quarta-feira, 11 de julho de 2012

Rio+20 falhou (também) com as mulheres


Envolverde Rio + 20
28/6/2012 - 10h10

http://envolverde.com.br/ips/inter-press-service-reportagens/rio20-falhou-tambem-com-mulheres/?utm_source=CRM&utm_medium=cpc&utm_campaign=28



por Anayeli García Martínez*

IPS35 Rio+20 falhou (também) com as mulheres
Cidade do México, México, 28/6/2012 (IPS/Cimac) – A resolução final da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20) negou a conquista feminina de decidir livremente sobre a maternidade, pelo triunfo de uma agenda “conservadora”. Com o aval da ONU Mulheres, dos Estados Unidos e do Brasil, a Rio+20 terminou no dia 22 com a exclusão do documento final de referências aos direitos sexuais e reprodutivos, segundo as organizações feministas presentes, ou não, na cúpula realizada no Rio de Janeiro.

Lydia Alpízar, diretora no México da Associação para os Direitos da Mulher e o Desenvolvimento (Awid), alertou que a declaração da Rio+20 falou das mulheres, mas sem mencionar claramente seus direitos. Segundo Alpízar, que esteve presente na cúpula, Vaticano, Egito e Síria lideraram um bloco de países que promoveram que na resolução final ficassem termos como “planejamento familiar” e não direitos sexuais. Isto significa, afirmou a ativista, que em nível global persiste uma “visão conservadora”, pela qual o único papel das mulheres é a reprodução, e que, portanto, exercer sua sexualidade não é considerado um direito.
O documento final da Rio+20 gerou grande polêmica entre mulheres de organizações civis de todo o mundo que participaram da Cúpula dos Povos, o fórum paralelo à conferência oficial. De fato, a sociedade civil se declarou frustrada pelo “completo fracasso” da cúpula. No caso das mulheres, as maciças críticas obrigaram a diretora da ONU Mulheres, a chilena Michelle Bachelet, a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, e a presidente e anfitriã do encontro, Dilma Rousseff, a se pronunciarem a respeito.
Bachellet reconheceu que se poderia ter melhorado a redação da agenda, mas que “a igualdade de gênero e o empoderamento das mulheres em todos os contextos institucionais fazem parte do resultado final do documento. Clinton garantiu que na declaração foi incluído “o essencial”, e, diante de um grupo de descontentes, afirmou que “as mulheres têm que ter o poder de tomar decisões sobre quando e onde desejam ter filhos”. Acusada de “trair” o movimento feminista, Dilma afirmou que “no Brasil estamos investindo para superar dificuldades e precariedades no acesso aos serviços públicos de saúde, com pleno exercício dos direitos sexuais e reprodutivos”. Pior do que na Cúpula da Terra.
À enxurrada de Vaticano, Egito e Síria contra iniciativas de incluir os direitos das mulheres, somaram-se os governos de Chile, Costa Rica, Honduras, Nicarágua, República Dominicana e Rússia, segundo denunciaram os grupos de mulheres. Como resultado, a declaração final da Rio+20 contrastou negativamente com o alcançado em favor dos direitos da população feminina há 20 anos, na Cúpula da Terra, organizada pela ONU também no Rio de Janeiro. Há 20 anos, o movimento de mulheres conseguiu que o documento final, conhecido como Agenda 21, incluísse um capítulo exclusivo para as mulheres. Este ano não foi assim.
Na Agenda 21 foi assegurado que os compromissos seriam alcançados por meio de políticas, diretrizes nacionais e planos que garantissem a igualdade em todos os aspectos da sociedade, incluindo a participação ativa das mulheres na tomada de decisões e no manejo ambiental. O capítulo específico sobre mulheres, o 24, tem o título Medidas mundiais a favor da mulher para conseguir um desenvolvimento sustentável e equitativo. Ali se pede aos governos o fim de obstáculos constitucionais, jurídicos, administrativos, culturais, sociais, econômicos e de comportamento, que impedem a plena participação das mulheres no desenvolvimento sustentável e na vida pública.
Já na declaração final da Rio+20 não só inexiste um capítulo sobre as mulheres como há apenas referências a elas em 50 ocasiões, sem nunca falar de seus direitos específicos, criticaram organizações sociais. O parágrafo 45 do documento diz que as mulheres podem contribuir para se alcançar o desenvolvimento sustentável, e se reconhece a função de sua liderança. Os governos signatários afirmam que promoverão a igualdade entre os gêneros e o empoderamento da mulher. No 145 se destaca a necessidade de proporcionar acesso universal à saúde reprodutiva, incluído o planejamento familiar e a saúde sexual, e de integrar a saúde reprodutiva nas estratégias e nos programas nacionais.
Entretanto, acusaram as feministas da sociedade civil, não se falou do conceito “direitos sexuais e reprodutivos”, nem do direito de as mulheres exercerem livremente sua maternidade e o espaçamento entre o nascimento dos filhos. A acadêmica da Universidade Autônoma do México, Gloria Carega, qualificou de “alarmante” o ocorrido no Rio de Janeiro. Segundo disse, teme-se que o desconhecimento na declaração final dos direitos das mulheres como fator de desenvolvimento influenciem na próxima grande conferência e também que nela seja dado um passo atrás quanto às demandas femininas recolhidas na declaração final.
Em 2014, a ONU realizará a Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento, conhecida como Cairo+20, porque na capital egípcia nesse ano será avaliado o andamento das políticas duas décadas após a cúpula anterior sobre esse tema. Em 1994, a conferência concluiu com um plano de ação que representou uma grande mudança no debate internacional sobre a vinculação entre população e desenvolvimento, porque foram estabelecidas normas de atuação e se foi além do controle demográfico. A conferência do Cairo assentou as bases para que as políticas de população sejam abordadas com uma perspectiva social, que leve em conta a condição da mulher e seus direitos em matéria de saúde reprodutiva. Envolverde/IPS
* Uma versão deste artigo foi publicada originalmente pela agência mexicana de notícias de Comunicação e Informação da Mulher AC, Cimac.
(IPS) 

