"Generosidade, o valor fundamental para a sustentabilidade da Granja Viana"
Dom, 16 de Janeiro de 2011 12:39 .
Fonte:
http://www.portalviva.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=4012:generosidade-o-valor-fundamental-para-a-sustentabilidade-da-granja-viana-&catid=115:rogerio-ruschel&Itemid=277
Autor: Rogerio Ruschel
Já não restam dúvidas científicas de que o desenvolvimento sustentável é o único modelo capaz de evitar a degradação das condições de vida e finalmente a inevitável extinção de várias espécies de flora e fauna do planeta, entre as quais provavelmente a do Homo Sapiens - isto é, eu, você e nossos descendentes.
Temos que nos preocupar com isso, é claro, mas para salvar o planeta precisamos começar salvando o ambiente em que vivemos, o local onde habitamos. Então o que fazer? Quais são os valores necessários para termos uma Granja Viana Sustentável, que preserve não só o meio ambiente do bairro, mas também nossa herança afetiva - identificada por pesquisa do Rotary Clube Granja Viana em 2008 que tive a alegria de coordenar - e a qualidade de vida do granjeiro, que se auto-define como simples, amante do verde, “caipira”, educado, bom garfo e que aprecia os amigos?
Não tenho todas as respostas, mas suspeito de algumas. Para buscar a sustentabilidade uma comunidade deve adotar como padrão de comportamento ser ambientalmente correta, socialmente justa e econômicamente viável – o conhecido triple bottom line. Mas entendo que na construção de uma Granja Viana mais sustentável (ou menos “selvagem” como está se tornando), temos que acrescentar uma qualidade humana em risco de extinção chamada Generosidade – e que a Generosidade é o quarto elemento do triple bottom line.
Generosidade é a qualidade do que é generoso, pródigo, do que perdoa fácilmente, nobre, leal - a virtude de quem acrescenta algo ao próximo. Generosas são tanto as pessoas que se sentem bem em dividir algo com mais pessoas porque isso as fará bem, tanto quanto aquelas pessoas que dividirão bens tangíveis ou intangíveis com outros, sem a necessidade de receber algo em troca. É o contrário da Ganância.
No conceito “socialmente justo” da sustentabilidade estão incluídos aspectos de fundamental importância como o combate à corrupção, a construção de valores humanistas, o respeito a direitos e deveres, a valorização da ética, a exclusão do analfabetismo, a redução das diferenças sociais, etc. Mas se quisermos ter uma Granja Viana Sustentável, teremos que incluir outros aspectos socialmente desejáveis que requerem o exercício da Generosidade, tais como a educação de não buzinar, a gentileza de ceder espaço, o respeito com os animais, pedir licença e agradecer, a nobreza de cuidar também do “verde” comunitário, a elegância de saber ser simples, a finesse de evitar o exibicionismo, o esforço para fazer e manter amigos, o compartilhamento de valores comunitários e outros. Porque estes aspectos de comportamento individual são os que, de fato, caracterizam os granjeiros.
No livro “Princípios de Filosofia” René Descartes apresenta a Generosidade como “uma despertadora do real valor do Eu”. É filosófico, claro, mas é simples: a Generosidade é uma qualidade de quem coloca os interesses de terceiros no mesmo plano dos seus interesses pessoais se isto for necessário para resolver um problema ou dilema que aflige a todos, a busca pelo entendimento. Não é exatamente disto que nossa Granja Viana Sustentável necessita?
Na constituição brasileira isto se chama “interesses difusos” - aqueles de interesse do conjunto da sociedade – e são inalienáveis. Ou seja: talvez até mesmo em respeito à Constituição, a Generosidade deveria ser preservada como um dos fundamentos da comunidade granjeira, e a Ganância deveria ser execrada porque ofende nosso direito coletivo “histórico’ e cultural de sermos simples, amantes do verde, “caipiras”, educados, bons garfos e apreciadores das amizades – nossa identidade comunitária.
