REDD deve beneficiar populações pobres, diz pesquisador
Essan Yassim Mohammed diz que governos devem ir além da definição mais restrita de direitos de carbono, que beneficia apenas quem tem titulação definitiva das terras
24 de julho de 2011 | 0h 01
autoria: Karina Ninni - O Estado de S. Paulo
ARQUIVO PESSOAL
Essam Yassin Mohammed, do International Institute for Environment and Development
Na próxima sexta-feira, 29, um grupo de trabalho vai apresentar à ministra Izabella Teixeira, do Meio Ambiente, um artigo que resume os primeiros passos para a concepção de uma política nacional de Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal (REDD).
A REDD funciona por meio da remuneração de emissões evitadas de carbono. Dono da maior floresta tropical do planeta, cuja queima responde por 1,5% dos GEEs emitidos no mundo todo ano, o Brasil tem um imenso potencial para gerar receita com REDD, mas, dependendo da regulamentação adotada, pode também perpetuar injustiças ancestrais, sobretudo na Amazônia, onde as populações mais pobres dificilmente têm escrituras definitivas das terras que habitam.
Essan Yassim Mohammed, pesquisador do International Institute for Environment and Development (IIED), afirma que a REDD só pode dar certo no Brasil se for possível assegurar que essas populações se beneficiem do mecanismo. Em artigo recém-publicado com o advogado Christoph Schwarte ("A justiça do carbono: como alavancar benefícios do REDD + para os pobres"), ele defende que os "direitos sobre o carbono" (do inglês "carbon rights") não tomem como base a titulação definitiva da terra, como vem sendo estudado, mas levem em consideração os direitos civis, sociais, econômios e culturais das populações que dependem da floresta para sua sobrevivência.
Em entrevista exclusiva, ele falou ao Estado:
Estado - Vocês mencionam no artigo que transformar o carbono em uma nova forma de propriedade ou uma nova commmodity comercializável não é o suficiente para fazer o mecanismo funcionar para comunidades indígenas e tradicionais. No contexto brasileiro, que tipo de iniciativa, em termos de política pública, poderia ser implementada para fazer com que o mecanismo funcione para as comunidades mais pobres? Como podemos assegurar que a versão brasileira dos "direitos sobre o carbono" não fique limitada à ideia de posse de um pedaço de floresta?