quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Prefeituras de SP e RJ vão pavimentar ruas com asfalto ecológico

Prefeitura de SP vai pavimentar oito ruas com asfalto ecológico

Outras 44 vias serão recapeadas com recursos na ordem de R$ 19,4 mi

iG São Paulo
01/12/2010 15:18



A Prefeitura de São Paulo vai pavimentar oito ruas da cidade com asfalto ecológico a partir da primeira quinzena deste mês. As vias beneficiadas ficam nas regiões das Subprefeituras do Butantã, Freguesia/Brasilândia e São Miguel. O novo material, composto por resíduos de obras e demolições, será utilizado para asfaltar 2,6 quilômetros de extensão. O asfalto será usado em duas das camadas que compõem o pavimento.



De acordo com a Secretaria das Subprefeituras, foram investidos cerca de R$ 2 milhões no projeto. A utilização do produto pode refletir em uma economia de até 40% em relação ao asfalto já utilizado. A Prefeitura planeja usar esse tipo de asfalto em outros pontos da capital, em locais a serem definidos.



Ainda nesta semana, a prefeitura anunciou o recapeamento de 44 ruas e avenidas a partir da próxima semana. Segundo a pasta, serão destinados R$ 19,4 milhões para a recuperação de 42 km de vias. Entre elas estão as avenidas Luis Carlos Berrini, no trecho entre a Dr. Chucri Zaidan e a Bandeirantes; Brigadeiro Faria Lima, da Rebouças até Cidade Jardim; e a avenida Morumbi, da Dr. Chucri Zaidan até a Santo Amaro.


Rio faz testes com asfalto ecológico em ruas e estradas


20/12/2010

Fonte: http://exame.abril.com.br/economia/meio-ambiente-e-energia/noticias/rio-faz-testes-com-asfalto-ecologico-em-ruas-e-estradas
Uso do material é um teste para que os técnicos possam conhecer a forma de produzir e aplicar o revestimento

Os governos municipal e estadual do Rio estão investindo em tecnologias ecológicas para pavimentação de ruas e estradas. Na semana passada, a Secretaria Municipal de Obras aplicou um pigmento verde em um trecho de 350 m² da Estrada Dona Castorina, no Jardim Botânico. O uso do material é um teste para que os técnicos possam conhecer a forma de produzir e aplicar o revestimento, que tem como vantagem tornar o asfalto mais resistente à deformação.


A intenção da Prefeitura é empregar o asfalto colorido em ciclovias e parques. A pigmentação, que pode ser azul, verde, amarela, vermelha ou branca, é feita com temperaturas abaixo de 140ºC, o que reduz as emissões de gases de efeito estufa.
O Departamento de Estradas e Rodagens do Rio (DER-RJ) também começou a reformar este ano um trecho de 35 km da RJ-122, entre Guapimirim e Cachoeiras de Macacu, com asfalto borracha, que leva 20% de pó de pneus velhos. "É uma inovação brasileira", diz o presidente do DER-RJ, Henrique Ribeiro. Até março, o trecho estará pronto. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.





UM CAMINHO PARA OS PNEUS INSERVÍVEIS
RODOVIAS VOLTAM A SER O DESTINO DOS PNEUS


por Mariana Conrado
Fonte: http://www.sindipneus.com.br/revistas/revista_09.pdf



Mesmo após rodar até o limite, pneus podem retornar para as vias e, o melhor, de uma maneira ambientalmente correta: como asfalto. Isso mesmo. No Brasil já existem trechos de pavimento produzido com o resíduo reciclado dos pneus velhos, o asfalto borracha. Além de amenizar um problema ecológico, por dar destino aos pneus sem condições de rodagem, o uso da borracha nas misturas asfálticas melhora a qualidade das estradas e das ruas.

Indiscutivelmente, o pneu é um elemento fundamental e insubstituível, principalmente em países onde o transporte rodoviário predomina. No Brasil, mais de 59 milhões de pneus foram produzidos em 2008, segundo levantamento da Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos (Anip). Ainda que o tempo de sua vida útil dure cerca de sete anos, em algum momento ele será inservível.

