quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Concessionária ecológica

25/09/2013 10:57:00

Concessionária ecológica

Mercalf Jundiaí é um exemplo a ser seguido
Marcos Villela
Concessionária Mercalf
Cada vez mais a sustentabilidade de uma atividade econômica pode ser vista em toda a sua cadeia e não apenas em uma de suas etapas. Um caminhão, por exemplo, pode ter o seu impacto ambiental analisado desde a extração do minério para a sua fabricação até a reciclagem após a sua vida úti. E agora um importante agente, responsável pela sua chegada ao mercado e a sua manutenção durante a sua vida, também passa a integrar a cadeia de sustentabilidade. Trata-se da concessionária.
Recentemente, foi inaugurada a Mercalf Jundiaí, autorizada Iveco que, mesmo não sendo a primeira em trazer conceitos de sustentabilidade, talvez seja a mais ampla e que pode ser referência para todo o setor.

Assim, para que seja um exemplo a ser seguido, a revista Transporte Mundial foi visitá-la e decidiu mostrá-la na seção “Transporte Responsável”. Todos os conceitos de sustentabilidade também são inteiramente aplicáveis à sede de uma transportadora.
A ideia de se fazer uma concessionária verde não partiu de nenhuma exigência legal ou da Iveco, mas da consciência dos empresários Hélio e Cristina Cangueiro, concessionários Iveco em cinco regiões (Sumaré, Piracicaba, Campinas, Bauru e Jundiaí, todas cidades do interior de São Paulo), que já têm um estilo de vida ligado à natureza por meio do esporte e do ecoturismo.
Presente à inauguração, o presidente da Iveco, Marco Mazzu, comentou: “Não temos referência de outra casa com todas as características de sustentabilidade mostradas pela Mercalf. Talvez seja a mais verde do mundo”. A Mercalf é a 100ª concessionária Iveco no Brasil.
A partir de um terreno irregular, a ideia de sustentabilidade começou desde o primeiro dia da obra. Em vez de retirar toneladas de terras para tornar o terreno plano, trabalho que demandaria dezenas de viagens de caminhões basculantes para transportá-las até um aterro, os empresários optaram por aproveitar a terra resultante do corte do talude lateral (plano inclinado que limita um aterro) para cobrir as partes mais baixas do terreno.  
E assim seguiu todo o projeto. As colunas de concreto de sustentação da área da oficina foram construídas com tubulações de papelão em vez do uso de armações de madeiras que ao final da obra seriam descartadas. Já os papelões foram enviados para reciclagem.
Na tarde que passamos na concessionária, pudemos observar que nenhuma lâmpada estava ligada. A concessionária foi projetada para aproveitar ao máximo a luz natural. Além de grandes áreas envidraçadas, inclusive entre as salas de reunião da diretoria, blocos de concretos foram pintados em branco, e uma parte do telhado do showroom tem claraboias e telhas translúcidas.
Para reduzir o uso de ar-condicionado, 200 m2 do showroom e da área administrativa foram feitos dentro do conceito de telhado verde, ou seja, receberam um gramado que exerce tripla função: ajuda a reduzir em até 6º a temperatura no interior da concessionária, também no recolhimento da água da chuva que é armazenada em uma cisterna para posterior reuso, e no isolamento acústico. Para reforçar essas funções, na parte interna do showroom, foi construído um painel verde em uma das paredes. Trata-se de um gramado vertical com plantas ornamentais que consome apenas dois litros de água por dia por meio de um sistema de gotejamento e ajuda na manutenção da umidade do ar, além de exercer um apelo estético.
Talvez as pessoas não tenham ideia do quanto uma concessionária gasta de água, mas gasta muito. Por isso, várias medidas foram tomadas para a economia de água. “A economia de água pode chegar a até 600 litros/dia”, calcula Cristina Cangueiro, diretora da Mercalf e também a arquiteta responsável pelo projeto. Com grandes dimensões, o telhado da oficina, por exemplo, também tem calhas dedicadas ao recolhimento da água da chuva depositando-a em uma caixa d’água de 15 000 litros não potáveis. Essa água é utilizada para lavagem dos caminhões, vasos sanitários e para irrigação dos jardins.
A sustentabilidade segue com o aproveitamento da energia solar na metade dos postos de iluminação dos pátios e no aquecimento de água, inclusive da água utilizada para a lavagem dos caminhões, pois a água aquecida quebra as moléculas de gordura e dissolve melhor impurezas na carroçaria dos caminhões. Além de gastar bem menos água, também reduz em até 50% de desengraxante e de outros produtos químicos geralmente utilizados para limpeza de veículos.
Os chuveiros para banho dos funcionários no final do expediente são híbridos (solar-elétrico). “Ao abrir a torneira, primeiro vem a água aquecida pelo Sol e, à medida que ela for esgotando, um termostato aciona a energia elétrica para o final do banho”, explica Cristina.
O terreno, de 15 000 m2, foi totalmente recoberto por blocos intertravados e concregrama (bloco vazado com grama) instalados sobre uma camada flutuante de areia que permite absorção natural da água da chuva, evitando a impermeabilização do solo e a sobrecarga das galerias fluviais públicas.
“Na medida em que avançamos com a obra, surgiam sugestões de todos os lados. O projeto entusiasmou os empregados da empresa e muitas das ideias surgidas foram adotadas. Uma delas é o uso de portas feitas de madeira de reflorestamento e outra é a adoção de uniformes feitos com um tecido que tem em sua composição uma porcentagem de fibras oriundas de garrafas PET. Além disso, árvores frutíferas (banana, laranja, limão e manga) foram usadas no paisagismo”, acrescenta Cristina.
O casal Hélio e Cristina tem um filho portador de necessidades especiais, portanto, todos os recursos necessários de acessibilidade não foram esquecidos. “Foi pensando nisso que chegamos tão longe. Estamos felizes e orgulhosos”, conclui Cristina Cangueiro.
Marcos Villela
Imagens Arquivo