Por isto a construção de uma Granja Viana Sustentável - ambientalmente correta, socialmente justa e econômicamente viável – requer o altruísmo individual da Generosidade como valor de interesse coletivo. Requer dos granjeiros compreenderem, receberem com paciência e “re-educarem” os novos moradores que chegam estressados de São Paulo, aos magotes imobiliários. Temos que invocar os valores que os pioneiros trouxeram no tempo das ruas sem asfalto e solidáriamente compartilhá-los com os recém-chegados – até porque se não o fizermos, poderá acontecer o contrário, vamos todos virar “paulistanos estressados”.
Então, todos aqueles que se consideram “granjeiros da gema” têm que dar o exemplo de nossos valores para os novos moradores nessa era da invasão imobiliária. Devemos mostrar o que é ser um “granjeiro” através de pequenas atitudes como continuar evitando “asfaltar” jardins mesmo que dê trabalho para varrer, participando de campanhas e movimentos de interesse comunitário mesmo sendo pessoas muito ocupadas, denunciando devastadores ambientais mesmo que sejam pessoas importantes, prestigiando o comércio local para que tenham preços e produtos cada vez mais competitivos, incentivando boas práticas mesmo que não sejam de pessoas conhecidas e, é claro, convidando novos moradores para um dedo de prosa e vinho.
Mais do que isso, poderíamos mostrar para eles nosso sentido de união comunitária, um gesto de altruismo generoso. Uma sugestão bem atual: porque não paramos de só reclamar do trânsito da Raposo Tavares (a qual ocupamos com uma pessoa em cada veículo) e tomamos uma atitude concreta para minimizar este problema, através de um programa “granjeiro” de carona seletiva? Será que não podemos fazer nada enquanto o “governo” não decidir nos abençoar com uma solução (“salvadora”?) de 2 bilhões de Reais com a construção de um monorail ou assemelhado? Aliás, o governador Alckmin acaba de anunciar investimentos em transporte na Região Metropolitana e nós ficamos de for a, de novo…
Teríamos forças para invocar nossos mais profundos valores de convivência amigável, romper a preguiça e a inércia e implantar um sistema de carona solidária? Será que precisaremos de uma lei que nos obrigue a ter bom senso? Será que os condomínios, que se justificam por prestar serviços para facilitar a vida dos moradores, não poderiam ter a generosidade inteligente de tomar esta iniciativa?
Pois é, estimado(a) leitor ou leitora. Se você ainda não percebeu a importância da Generosidade como parte da essência de uma vida sustentável na Granja Viana para a preservação dos valores que cultuamos, basta pensar no seu oposto, a Ganância, tomando conta de tudo por aqui. Com certeza você vai concordar comigo que a Generosidade realmente é uma das coisas que a Granja Viana Sustentável necessita, o quarto elemento do triple bottom line granjeiro.
Rogerio Ruschel
É granjeiro há 22 anos, rotariano, consultor em sustentabilidade socioambiental, um idealista feliz, talvez um sonhador. E quer continuar sendo.
Artigo: "Sustentabilidade, valor intangível", por Rogério Ruschel.
Qui, 27 de Janeiro de 2011 12:03 .
Fonte:
http://www.portalviva.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=4088:artigo-sustentabilidade-valor-intangivel&catid=115:rogerio-ruschel&Itemid=277
Frequentemente ouço empresários dizerem que a busca por sustentabilidade socioambiental por uma empresa atrapalha sua necessária busca por lucro; que meio ambiente atrapalha o desenvolvimento – a chamada “Síndrome do Bush”; que a sustentabilidade socioambiental de uma empresa é um valor intangível que não dá lucro.
Estão todos equivocados – e perdendo dinheiro, muito dinheiro.
Na verdade ainda existem pessoas que não dão valor a valores intangíveis. Para situá-los, lembraria o livro “The Business Case for Corporate Citizenship” (Arthur D. Little, 2002), que informa que em 1981 o valor das companhias relacionado a intangíveis era de 17%, e que este valor saltou para impressionantes 71% em 1998 - e deve ser ainda mais elevado neste princípio de Século XXI porque em muitas empresas a marca ou a sua cultura empresarial é seu maior patrimônio.