O volume oficial dos produtos descartados não é registrado, mas sabe-se que a questão da destinação final inadequada é alarmante. Os pneus são produtos de degradação lenta e, quando abandonados em locais impróprios, oferecem riscos à saúde pública e danos ao meio ambiente, pois podem liberar substâncias tóxicas na atmosfera, transformarem-se em criadouros de mosquitos transmissores de doenças, entre outros fatores. A preocupação é evidente e a disposição dos pneus inservíveis é questionada em todo o mundo.

Entretanto, a parte boa da história é que há várias maneiras de reaproveitar os pneus e minimizar os transtornos gerados. O pesquisador, doutor em engenharia e professor universitário, Luciano Specht, acredita que a solução do problema ambiental esteja ligada ao consumo em larga escala da borracha, conjugada às diversas alternativas de uso. Dentre elas, o pesquisador destaca a aplicação de pneumáticos como fonte de energia, combustível de cimenteiras e, principalmente, como pavimento.



Asfalto ecológico


O uso dos pneus na fabricação de asfalto constitui na adição do pó de borracha da reciclagem ao material de pavimentação. Dessa mistura, compõese o asfalto borracha, também denominado como asfalto ecológico, devido às contribuições ao meio ambiente. Specht, que também é especialista em misturas asfálticas com borracha, conta que essa técnica foi desenvolvida nos Estados Unidos na década de 1950 e que ainda hoje a ideia é bem disseminada no país.

No Brasil, a primeira aplicação ocorreu em 2001, por iniciativa do convênio da concessionária de rodovias Univias com a produtora e distribuidora Greca Asfaltos e com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Após pesquisas, testes e estudos de laboratório, o segmento experimental do asfalto borracha foi sobreposto em cerca de dois quilômetros da BR 116, no trecho Porto Alegre – Pelotas, no Rio Grande do Sul.

Segundo o engenheiro Paulo Ruwer, da Univias, o asfalto ecológico é composto de 20% da borracha de pneu triturada. Normalmente, para cada quilômetro de pista pavimentada com esse produto, podem ser reaproveitados cerca de 1.000 pneus de carro sem condições de rodagem. Mas, na verdade, “a quantidade de pneus para a execução de um quilômetro desse tipo de pavimentação depende de certos fatores, como a espessura da camada de asfalto e a sua largura”, explica o engenheiro.

A concessionária Rodonorte – que foi a segunda empresa a aplicar o asfalto ecológico em sua malha e a primeira a fazer isso em larga escala no Brasil –, por exemplo, utiliza cerca de 1.200 pneus inservíveis

para revestir um quilômetro de rodovia com o asfalto borracha. “As vantagens desse asfalto vão desde o aspecto ambiental até o técnico. Se não fosse a reciclagem, boa parte desses pneus poderia ser depositada em lugares inapropriados. Agora eles ajudam a construir um asfalto ecologicamente correto e de qualidade”, enfatiza o gestor de obras da Rodonorte, Elvio Torres.





Mais que benefícios ambientais



Além de colaborar com o meio ambiente, o uso de pneumáticos como agregado na fabricação de pavimento possui outras virtudes também importantes.

Uma afirmação presente em diversas análises realizadas pelos profissionais da área é: o asfalto borracha proporciona avanços para as rodovias.

O alto volume de tráfego, o excesso de carga por eixo, as temperaturas elevadas e a falta de manutenção

são ocorrências comuns nas ruas e estradas do Brasil. Essas características contribuem para que as pistas apresentem defeitos como deformação permanente nas trilhas de roda e trincamento por fadiga.

De acordo com a equipe da Greca Asfalto, em estudo publicado no início de 2009, verificou-se que o asfalto convencional nem sempre consegue atingir as expectativas projetadas para segmentos que exigem revestimentos de alto desempenho. E, para esses trechos, os técnicos apontam como alternativa o uso de misturas asfálticas especiais.

