Foi em 2007 que a Fifa definiu o Brasil como país sede da Copa do Mundo de Futebol de 2014. Hoje, sete anos depois e à beira do evento, o que se vê pelo país são protestos, obras atrasadas, superfaturamento e um legado prometido que não saiu do papel.
Quando uma nação se compromete com grandes eventos esportivos, como a Copa ou Olimpíada, existem diversos fatores econômicos envolvidos nisso. São necessárias mudanças estruturais e uma das principais justificativas para a candidatura é a possibilidade de movimentar consideravelmente a economia e trazer melhorias diretas à população. Na teoria isso funciona bem, no entanto, nem sempre a prática corresponde ao esperado.
Um dos pontos mais destacados pelo Brasil após ser escolhido como país-sede foi o legado que o evento poderia deixar, principalmente em termos de transporte público, criação de empregos e melhorias nos aeroportos. Os projetos foram muitos, mas as obras não condizem com o esperado. Rodrigo Prada é jornalista e diretor do
Portal 2014, um espaço utilizado para mostrar a realidade na preparação para a Copa. Na última semana ele comparou o último mundial de futebol sediado na África do Sul ao brasileiro. Em quatro de maio o Brasil estava a cem dias da Copa, e segundo Prada, “sem legado”. Os “elefantes brancos” vistos no continente africano também podem dar as caras no Brasil.
Um trem bala que ligaria a cidade de São Paulo ao Rio de Janeiro era um dos projetos mais comentados no início da preparação. A estrutura poderia substituir boa parte dos voos diários que ligam as cidades. Mas, antes mesmo de ter início, o projeto foi cancelado.
A cidade de São Paulo é uma das que mais sofrem com congestionamentos e superlotação em sistemas de transporte público. Mesmo sendo uma das principais cidades-sede, a capital paulista recebeu poucas mudanças estruturais consequentes da Copa. A metrópole possui uma média de seis milhões de carros e quase quinze mil coletivos rodando diariamente por seus 17 mil quilômetros de vias. Isso faz com que os paulistanos gastem até três horas em seus deslocamentos diários. As obras de mobilidade urbana feitas para a Copa se concentram nos bairros ao entorno do Estádio Itaquerão, já que o sistema de monotrilho que ligaria o aeroporto de Congonhas ao bairro do Morumbi foi cancelado do projeto, apenas um trecho de sete quilômetros será inaugurado e o restante está previsto para 2016.
Brasília também teve o seu principal projeto vetado e deverá sair do papel após o mundial. Um VLT melhoraria o transporte coletivo da capital brasileira. Ao invés disso, a única obra decorrente da Copa será a ampliação de uma das estradas locais.
No Rio de Janeiro o BRT Transcarioca, que liga o aeroporto à Barra, é a obra mais importante. Apesar de não estar concluído, ele continua no projeto e deve ser entregue a tempo para o evento esportivo. Fortaleza está na mesma situação com o BRT quase finalizado. Mesmo com outras seis obras em andamento e nada concluído, a cidade nordestina tem a segunda melhor avaliação, pelo Portal 2014.
O melhor resultado fica por conta de Belo Horizonte. A capital mineira deve ser a única cidade a ter realmente um legado pós-Copa em termos de transporte público e mobilidade urbana. São três projetos de BRT, expansão de vias, criação de novos corredores e, mesmo com atrasos, as autoridades garantem que eles serão entregues até junho deste ano. Porto Alegre também deve ter novos corredores, vias de acesso e BRT, mas ainda não existe confirmação concreta de que todas as obras fiquem prontas antes de junho.
Na outra ponta, com o pior resultado vem Manaus. Além de ser uma das cidades mais questionadas, por não apresentar grandes propostas para o uso posterior do estádio construído, as melhorias também não animam. O único grande projeto era um BRT e monotrilho que ligaria pontos importantes da cidade, mas ele foi cancelado após problemas com liberações da obra.
Em Cuiabá, atrasos na obra de construção de um sistema de Veículo Leve Sobre Trilhos (VLT) farão com que a conclusão seja depois da Copa. Recife deve contar com dois novos BRT e algumas estações de metrô, enquanto Natal não possui projetos em relação ao transporte público.
Por Thaís Teisen – Redação CicloVivo