiasmo mal compreendido. “Aprendi que tenho de ter mais cuidado com aquilo que digo, e como digo”, afirmou. “Nós fazemos ciência na velocidade da ciência, mas hoje as coisas se espalham na velocidade do Instagram.”

Novo sistema de certificação de imóveis rurais.



Incra apresenta o novo sistema online de certificação de imóveis rurais

por Alexandre Scussel
14h34, 03 de Dezembro de 2012

http://mundogeo.com/blog/2012/12/05/incra-se-posiciona-sobre-novas-normas-para-certificacao-de-imoveis/



O presidente do Incra, Carlos Guedes, apresentou nesta sexta-feira (30/11) para o ministro do Desenvolvimento Agrário (MDA), Pepe Vargas, e para o vice-presidente executivo da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Fábio de Salles Meirelles Filho, o novo sistema de certificação de imóveis rurais.



Totalmente informatizada, a nova plataforma atenderá às demandas de regularização fundiária a partir da segunda quinzena de fevereiro de 2013. O sistema terá capacidade para recepcionar até 20 mil pedidos de certificação por mês. “Em 2013, iremos inaugurar uma nova era dentro do Incra, no que diz respeito à regularização de terras”, afirmou Guedes.



A informatização do processo integra um conjunto de ações promovidas pelo Incra para acelerar o processo de certificação de imóveis rurais no País. A iniciativa já contabiliza alguns resultados. No início do aprimoramento do processo, o órgão registrava 140 certificações, em sete meses. Com os esforços para tornar os procedimentos mais ágeis, o número passou para 262, em três dias. “O novo sistema de regularização fundiária irá desburocratizar e agilizar os processos de certificação de móveis rurais em todo o Brasil”, declarou Pepe Vargas.



Para Fábio de Salles Meirelles Filho, a sistematização dos processos deverá resultar na maior comercialização dos produtos da agricultura familiar. “A regularização fundiária é uma necessidade do país. Com ela, você passa a ter um conjunto de ações extremamente positiva para os agricultores rurais. Como, por exemplo, de você poder acessar o crédito, identificar sua propriedade – para os casos de importações e comercializações para grandes redes de supermercados, e tendo também a possibilidade de entrar nos programas de rastreabilidade, que são exigências internacionais. Os passos que foram dados hoje aqui, no MDA, são significativos para o país e para a segurança jurídica de todos nós”.



Acesso público



O acervo fundiário brasileiro, que contém plantas e informações sobre imóveis rurais em todo o país, pode ser acessado por qualquer cidadão. As informações estão disponibilizadas na Internet através da plataforma geoespacial livre i3Geo.



Certificação e seminário



Expedida pelo Incra, a certificação é o documento que assegura que os limites da propriedade rural não se sobreponham a outros imóveis e que a execução do georreferenciamento está de acordo com as especificações técnicas legais. Sem essa documentação, os proprietários são impedidos de legalizar qualquer transferência, seja de compra, venda, desmembramento ou partilha, e não podem expedir o Certificado Cadastral de Imóvel Rural (CCIR) para obter financiamento bancário junto às instituições oficiais. A obrigatoriedade do georreferenciamento é determinada pela Lei nº 10.267/01, que define prazos para apresentação da descrição georreferenciada das propriedades de acordo com sua extensão.



Para debater junto à comunidade questões atuais associadas ao cadastro e georreferenciamento de imóveis rurais, o MundoGEO irá realizar um seminário online na próxima quinta-feira (6/12). Nesse evento serão abordadas questões atuais sobre a legislação e normas técnicas necessárias à aprovação dos projetos junto ao Incra e aos cartórios de Registro de Imóveis.



Especialistas ligados ao Incra, Cartórios, profissionais e empresas que executam esses trabalhos já estão confirmados, e irão apresentar e debater com o público a nova Norma publicada recentemente, técnicas para levantamentos de campo, bem como novidades do setor e o novo sistema informatizado de certificação de imóveis rurais.



Veja a programação completa e inscreva-se em mais um seminário online realizado pelo MundoGEO!



Com informações do Incra





Mutirão de castração de cães e gatos