Pesquisas comprovaram que o pó da borracha possui aspectos físico-químicos que aprimoram as propriedades do ligante do asfalto, o que traz uma série de benefícios. O pesquisador Luciano Specht explica que a melhoria é por causa, principalmente, da elasticidade da borracha e da redução do envelhecimento do produto em longo prazo. O estudo da Greca registra que a pavimentação de asfalto ecológico, implantado no segmento experimental (em 2001), teve um comportamento superior, em termos de retardar a reflexão de trincas, comparado ao do revestimento construído com ligante tradicional localizado no mesmo trecho.

Os demais testes comparativos acentuam algumas das vantagens técnicas e econômicas do pavimento ecológico. A equipe da Greca ressalta que a pista revestida com asfalto borracha é mais resistente ao desgaste e ao trincamento. Em uma das pesquisas sobre a quantificação da vida útil do asfalto borracha realizada pelos parceiros conveniados (Greca, Univias e UFRGS), por meio de um simulador de tráfego, foi observado que o recapeamento em asfalto convencional estava completamente trincado após 98 mil ciclos de carga dos caminhões em eixo de 10 tf (tonelada força). Já no recapeamento com asfalto borracha, a reflexão de trincas só começou após 123 mil ciclos da mesma carga de eixo.

A conclusão dos resultados apontou que o reflexo de trincas nos revestimentos do asfalto borracha é de cinco a seis vezes mais lento do que no recapeamento em concreto asfáltico tradicional. “Resumidamente, pode-se afirmar que, a partir desses testes, a camada com borracha duraria pelo menos 25% a mais do que a convencional”, informa o pesquisador Luciano Specht.


Entre outras vantagens do produto ecológico, a equipe da Univias destaca que o asfalto borracha apresenta uma redução do nível de ruído provocado pelo atrito pneu/pavimento. E, uma vez que a composição do produto absorve as propriedades elásticas e estabilizadoras da borracha de pneu, o trecho com asfalto ecológico melhora as condições de segurança: o veículo tem mais aderência ao pavimento e freia em menos tempo, diminuindo, principalmente em dias de chuva, os riscos de derrapagem e de aquaplanagem. Em nota, a equipe conclui que o asfalto borracha apresenta maior segurança; melhor qualidade, diminuindo a frequência de restaurações e intervenções na rodovia; e ainda maior durabilidade, o que promove economia na pavimentação.



Verdade seja dita



Você deve estar se perguntando: se é ecologicamente correto e a eficiência é comprovada, o que falta para os municípios e concessionárias expandirem a aplicação do asfalto borracha nas rodovias brasileiras? Apesar das vantagens fundamentadas, o engenheiro Paulo Ruwer e o especialista Luciano Specht explicam que há barreiras que desencorajam a utilização em larga escala das misturas asfálticas modificadas com borracha. Ruwer não esconde o fato de que, para fabricar o pavimento com borracha, se gasta um teor maior de asfalto na mistura “asfalto/agregado pétróleo”, o que gera certa polêmica por esse fato não ser um aspecto ecológico. Além disso, outra questão importante é que o custo inicial de implantação do asfalto borracha é maior do que o asfalto comum.

“O preço varia de acordo com a estrutura do asfalto. A título de exemplo, para a aplicação de um quilômetro em uma pista de 7,50m de largura com uma camada de 5cm de espessura, o custo do ecológico é da ordem de R$220 mil e do convencional é de R$ 180 mil, ou seja, é cerca de 18% mais caro”, diz o engenheiro, que logo completa: “porém, tal diferença é compensada por sua maior durabilidade”.

O especialista Specht compartilha da mesma opinião: “tendo em vista a baixa manutenção que será necessária com o passar dos anos, a relação custo/ benefício do asfalto borracha é lucrativa sobre os ligantes convencionais”. Na opinião de Ruwer, o uso desse produto tem crescido no Brasil, mas se não contempla a totalidade dos investimentos em restaurações é porque certamente a comunidade técnica não ignora nenhum aspecto da questão.