Intangivel é algo no qual não podemos tocar, como solidariedade, alegria e “o jeito de ser” de uma pessoa. Do ponto de vista da Cultura, a experiência acumulada de valores como esses, impressa no DNA de uma sociedade que constitui uma Nação, é um bem intangível. E isto vale dinheiro? Sim, até mesmo no Brasil: o Ministro Gilberto Gil propôs o tombamento de intangibilidades da cultura brasileira como bens sobre os quais será possivel aplicar legislação de incentivo fiscal, como uma obra de arte, um filme e a publicação de um livro, bens tangíveis, nos quais se pode tocar.
Credibilidade, confiança, honestidade e reputação também são valores intangíveis. Mas podem ser valorados? Sim: a preferência de uma pessoa – no papel de cidadão, eleitor ou consumidor - por uma proposta, um candidato ou empresa que demonstrem ou ofereçam estes valores é fácilmente tangibilizada em números. Alguns exemplos: os quase 100.000 sócios da Fundação SOS Mata Atlântica ou ainda a preferência pela compra de produtos mais caros de uma empresa “conhecida” significam valor econômico.
Ou seja: valores intangiveis podem se transformar fácilmente em vantagem competitiva para pessoas e para empresas e o mundo dos negócios oferece exemplos concretos – o mais conhecido é o preço que uma marca pode alcançar, mesmo quando todo mundo sabe que este valor não corresponde a ativos mensuráveis como um equipamento, um prédio ou um caminhão.
A lógica de mercado
Investidores já descobriram isto: ações de empresas com reputação de sustentabilidade socioambiental têm alcançado valorização superior em até 12% em relação às ações de empresas sem este valor intangível. Em 2011 o patrimônio dos fundos baseados no ISE da Bovespa atingiu R$ 910 bilhões. E se você quiser saber porque leia um artigo de Celso Bacarji na revista Razão Contábil de janeiro/2011 que também explica a “fila de espera” por empresas brasileiras que desejam participar do ISE.
Outro exemplo? O IFC – International Finance Corporation, braço financeiro do Banco Mundial, ofereceu autonomia ao antigo Banco Real/ABN-AMRO na análise de risco de empréstimos do produto Financiamento Socioambiental IFC a empresas. Certamente além de prestigio, esta exclusividade se transformou em um grande diferencial competitivo, reduzindo custos e permitindo agilidade.
Esta valorização significa também uma vantagem competitiva para as empresas, e um exemplo claro é que as taxas de financiamento dos grandes bancos – e até mesmo do estatal BNDES – têm índices menores para empresas com reputação (e prática) de sustentabilidade socioambiental.
Tudo isto está perfeitamente de acordo com a lógica do mercado, porque emprestar dinheiro para empresas que têm equipamentos modernos (com menor risco de acidentes e multas), funcionários motivados (com menos processos trabalhistas, menor custo de atração e manutenção de talentos) e programas de redução de consumo de energia e matéria-primas (que reduzem custos operacionais) é mais barato. E empresas sustentáveis têm menor probabilidade de apresentar passivos ocultos.
Investir na intangibilidade dos fornecedores também melhora a tangibilidade dos lucros: como a legislação prevê a co-responsabilidade em relação a problemas apresentados por produtos no mercado, empresas que investem ou incentivam a qualificação socioambiental de seus fornecedores ou clientes também têm vantagens fácilmente contabilizáveis. Isto é óbvio: ao diminuir o risco de meu “sócio na legislação” de oferecer um produto com problemas potenciais de saúde ou segurança, o meu risco também diminui. As montadoras de automóveis, frequentemente obrigadas a fazer recalls que o digam: só em 2010 foram trcadas peças em mais de 1,2 milhões de veiculos no Brasil.
Inovação e sustentabilidade
Outro valor que resulta da adoção de políticas de sustentabilidade socioambiental por uma empresa é a inovação. A inovação – que alguns consideram um valor intangivel - também é fácilmente tangibilizável e é frequentemente apontada como um dos fatores determinantes da competitividade no atual mundo globalizado. O sucesso de empresas que adotam a inovação como valor corporativo, como as badaladas GE e Apple, é considerado benchmark de mercado.