Economia verde divide a Ásia


Envolverde Rio + 20
28/6/2012 - 09h43

http://envolverde.com.br/ips/inter-press-service-reportagens/economia-verde-divide-asia/?utm_source=CRM&utm_medium=cpc&utm_campaign=28



por Marwaan Macan-Markar, da IPS
Slide112 300x223 Economia verde divide a Ásia
Bangcoc, Tailândia, 28/6/2012 – A cúpula Rio+20 fez ressaltar o descontentamento de ativistas e de alguns governos da Ásia com os conceitos de “economia verde” e “crescimento verde”, considerados uma fachada para manter um modelo que depreda os recursos naturais. A Comissão Econômica e Social para a Ásia e o Pacífico (Cespap), agência regional da Organização das Nações Unidas (ONU) integrada por 58 países, é favorável a empregar esses enfoques, mas gigantes como China, Índia, Irã e Rússia são contra.

A economia verde promove transformações nas formas de produção e de consumo para atender as problemáticas ambientais, mediante a inovação tecnológica e atribuindo valor econômico aos bens naturais. Ativistas afirmam que este enfoque só reforça o atual modelo de desenvolvimento, baseado na produção e no consumo excessivos. Esta divergência ficou evidente nos dias finais da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), realizada este mês no Rio de Janeiro.
O embaixador chinês na Tailândia, Guan Mu, publicou no dia 21 uma longa coluna no jornal The Nation, de Bangcoc, destacando a importância do desenvolvimento sustentável, mas evitando sempre usar conceitos como “economia verde” ou “crescimento verde”. “A China não só encontrou o caminho para um desenvolvimento sustentável adequado às suas condições nacionais, como fez importantes contribuições ao desenvolvimento sustentável em todo o mundo”, afirmou. “A China está disposta a fortalecer a cooperação e a unir esforços com outras partes para fazer mais contribuições ao desenvolvimento sustentável global sob o princípio de responsabilidades comuns mas diferenciadas”, destacou.
No dia anterior, em Manila, ativistas liderados pela Kalikasan, uma rede de grupos ambientalistas com sede nas Filipinas, protestaram diante da embaixada dos Estados Unidos contra a economia verde porque “enriquece as corporações”. “Nós, o povo, a quem não permitem falar na Rio+20 e que vemos nossos direitos pisoteados, não nos calaremos”, afirmou durante o protesto a secretária-geral da Asia Pacific Research Network, Lyn Pano. “Fortaleceremos nossas fileiras e lutaremos de forma constante” para rechaçar a economia verde, enfatizou.
Enquanto isso, o discurso da Cespap na Rio+20 sugeria que os países da Ásia e do Pacífico estavam a favor de adotar a economia verde em seus planos. “Estamos satisfeitos pelo fato de as políticas da economia verde serem reconhecidas como uma ferramenta importante para o desenvolvimento sustentável e para a erradicação da pobreza”, afirmou a secretária-executiva da agência, Noeleen Heyzer, durante uma reunião de alto nível.
A pressa das agências da ONU, incluindo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), para adotar as políticas de economia verde ignora temores asiáticos de que “sejam usados para prejudicar o marco aceito de desenvolvimento sustentável”, alertou Shalmali Guttal, pesquisadora principal do centro de estudos Focus on the Global South, com sede em Bangcoc. “Preocupa que esta seja uma tentativa dos países industrializados, os maiores poluidores do mundo, para imporem o protecionismo verde no mercado internacional”, declarou Guttal à IPS. “As nações em desenvolvimento da Ásia têm uma razão para estarem nervosas, porque este é outro esforço dos países industrializados de evitar os compromissos que assumiram de ajudar as nações do Sul a cumprirem suas metas de desenvolvimento”, ressaltou. “Os órgãos da ONU deveriam ouvir o povo, a que, supõe-se, estão ajudando”, acrescentou.