Para a utilização em grandes proporções de pavimentos feitos com borracha nas rodovias brasileiras, Luciano Specht acredita que é preciso investir em equipamentos apropriados, desenvolver mais pesquisas sobre o assunto e também obter um maior incentivo dos gestores públicos. “É necessário se ter normatização dos órgãos oficiais rodoviários para que a técnica seja mais utilizada”, diz. Ele conta que nos EUA existem leis que estabelecem a utilização de um percentual mínimo de borracha reciclada na produção de misturas asfálticas. “Os estados norte-americanos, como a Flórida, Califórnia e Arizona, têm larga experiência com o uso do pavimento feito com borracha”, detalha.



Busca de incentivo


Segundo o especialista, ainda não há, no Brasil, incentivo oficial para a incorporação da borracha na composição das misturas do asfalto. Em Minas Gerais, o deputado Gustavo Valadares é autor de um projeto de lei que incentiva a fabricação do asfalto ecológico. A proposta de Valadares aproveitou ideias expostas anteriormente pelo deputado Sávio Souza Cruz. O texto prevê que o estado dê preferência à massa asfáltica produzida com borracha de pneus em desuso na recuperação de vias públicas. “O projeto já foi aprovado, em 2008, em 1º turno pelo Plenário da Assembléia Legislativa. Agora aguardamos o parecer em 2º turno da Comissão de Meio Ambiente, para que seja votado definitivamente em Plenário”, diz Gustavo Valadares.

De acordo com o deputado, o Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama) já regulamentou parâmetros para a utilização das carcaças de pneus inservíveis como agregado na composição do asfalto, a fim de aumentar o reaproveitamento dos resíduos. Trata-se da Resolução 258, que, no entanto, se refere mesmo é à obrigação dos produtores e importadores de pneus oferecerem destino correto ao produto quando não há possibilidade para o uso veicular e nem para os processos de reforma. Para Valadares, são poucas as iniciativas para o asfalto borracha: “talvez porque o tema seja relativamente novo para o nosso país”.

Aos quase oito anos de utilização do asfalto borracha, o Brasil possui cerca de 3.000 quilômetros de rodovias recapeadas com o pavimento ecológico, segundo estimativa da Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Asfaltos (Abeda). Em Minas, o asfalto borracha foi aplicado pela primeira vez na capital em obra concluída em 2006.

O segmento revestido foi o do corredor Boulevard Arrudas, em um trecho da linha que liga o centro de Belo Horizonte ao aeroporto de Confins (que é de responsabilidade do Departamento de Estradas de Rodagem do Estado de Minas Gerais – DER/ MG). Segundo a Secretaria de Estado de Transportes e Obras Públicas (Setop), foi pavimentado 1,42 km, com pista de 13m de cada lado, totalizando

37.000m² de aplicação. O Setop informa também que o uso do asfalto ecológico nessa obra foi uma exigência da prefeitura. Caso a lei mineira proposta por Gustavo Valadares seja sancionada pelo governador Aécio Neves, será regulada a aplicação prática do revestimento de asfalto borracha no estado. E, com mais incentivos, as empresas de todos os setores que atuam, desde a produção à aplicação do asfalto borracha, teriam benefícios na operação, na qualidade das rodovias e, ao mesmo tempo, contribuiriam com a proteção ambiental.










