10/09/2013 - 13h15
Franceses ganham dinheiro alugando jardim particular para acampamentos
http://www1.folha.uol.com.br/bbc/2013/09/1339636-franceses-ganham-dinheiro-alugando-jardim-particular-para-acampamentos.shtml
DA BBC BRASIL
Em razão da crise, um novo sistema de hospedagem está ganhando espaço na França: acampar no jardim de uma residência particular, que oferece o espaço por preços mais baixos do que um camping tradicional.
O site Campe Dans Mon Jardin (acampe no meu jardim) já reúne 500 jardins particulares na França.
"É melhor do que fazer um acampamento selvagem (em plena natureza, o que é proibido na França) e há a vantagem do contato com moradores da região", disse à BBC Brasil Alex Bluma, sócio do site.
A reserva é feita pela internet e o hóspede só precisa levar sua barraca. Os preços são livres, mas o site recomenda que os donos dos jardins cobrem 5 euros (R$ 15) por pessoa e 15 euros (R$ 45) no caso de um trailer ou motor-home.
Os valores representam pelo menos a metade dos preços cobrados por um camping tradicional.
Alguns proprietários, geralmente aposentados que procuram companhia, chegam a não cobrar nada dos hóspedes, afirma Bluma.
"Boa parte dos usuários e dos donos de jardins adotou o sistema por razões econômicas. Mas, para muitos, o aspecto da convivialidade, com a troca de experiências entre visitantes e moradores locais, é importante", diz Bluma.
Ele conta que inicialmente foi necessário entrar em contato com os donos de jardins, mas, nos últimos meses, o sistema ganhou destaque e os proprietários passaram a oferecer seus jardins diretamente ao site.
Olivier Dufour, fundador de Campe Dans Mon Jardin, teve a ideia de criar o site no ano passado, após passar um ano acampando na Austrália, fazendo, em vários casos, "acampamentos selvagens".
Os donos dos terrenos colocam à disposição dos visitantes a cozinha e o banheiro de suas casas.
INSTALAÇÕES ESPECIAIS
Mas alguns, como o aposentado Yann Guilloux e sua esposa, criaram instalações no jardim especialmente para acolher os hóspedes que acampam.
Ele contou à BBC Brasil que instalou no jardim de sua propriedade no golfo do Morbihan, na região da Bretanha, uma ducha e um banheiro químico em uma cabana de madeira no estilo "chalé suíço" e também criou um espaço em sua garagem com fogareiro elétrico e geladeira, além de mesa, cadeiras e luminárias.
Ele hospedou nestas férias de verão 30 pessoas, entre elas casais com filhos pequenos. Guilloux cobra 5 euros por pessoa.
"Não pergunto às pessoas o motivo de querer acampar no meu jardim. Mas penso que a maioria tem um orçamento pequeno e busca passar férias a preços acessíveis", diz Guilloux.
"Não é um negócio, simplesmente cobramos algo para não perdermos dinheiro", afirma.
Cyril Callejon, 28 anos, acampou pela primeira vez no jardim de um particular em abril passado, quando as temperaturas ainda eram baixas na França.
Produtor de um site, ele fazia uma viagem profissional nos arredores de Saint-Etienne, no centro da França, e não encontrou campings tradicionais abertos nesta época do ano. Seu objetivo era fazer uma viagem com baixos custos.
"Acampar no jardim de uma casa é muito mais econômico, prático e caloroso em termos de contato humano", diz.
Ele pagou apenas 2 euros (R$ 6) pela noite. "Era um casal de aposentados que procurava companhia. Eles ainda serviram o café da manhã gratuitamente", conta.
Segundo Bluma, do site Campe Dans Mon Jardin, reconhece que o sistema de alugar o jardim pode causar, aos donos dos locais, receio em relação a questões de segurança.
SEGURANÇA
"É o volume de participantes que tranquiliza. Quanto maior, atrai mais pessoas. É como o início das vendas online. Muitos tinham receio de colocar seus dados bancários na internet", diz.
O site já se expandiu e inclui alguns jardins em mais de uma dezena de países. Entre eles, Portugal, Espanha, Itália, Áustria e até Índia e Turquia.
"Agora vamos focar na internacionalização do site, principalmente em países do hemisfério sul", afirma, acrescentando que o Brasil também faz parte do projeto.
O sistema de aluguel de jardins está sendo criticado pela Federação Francesa de Campings e Caravanas, que acusa o site de "concorrência desleal".
"O conceito penaliza as verdadeiras áreas de camping, que fizeram esforços para se adaptar às novas regras de segurança, fixadas por lei em 2010", afirma uma porta-voz da federação.