Os desacordos entre a Cespap e alguns governos da região sobre economia verde já havia ficado evidentes na sexta Conferência Ministerial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento da Ásia e do Pacífico (MCED-6), realizada no Cazaquistão em outubro de 2010. O comunicado de imprensa final desse encontro teve que ser reformulado. China, Índia, Irã e Rússia objetaram a expressão “economia verde” que tinha um grande destaque no texto e inclusive no título. O comunicado a mencionava como a estratégia apoiada pelos ministros asiáticos. A Cespap foi obrigada a divulgar novo comunicado de imprensa identificando o crescimento verde como “um enfoque (a mais) de desenvolvimento sustentável”.
Para um diplomata asiático em Bangcoc que pediu para não ser identificado, “este é um tema que se tornou polêmico. A partir de então, fiscalizamos a forma com a Cespap emprega os termos crescimento verde e economia verde sem seus documentos”, contou. “No âmbito interno, a maioria dos países contribui para o desenvolvimento de alternativas baixas em carbono e investimentos em tecnologia verde. Contudo, resistimos a sermos pressionados para apoiar a economia verde no contexto do desenvolvimento sustentável”, afirmou o diplomata.
A Cespap estava, de fato, na vanguarda do debate sobre crescimento verde, reconhecendo-o como uma alternativa de desenvolvimento sustentável. O conceito foi promovido na MCED-5, realizada na Coreia do Sul, em 2005. Três anos depois, após a crise financeira de 2008, muitos outros também apoiaram o conceito de economia verde, desde o Pnuma até o Grupo dos 20 países industrializados e emergentes.
“Os países asiáticos enfrentam a restrição de recursos, o preço do combustível sobe e isto é um impedimento ao seu desenvolvimento”, afirmou Rae Kwon Chung, diretor de meio ambiente e desenvolvimento da Cespap. “A pobreza não pode ser erradicada sem se resolver essa falta de recursos. As recentes crises energética e alimentar devem desatar uma grande mudança. Os países em desenvolvimento requerem um sistema energético distinto. A economia verde é uma das estratégias para pôr em prática o desenvolvimentos sustentável”, explicou à IPS.
A necessidade dessa mudança é evidente quando se observa que para produzir um dólar a região consome três vezes mais recursos naturais do que o resto do mundo, segundo informe da Cespap divulgado pouco antes da Rio+20. Muitas economias da Ásia e do Pacífico são importadoras de recursos e matérias-primas e sensíveis às altas de preços. Em 2011, as altas dos alimentos e do petróleo afundaram na pobreza 42 milhões de pessoas, enquanto no ano anterior 19 milhões haviam tido a mesma sorte.
Grandes nações, como China e Índia, e outras menores, como Camboja e Vietnã, são elogiadas no informe por adotarem programas para “reverdecer suas economias”. No entanto, as maiores economias regionais erguem uma bandeira vermelha quando o crescimento verde é colocado em outro contexto, como uma nova receita internacional e vinculante para o desenvolvimento sustentável do Sul global. “Isto continuará sendo um tema de divisão e as sessões da Cespap vão refletir isso. Alguns governos já disseram basta”, afirmou a fonte diplomática. Envolverde/IPS
(IPS) 