Política pública socioambiental: "Lixo e esgoto são dois dos principais problemas ambientais deste país"

Fonte:

http://cebsmaria.blogspot.com/2011/01/lixo-e-esgoto-sao-desafios-ambientais.html

http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=75823


A bióloga Izabella Teixeira, 49 anos, fala rápido e lança questões dentro das próprias afirmações. Especialista em avaliação ambiental estratégica, a ministra do Meio Ambiente repete várias vezes a expressão "ampliar o debate" ou "construir a agenda", traindo a base técnica de quem tem doutorado em planejamento ambiental. Talvez por isso, e por lembrar que 80% da população brasileira vive em zona urbana, Izabella mire as cidades em sua gestão. "Lixo e esgoto são dois dos principais problemas ambientais deste país", diz, ao lembrar também que é preciso dar novo desenho à dinâmica de mobilidade das cidades brasileiras. Fala, emocionada, da invisibilidade dos catadores de lixo em um País campeão de reciclagem, mas que não os enxerga nem reconhece nas políticas públicas. "Eles, os catadores, são verdadeiros ecologistas de plantão."



A reportagem e a entrevista é de Daniela Chiaretti e publicada pelo jornal Valor, 12-01-2011.



Nascida em Brasília e funcionária de carreira do Ibama há 26 anos, Izabella fala em consenso e convergência. É assim que enxerga as políticas de clima e de biodiversidade, de recuperação de áreas degradadas a partir de estudos de viabilidade econômica, das políticas ambientais em harmonia com as de desenvolvimento. "Caso contrário", vaticina, "cada um vai para um lado."



Braço-direito do então ministro Carlos Minc, assumiu a pasta em abril de 2010, quando ele deixou o MMA para lançar a campanha a deputado estadual no Rio de Janeiro, e foi confirmada no cargo pela presidente Dilma Rousseff. Sem o espírito midiático do antecessor e muito diferente da personalidade inspiradora de Marina Silva, a nova ministra fala em diálogo: "O Ministério do Meio Ambiente tem que ser um ministério facilitador, que formule políticas com outros parceiros. Nós não fazemos nada sozinhos", explica em frase-síntese da marca que quer imprimir à sua gestão.



Ela parece também querer dar ares internacionais ao ministério, acompanhando a estatura que o país começa a assumir. Diz que o Brasil tem que liderar a pauta de florestas no mundo e que, aqui dentro, há que se pensar no aumento das áreas protegidas no mar. Enxerga os outros países amazônicos como parceiros e pretende trabalhar projetos em comum. Passou o último dia do ano reunida com uma delegação chinesa, falando sobre planejamento estratégico dos recursos hídricos. Tem na mesa um projeto que lhe é particularmente caro e está discutindo com o Ministério do Desenvolvimento Agrário - dar destino nobre ao enorme volume de madeira ilegal apreendida na fiscalização do desmatamento. Ela pretende articular um programa de construção de casas aos povos da floresta, que não vivem em habitações de alvenaria. "A partir do crime ambiental a gente traz cidadania ambiental", imagina.



Eis a entrevista.



Quais são as suas prioridades neste início de gestão?



Na agenda ambiental é meio complicado dizer onde priorizar. Melhor pensar o que é estratégico.



Qual será a sua marca no ministério?



Quero mencionar quatro ou cinco coisas que serão importantes na gestão. O Brasil tem uma importância estratégica no cenário internacional nas questões ambientais. É um líder e tem que assumir essa liderança não só no setor público como no privado. Temos que atuar entendendo quais as implicações dos grandes debates econômicos e sociais do planeta nas questões ambientais. E não ficar restritos aos fóruns tipo conferências, mas participar de reuniões que sejam importantes.



Por exemplo...?



Se há uma discussão relevante em fóruns econômicos, ou em relações bilaterais, com a Alemanha, Portugal, China, é fundamental que o ministério participe com uma agenda sólida de debate e interlocução.



No dia 31 de dezembro, a senhora se reuniu com uma delegação chinesa. Qual a pauta?



O chefe da delegação era o ministro dos Recursos Hídricos da China e nós fechamos um entendimento de cooperação em recursos hídricos. Aliás, temos muito interesse na cooperação ambiental com a China.



O que isto significa?



