segunda-feira, 3 de junho de 2013

99 parques em São Paulo: Presentão para Cotia...

31/05/2013 - 03h00

Prefeitura de SP quer doar viveiro de árvores que abastece capital a Cotia

EDUARDO GERAQUE
DE SÃO PAULO


O parque municipal Cemucam, incluído seu riquíssimo viveiro de árvores --o único que existe para abastecer a capital paulista--, pode ser doado para a cidade de Cotia.
O prefeito Fernando Haddad (PT) e o secretário Ricardo Teixeira (Verde e Meio Ambiente) acataram um pedido da Prefeitura de Cotia, que quer ficar com a área.
O parque tem uma peculiaridade: embora pertença à Prefeitura de São Paulo, está dentro de Cotia; ele foi cedido a São Paulo na década de 1960, em uma permuta com o governo do Estado.
Tanto o prefeito quanto o secretário pretendem, principalmente, reduzir o custo com a administração de parques. O Cemucam custa à prefeitura R$ 150 mil por mês.
Depois de o projeto ficar pronto, ele será enviado para os vereadores, que terão que aprová-lo ou não. Não há prazo para isso ocorrer.
Especialistas em botânica da prefeitura temem a cessão do local --criado em 1968 e único parque municipal fora do território paulistano.
O imenso viveiro Harry Blossfeld, com seus 100 mil metros quadrados de área produtiva, é um patrimônio botânico único na cidade, que fará falta, segundo técnicos que aceitaram falar à Folha sob anonimato.
É de lá, em Cotia, perto de remanescentes de mata atlântica, que saem as sementes e as mudas de árvores para repovoar as ruas da capital.

TEMOR
Mesmo a informação dada pela prefeitura --de que o viveiro será transferido para um dos outros 92 parques públicos de São Paulo-- não diminui o temor dos analistas.
O processo de produção de uma árvore, como jacarandá-da-bahia, cedro-rosa, pau-ferro, ipê-amarelo e muitas outras, é intrincado.
O passo essencial é que as matrizes (árvores plantadas em solo adaptado há décadas) produzam sementes.
No caso do Cemucam, há produção anual de 150 quilos e a geração de 90 mil mudas.
Depois, com as sementes em mãos, o trabalho é artesanal, até que uma muda possa sair do viveiro e ser plantada em algum lugar.
Segundo os técnicos, é impossível replantar as matrizes que produzem as sementes em outra região. A taxa de perda seria grande, calculam.
Mesmo que a prefeitura transfira estufas e equipamentos para a germinação para outro lugar, o banco genético é intransferível.
"No caso das matrizes, a única solução é plantar tudo novamente", afirma Marcos Buckeridge, botânico da Universidade de São Paulo.
Agora, diz, como essas plantas só dão flores depois de 20 ou 30 anos, elas não poderão gerar mudas tão cedo. "Os custos dessas transferências são altíssimos."
O Cemucam tem árvores raras, ameaçadas de extinção, e outras, como palmeiras. Neste caso, será preciso transferir 15 mil exemplares.

SEM ÁRVORES
A cidade de São Paulo conta com mais dois viveiros, mas que não produzem árvores --apenas outros tipos de plantas, como as arbustivas.
Um deles está dentro do parque do Carmo (zona leste paulistana) e outro no Manequinho Lopes, ao lado do parque Ibirapuera (zona sul).
Esses espaços até recebem árvores, mas apenas as mudas doadas por obrigação legal, dentro dos processos de compensação ambiental, tanto pelo setor público quanto pela esfera privada.

CUSTO
A gestão anterior, do prefeito Gilberto Kassab (PSD), começou o estudo para a montagem de um novo viveiro, no parque Anhanguera, em Perus (zona norte). O alto custo da operação, na ocasião, inviabilizou a continuidade do processo.



http://www.avaaz.org/po/petition/Contra_a_doacao_do_Viveiro_de_Cotia_e_do_Parque_CEMUCAM/?cpEkReb

População na faixa dos 60 ganha dois anos de expectativa de vida, mas passa mais tempo doente

Idosos de São Paulo perderam anos de vida saudável na última década
População na faixa dos 60 ganha dois anos de expectativa de vida, mas passa mais tempo doente

Dados são de estudo da Faculdade de Saúde Pública da USP que acompanha diferentes gerações de idosos
CLÁUDIA COLLUCCIDE SÃO PAULO
Os idosos de São Paulo estão vivendo mais, mas em piores condições de saúde. Na última década, a taxa de de incapacidade por doenças cresceu 78,5% entre os homens e 39,2% entre as mulheres acima de 60 anos.
Entre 2000 e 2010, essa população ganhou, em média, dois anos a mais de expectativa de vida, mas perdeu até três de vida saudável.
Os dados vêm de um estudo inédito obtido pela Folha feito a partir de um projeto da Faculdade de Saúde Pública da USP que acompanha diferentes gerações de idosos desde 2000.
A expectativa de vida de homens de 60 a 64 anos passou de 17,7 para 19,7 anos. No mesmo período, o número de anos de incapacidade pulou de 4,4 para 7,2. Entre as mulheres da mesma faixa etária, os anos de incapacidade passaram de 9,4 para 13,2.
Esse descompasso entre a vida longa e a vida saudável também vem sendo observado em outros países. No ano passado, um estudo da Escola de Saúde Pública de Harvard comparou as condições de saúde entre 1990 e 2010 em 187 países.
A conclusão foi que a expectativa de vida cresceu, em média, cinco anos, mas pelo menos um ano foi de vida com incapacidade.
"Saúde significa mais do que retardar a morte ou elevar a expectativa de vida ao nascer. Precisamos entender melhor como ajudar as pessoas a viver os anos extras em boas condições de saúde", afirma Joshua Salomon, professor de Harvard e um dos autores do estudo.
PREVENÇÃO
A boa notícia é que, segundo o estudo da USP, vale a pena investir em prevenção mesmo na velhice, seja incentivando a prática de atividades físicas e dieta equilibrada seja mantendo sob controle as doenças já instaladas.
"Isso quebra preconceitos. As pessoas pensam que prevenção só cabe aos jovens, mas ela deve ser incentivada para que os idosos tenham mais qualidade de vida independentemente das doenças que já tenham", diz o geriatra Alessandro Campolina, autor do estudo da USP.
O médico também fez projeções sobre o impacto das doenças que mais afetam os idosos. Se a hipertensão e a diabetes fossem controladas, por exemplo, os homens ganhariam até seis anos de expectativa de vida livre de incapacidade.
O aposentado Juan Gimenez Torres, 76, aposta nisso. Controla a pressão alta com remédios, e nem a prótese que tem no joelho é desculpa para fugir da academia.
Praticando atividade física três vezes por semana, perdeu oito quilos e atingiu a marca que desejava: 80 kg.
"Muito idosos acham que estão velhos para começar qualquer coisa. É um erro. Nunca é tarde. Tem que parar de ficar só reclamando."