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Todos somos céticos


09/7/2012 - 08h41

http://envolverde.com.br/ambiente/artigo/todos-somos-ceticos/

por André Trigueiro*
Andre Trigueiro Todos somos céticos
André Trigueiro. Foto: Divulgação
A absurda “teoria da conspiração” em favor do aquecimento global.
Jornalista não é cientista, mas, quando cobre os assuntos da ciência, precisa entender minimamente os procedimentos e valores que regem esta comunidade. O que segue abaixo – em tópicos – é um resumo daquilo que me parece importante destacar sobre a cobertura dos assuntos ligados às mudanças climáticas.
Quem são os “céticos”?
A boa ciência, por princípio, tem o ceticismo como precioso aliado. São céticos todos os cientistas que norteiam seus trabalhos sem visões preconcebidas, dogmas ou interpretações pessoais da realidade desprovidas da correta investigação científica. É equivocado, portanto, chamar de “céticos” apenas aqueles que hoje se manifestam contra a hipótese do aquecimento global, ou da interferência da humanidade nos fenômenos climáticos.
A diferença entre opiniões pessoais e trabalhos publicados
Todo cientista tem o direito de compartilhar opiniões, impressões ou análises superficiais sobre o assunto que bem entender. Para a ciência, isto é tão importante quanto a opinião manifestada por qualquer leigo. Neste meio, vale o que foi publicado em revistas especializadas, de preferência as que adotam o modelo de revisão pelos seus pares, oupeer review em inglês (como a Science ou Nature, para citar apenas as mais famosas), onde o conselho editorial é composto por cientistas que indicarão outros cientistas. Estes terão o cuidado de aferir se a nova hipótese para a explicação de um determinado fenômeno seguiu rigorosamente os protocolos de investigação que regem o método científico. Sem isso, o conteúdo em questão – ainda que emitido por um cientista – se resume à categoria de mera opinião.
Na cobertura jornalística, em havendo controvérsia sobre um determinado assunto, convém verificar a quantidade e a qualidade dos trabalhos publicados. Até o momento, os estudos sobre mudanças climáticas se concentram majoritariamente em favor da hipótese do aquecimento global. As duas correntes científicas, neste caso, não são equivalentes nem proporcionais. Embora ambas mereçam respeito.
A ciência do clima
Essa é uma área nova de investigação científica extremamente complexa e imprecisa. Não há certezas absolutas (em ciência, pode-se dizer, nunca haverá 100% de certeza já que a hipótese prevalente pode um dia ser invalidada diante do surgimento de novas evidências) e a controvérsia alimenta o debate na busca daquilo que venha a ser a melhor explicação para o fenômeno observado. O próprio IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas)  reconhece em seus relatórios as várias incertezas ainda existentes. As modelagens do clima não explicam totalmente as variações de temperatura em função das emissões de gases-estufa. Ainda assim, há hoje mais certezas do que dúvidas de que o planeta está aquecendo e que os gases-estufa emitidos pela humanidade contribuem para esse fenômeno.
As oscilações naturais de temperatura do planeta em eras geológicas, a interferência do Sol nos fenômenos climáticos e todas as outras possibilidades que explicariam o que está acontecendo hoje são objeto de inúmeros estudos e pesquisas. Mesmo assim, segundo a corrente majoritária de cientistas, não há, até o momento, outra explicação mais convincente e embasada para explicar as mudanças climáticas do que a interferência humana.
Foi por isso que a maioria dos países assinou em 1992 o Acordo do Clima (que reconhece essa interferência no fenômeno climático), consolidou em 1997 o Protocolo de Kyoto (que estabeleceu prazos e metas para a redução das emissões até 2012), e definiu em 2011 o Mapa do Caminho de Durban (que estabelece o prazo limite de 2015 para que todas as nações apresentem seus compromissos formais de redução dos gases-estufa para implementação a partir de 2020).
Teoria da conspiração
Soa leviano – quase irresponsável – resumir o endosso à tese do aquecimento global de numerosos contingentes de cientistas e pesquisadores de algumas das mais importantes e prestigiadas instituições do mundo a uma conspiração que teria por fim “impedir o crescimento econômico dos países pobres ou emergentes no momento em que eles poderiam queimar muito mais combustíveis fósseis” ou “privilegiar setores da indústria, especialmente europeias, que desenvolveram patentes de novas tecnologias para a produção de energia mais limpa e renovável”. É incrível ver como declarações nesse sentido são repetidas à exaustão por pessoas que, em alguns casos, se dizem cientistas.