Cooperar na experiência de gestão estratégica e de riscos no planejamento de recursos hídricos, e no uso desses recursos, em particular para a geração de energia. Nós fizemos o plano estratégico do Araguaia-Tocantins, por exemplo, em que se prevê a conciliação do uso múltiplo das águas com a agenda do desenvolvimento. Os chineses têm interesse nisto.



Eles têm interesse no jeito em que a gente faz esses estudos?



Na maneira em que a gente faz, na formação e qualificação de quadros, na troca de experiências e de tecnologias.



E como é que vocês fazem? Olham a bacia hidrográfica e estudam seu uso?



A Agência Nacional de Águas faz os planos estratégicos das bacias hidrográficas do país. Estamos discutindo agora, por exemplo, a margem direita do Amazonas. Planejamos, em função dos vários usos, sugerimos os limites e damos diretrizes de como aquilo pode ser usado. Já estão ali as usinas hidrelétricas desenhadas e as futuras. No caso do Araguaia-Tocantins, a reflexão que fizemos em relação à importância da biodiversidade local, do turismo, do abastecimento, do uso para irrigação e para a pecuária levou o presidente Lula a decidir excluir o Médio Araguaia de qualquer aproveitamento hídrico com relação à geração de energia.



E é nesse tipo de coisas que os chineses estão interessados?



Estão interessados no uso de instrumentos como esse para tomada de decisão. Também estão interessados no nosso monitoramento de vulnerabilidade a enchentes.



A senhora tem dito que tem uma agenda imensa de trabalho. Por onde começar?



Na pauta da biodiversidade, temos um desafio monumental de trabalho para os próximos dois anos, no pós-Nagoya, com vistas à CoP-11, na Índia, onde vamos discutir os recursos financeiros necessários. Até lá pretendemos ter consolidado nossas áreas protegidas, mas também pensado na sua expansão, especialmente nos ecossistemas marinhos e costeiros, onde está nossa maior deficiência. As metas de Nagoya recomendam que se tenha 17% de áreas protegidas nos ecossistemas terrestres e 10% nos marinhos. No mar nós só temos 1,5%.



Temos que discutir onde fazer estes parques?



Onde, como, se são só parques, se podemos conciliar usos, como potencializar recursos. Vamos ter que discutir com toda a sociedade. Aí tem a convergência de biodiversidade com a agenda de clima. Temos que pensar onde podemos estar mais vulneráveis, onde está o risco. Sem falar nas florestas, que é um tema absolutamente estratégico para o Brasil. Somos o país com a maior extensão de florestas do planeta e temos que ter liderança nessa agenda. Precisamos pensar não só na conservação, mas na recuperação de áreas degradadas com uso econômico de maneira sustentável. Temos que pensar quais as áreas degradadas deste país e qual a economia que podemos associar a elas.



Qual é esta área, quanto temos de áreas degradadas?



Esse número é um mistério. Já ouvi desde 20 milhões a 60 milhões de hectares. Cada um diz uma coisa porque cada um tem um conceito sobre o que é área degradada. Aqui temos que ter a visão da expansão da infraestrutura no Brasil para pensar em custos e competitividade. Podemos ter área degradada onde não se consegue implantar nada porque não se consegue transportar.



Está longe de tudo?



Porque ali as estradas deixaram de existir ou transportar por estradas não é a melhor via. Qual é o modelo? São vários, não há um único. Mas é claro que em um país com esta extensão e que, no cenário mais conservador, tem 20 milhões de hectares de áreas degradadas, não tem sentido desmatar e perder biodiversidade. Se tivermos uma reflexão de natureza estratégica e econômica, poderíamos construir ali, a médio prazo, situações que chamamos de win-win. Temos que ver qual é a lógica de mercado, que mercado queremos induzir nessas áreas e cruzarmos com as questões sociais. Um exemplo disso é o exitoso projeto de óleo de palma, em escala menor, que o presidente Lula lançou em 2 milhões de hectares no Pará, em 2010. Queremos mostrar que é possível incrementar a produção agrícola, da agroecologia, da agricultura familiar, ter floresta plantada, ter incremento tecnológico e não provocar desmatamentos.