Mas fiquemos com um exemplo mais próximo e totalmente cartesiano: a Incubadora de Fundos Inovar, criada pela FINEP para estimular a criação de fundos de venture capital no Brasil já possuia R$ 600 milhões em 13 fundos, que juntos investiram em cerca de 50 empresas inovadoras, em 2010. E com que resultados? Em apenas 4 anos a FINEP recebeu mais de tres vezes o valor investido, com uma Taxa Interna de Retorno de 42,68% anuais.
E quando a inovação está “casada” com sustentabilidade socioambiental, o retorno pode ser otimizado. Esta potencialidade tem chamado a atenção de organizações como o Programa New Ventures Brasil, parceria do World Resources Institute com o GVces - Centro de Estudos de Sustentabilidade da Fundação Getulio Vargas de São Paulo e de players de mercado, como o fundo Stratus VC III.
Valores intangiveis – alguns considerados até mesmo “filosóficos” - podem ser dimensionados por ferramentas como os Indicadores Ethos de Responsabilidade Social Empresarial ou as Diretrizes para Relatórios de Sustentabilidade GRI, da Global Reporting Initiative, e medidos por pesquisas de perfil econômico ou metodologias mais complexas.
A pesquisa “Responsabilidade social das empresas – percepção do consumidor brasileiro”, realizada pelos Institutos e Ethos, é um exemplo de medição. O Balanced Score Card é outro método. Idealizado por Robert S. Kaplan, da Harvard Business Review em 1996, o BSC se propõe a medir valor nas organizações, estabelecendo uma métrica tangibilizável. É complexo por natureza e exige alta qualificação de aplicadores e disciplina da organização.
O valor da sustentabilidade
Valores intangíveis derivados da busca pela sustentabilidade elevam a lucratividade de uma empresa no longo prazo. Algumas pessoas ainda não acreditam nisso, mas superado o período de investimento nos “intangíveis filosóficos” da sustentabilidade, o lucro é líquido e certo.
A mais completa pesquisa sobre tangibilização de valores intangiveis da sustentabilidade que conheço foi realizada por Bob Willard, ex-vice-presidente da IBM canadense e diretor da The Natural Step naquele país. Publicada no livro “The Sustainability Advantage”, de 2002 e apresentada no Brasil em março de 2005 no seminário “Global Mindchange Forum”, faz uma mensuração dos benefícios de uma empresa ao adotar os principios de sustentabilidade socioambiental: um aumento potencial do lucro de 38% e um pontencial benefício de aumento de produtividade de 8%.
Com a ajuda de profissionais cartesianos das maiores empresas canadenses, Willard contabilizou benefícios em 7 grupos:
redução dos custos de produção (como energia, água, matérias-primas)
redução das despesas na administração (como energia e materiais de consumo)
aumento no rendimento (que pode levar a empresa a diminuir a margem e aumentar o share)
redução de riscos (que proporciona menores taxas de financiamento e leasing)
redução do aumento dos custos (desacelera espirais de aumento ao inserir fornecedores no processo)
redução dos custos de atrito (como multas por infrações ambientais, processos trabalhistas, TACs – Termos de Ajuste de Conduta – e no Brasil, custos para subornar fiscais…)
e aumento na produtividade dos empregados (baseado em menores custos de captação, manutenção e treinamento e em maiores facilidades em atrair talentos, entre outros). (O livro de Bob Willard não está disponivel em portugues, mas pode ser conhecido no site www.sustainabilityadvantage.com).
Se uma empresa, ao adotar valores intangíveis de sustentabilidade socioambiental tem potencial para aumentar seu valor de mercado em até 12%, o lucro em até 38% e a produtividade em até 8%, parece claro que valores intangíveis podem realmente ser o bem mais valioso desta empresa.
Mas o potencial é maior ainda. Se você quiser saber o quanto, leia a reportagem de capa da edição 7 da revista eletrônica “Business do Bem” que apresenta 30 benefícios de uma empresa que adota os valores socioambientais – o link é http://www.ruscheleassociados.com.br/revista/interface.html.
Rogerio Ruschel
Autor e/ou editor de 16 livros e estudos sobre o tema, Presidente da Ruschel & Associados Marketing Ecológico e jornalista especializado.
Email: rogerio@ruscheleassociados.com.br