Com toda franqueza: como imaginar que a maioria absoluta dos países (ricos, emergentes e pobres) com suas muitas diferenças políticas, ideológicas, econômicas e sociais, sejam manipulados de forma tão grosseira em favor de uma gigantesca farsa que teria o poder de burlar a vigilância de suas respectivas comunidades científicas? Essa absurda teoria conspiratória relega a segundo plano a idoneidade, a honestidade intelectual e a autonomia de pessoas físicas e jurídicas do mais alto gabarito, em quase 200 países, que avalizam publicamente a hipótese do aquecimento global, e com influência humana. Em se tratando apenas de personalidades brasileiras, deve-se mais respeito a figuras como José Goldemberg, Paulo Artaxo, Carlos Nobre, Luis Pinguelli Rosa, Roberto Schaeffer, Suzana Kahn, Gylvan Meira, entre tantos outros que são reconhecidos dentro e fora do país, inclusive pela produção acadêmica que lhes afere enorme credibilidade.
Como imaginar que esse suposto “movimento orquestrado em favor do aquecimento global” seja ainda mais poderoso do que o lobby dos combustíveis fósseis (ou mesmo das empresas do setor automobilístico), a quem a hipótese da elevação da temperatura do planeta pela queima de óleo, carvão e gás tanto incomoda por razões óbvias? É inegável o poder que as companhias de petróleo ainda possuem para financiar campanhas, definir políticas públicas e os resultados de Conferências da ONU, como foi o caso recentemente da Rio+20, onde não se conseguiu reduzir em um único centavo aproximadamente US$ 1 trilhão anuais em subsídios governamentais para os combustíveis fósseis no mundo inteiro.
A justiça é cega?
Merecem registro decisões históricas da Justiça norte-americana – baseadas única e exclusivamente no conhecimento científico já construído sobre o aquecimento global – de que o dióxido de carbono (CO2) é um “gás poluente” (Suprema Corte/abril de 2007) e que o governo federal tem competência para regular as emissões de gases-estufa (Tribunal de Apelações, semana passada, por unanimidade). Como os juízes não são especialistas no assunto, foram buscar a informação mais confiável e balizada possível na literatura, junto a peritos e instituições renomadas acima de quaisquer suspeitas. Neste caso, o trabalho dos juízes se confunde com o dos jornalistas na busca pela informação mais confiável.
O risco
Se não há 100% de certeza de que os gases-estufa emitidos pela humanidade – especialmente pela queima progressiva de óleo, carvão e gás – contribuem efetivamente para o aquecimento global, por que se deveria apressar investimentos em mitigação (redução das emissões) e adaptação (prevenir risco de mortes e importantes perdas materiais em função dos eventos extremos, elevação do nível do mar, etc.)? A resposta é simples e leva em conta a mesma lógica que determina a opção por um seguro de vida, da casa ou do carro. Em todas essas modalidades de seguro, a probabilidade de acontecer algo indesejado é muito menor do que aquela que os cientistas apontam em relação ao clima. Ainda assim, muitos de nós consideram sensato recorrer a companhias de seguro para se precaver de eventuais riscos, por mais remotos que sejam.
Há outra questão importante: todas as recomendações do IPCC para que evitemos os piores cenários contribuiriam para um modelo de desenvolvimento mais inteligente e saudável. Reduzir as emissões de gases poluentes, combater os desmatamentos, tratar o lixo e o esgoto, promover a eficiência energética, priorizar investimentos em transportes públicos de massa, entre outras medidas, geram mais qualidade de vida, saúde e bem-estar. São as chamadas “políticas de não arrependimento”. Se em algum momento for proposta outra hipótese robusta para as variações do clima, o que se preconiza agora como “o certo a fazer” não deixará de ser “o certo a fazer”. Mudaria apenas o senso de urgência para que os mesmos objetivos sejam alcançados.
Qual é a prioridade?
Num mundo onde ainda há tanta pobreza, fome e miséria, pode-se defender como prioridade a canalização de recursos para a solução imediata destes problemas. É um pensamento legítimo. Mas o caminho do desenvolvimento pode ser sustentável e inclusivo. Uma agenda não exclui a outra. Uma questão dada como certa por boa parte dos cientistas é que o não enfrentamento das mudanças climáticas tornará a situação dos pobres e miseráveis ainda mais angustiante e aflitiva. Melhor agir, e logo.
* André Trigueiro é jornalista com pós-graduação em Gestão Ambiental pela Coppe-UFRJ onde hoje leciona a disciplina Geopolítica Ambiental, professor e criador do curso de Jornalismo Ambiental da PUC-RJ, autor do livroMundo Sustentável – Abrindo Espaço na Mídia para um Planeta em Transformação, coordenador editorial e um dos autores dos livros Meio Ambiente no Século XXI, e Espiritismo e Ecologia, lançado na Bienal Internacional do Livro, no Rio, pela Editora FEB, 2009. É apresentador do Jornal das Dez e editor-chefe do programa Cidades e Soluções, da Globo News. É também comentarista da Rádio CBN e colaborador voluntário da Rádio Rio de Janeiro.
** Publicado originalmente no site Mundo Sustentável.
(Mundo Sustentável) 

