Primeiro estudo sobre a sustentabilidade da arquitetura tradicional portuguesa
A Escola de Engenharia da Universidade do Minho (UMinho) está a quantificar o contributo dos princípios utilizados na arquitetura tradicional portuguesa para a sustentabilidade do setor dos edifícios, nomeadamente ao nível do comportamento térmico passivo. É o primeiro estudo do género no país e é financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia.
A equipa vai avaliar qualitativa e quantitativamente as vantagens da arquitetura tradicional (baseada na observação e na experiência de gerações) e procurar adaptá-las à construção atual, nomeadamente na reabilitação e preservação do património existente. O projeto vai avaliar até 2015 o desempenho térmico e caracterizar as tecnologias usadas em diferentes climas, como as casas de granito com varandas envidraçadas (Beira Alta), os Palheiros de Mira (Litoral Centro) e as casas-pátio em terra (Alentejo).
“Estes edifícios tradicionais eram em geral concebidos de modo a garantir o nível máximo de conforto possível, utilizando os parcos recursos existentes à época e recorrendo principalmente a estratégias passivas de climatização, pois não havia energia elétrica nem os convencionais sistemas de climatização. Sabemo-lo hoje cientificamente porquê, mas os nossos antepassados já o faziam graças aos seus conhecimentos empíricos”, diz o investigador responsável Ricardo Mateus, do Centro do Território, Ambiente e Construção (C-TAC) da UMinho, que participa no projeto c
om Luís Bragança e Jorge Fernandes.
Construções adaptam-se ao clima e à região
As tecnologias dos edifícios tradicionais são desconhecidas por muitos arquitetos e engenheiros. “Há reconstruções em que se substitui erradamente taipa por tijolo”, diz Ricardo Mateus, esperando que o estudo ajude a sensibilizar a comunidade e a indústria. Os investigadores vão monitorizar três casos: a casa granítica da Beira Alta, com varanda envidraçada orientada a sul para aproveitar o sol, compartimentos com poucas aberturas para o exterior e organizados em redor da lareira; os palheiros de Mira, na costa do distrito de Coimbra, são casas de pescadores em madeira, numa zona em que abundavam pinhais, que atingiam até três pisos; e a casa-pátio do Alentejo, com o pátio, as fontes e a vegetação interior, as paredes espessas e os vãos pequenos a limitarem a entrada do sol durante o verão.
A pesquisa dos três cientistas da UMinho venceu recentemente o prémio de melhor artigo na conferência internacional “Vernacular Heritage & Earthen Architecture: Contributions for Sustainable Development”, uma das principais no mundo nesta área. O trabalho “The potential of vernacular materials to the sustainable building design” foi distinguido entre os 400 a concurso, avaliados por 280 peritos, e foi publicado pela editora CRC Press/Taylor & Francis.
*** Nota da Universidade do Minho ***