Isso na Amazônia...



No Cerrado ou até na expansão urbana. Um exemplo que acho fascinante foi o que aconteceu no Rio, com a Ingá Mercantil, que faliu na baía de Sepetiba. Cada dia que chovia no Rio de Janeiro a gente achava que aquilo podia romper e contaminar de metais pesados a baía, era um enorme passivo ambiental. Fizemos um arranjo econômico, houve um leilão, aquilo está sendo modernizado. Não tive de abrir novas áreas e recuperei a baía. Quando a gente fala de área degradada não é só rural. Isto é importante, 80% da população do Brasil é urbana. Temos que discutir a qualidade ambiental urbana. Vamos resgatar, com o Ministério das Cidades, a pauta das cidades sustentáveis. Tem muito o que debater, as áreas protegidas nas áreas urbanas, que pouco se fala no Brasil, por exemplo. Não discutimos qual é o processo de expansão das cidades nos diversos biomas. A dinâmica de expansão das cidades na Amazônia não é a mesma da dinâmica de expansão de cidades no Centro-Oeste ou no Sudeste.



Cidades sustentáveis? O que tem em mente?



Temos que trabalhar a mobilidade nas cidades e a poluição do ar associada a isso, e ainda, relacionar com um tema maior, que é o clima. Precisamos dar coerência às políticas ambientais. É importante que tenham coerência e convergência com as políticas de desenvolvimento. Caso contrário, cada um vai para um lado. Há uma pauta riquíssima em saneamento, em resíduos sólidos. O cidadão brasileiro tem que se apropriar da temática ambiental além da fronteira da fiscalização e do licenciamento. Isso tem a ver com a qualidade de vida dele, principalmente de quem vive nas grandes cidades



O que quer dizer?



Tem que compreender que é parte da construção dessas soluções. Fizemos uma pesquisa em 2009 sobre produção e consumo sustentáveis, que mostra o que as pessoas pensam sobre meio ambiente. A reciclagem, todo mundo acha ótimo, é surpreendente. Em 11 capitais, em todos os perfis de renda, todos concordam que a reciclagem é um passo estratégico para o ambiente. E quando se pergunta quais são os atores responsáveis pela reciclagem, 63 % apontam os catadores. Mas não se fala qual é o papel do catador nas grandes cidades brasileiras. Se os tirarmos das ruas, e eles são 800 mil, quanto temos que adicionar de serviço público? Essa é uma pergunta que nunca ninguém faz. Há um grande preconceito social em relação ao catador, as políticas públicas não o enxergam, não se inclui o catador na economia formal, as prefeituras não os remuneram. E isso é um desafio, reconhecer esses ecologistas de plantão. Sem falar que temos pela frente uma grande provocação.



Uma provocação? Qual?



Os grandes eventos que o Brasil vai sediar nesta década. Temos a Rio +20, a Copa, as Olimpíadas. São grandes intervenções que vão falar de temas ambientais. Vamos falar de sustentabilidade olhando para o futuro. Somos um país urbano.



Mas algum dia vamos enxergar que as estradas da Amazônia são os rios?



Temos que enxergar. As culturas locais têm que ser respeitadas. Vamos trabalhar com as populações tradicionais, com os assentados, em parceria com o Ministério do Desenvolvimento Agrário. Temos um projeto de habitação rural que leva em conta que eu tenho 1 milhão de metros cúbicos de madeira apreendidos. Quero transformar isso em casas de madeira para populações tradicionais e assentados. Vamos ver se é viável e fazer. Temos responsabilidades com esse pessoal, eles cuidam da floresta para a gente e o Ministério do Meio Ambiente não cuida só da fauna e da flora. Assim, a partir do crime ambiental a gente traz cidadania ambiental, na forma de casas dignas para as populações extrativistas. E respeita a sua cultura. Eles não vivem em casas de alvenaria.



Fonte:IHU