Fachadas serão multifuncionais


29/Junho/2012

Fachadas serão multifuncionais, diz especialista da Alemanha



Doreen Kalz acredita que sistema terá função ativa no desempenho do prédio, seja para promover aquecimento, resfriamento, ou mesmo geração de energia





Luciana Tamaki, da revista Téchne







Vladitto/Shutterstock
arqu
O futuro de prédios não-residenciais envolverá fachadas de alta qualidade, segundo Doreen Kalz, engenheira mecânica do Instituto Fraunhofer da Alemanha. A especialista foi uma das palestrantes do Sasbe 2012 (Smart and Sustainable Built Environments), realizado entre os dias 27 e 29 de junho no Centro Brasileiro Britânico, em São Paulo.




Hoje prédios são grandes consumidores de energia - só o consumo de ar-condicionado subiu 7,5% em 2011 (dados globais). De acordo com Doreen, se edifícios novos tendem a seguir o conceito de energia zero, então a solução passa por os prédios demandarem menos energia para aquecimento e resfriamento. 
Atualmente, as fachadas desempenham um papel passivo. Mas isto deve mudar. A fachada deve ter uma função ativa no desempenho do prédio, seja para promover aquecimento, resfriamento, ou mesmo geração de energia.
A alta qualidade das fachadas envolve também a multifuncionalidade dos elementos. Os vidros podem não só controlar os raios solares, como também serem eles próprios os geradores de energia com a aplicação de células voltaicas em sua superfície. Desta forma, não só paredes cegas e telhados, mas também as janelas podem gerar energia.
Outra necessidade será incorporação de tecnologia para se usar menos energia no aquecimento ou resfriamento. Primeiramente, os prédios devem demandar menos energia. "Se a temperatura é confortável entre 20°C e 27°C, é preciso resfriar os edifícios?", questionou Doreen.
A palestrante citou o uso de ventilação natural, adoção de massa térmica incorporada nas paredes para conforto térmico, sistemas que aproveitam a energia geotérmica para dissipar a carga térmica do edifício.
Para o Brasil, sistemas com aproveitamento de energia solar são especialmente interessantes, por dispormos deste recurso natural com certa abundância. Há sistemas de resfriamento por água, de circuito aberto ou fechado, que podem fazer o trabalho de resfriar a temperatura sem o uso de energia elétrica.
As principais soluções, destacou Doreen, devem seguir uma abordagem holística. Não adianta somente introduzir componentes tecnológicos, mas sim integrar e adaptar as soluções à realidade do prédio em questão, do local, do ambiente, do uso, de todos os fatores em conjunto.