Blogs, sites, portais, enciclopédias, redes sociais e mecanismos de busca especializados tornaram a internet um fórum sem precedentes para a divulgação e o debate de questões ambientais. É muito e não é só. Hoje, a internet também convida o usuário a agir. Na rede, o ativismo ambiental se propaga e se fortalece.
Desde fevereiro, um grupo de ambientalistas se prepara para criar a primeira escola online de ativismo ambiental de que se tem notícia, sob coordenação geral de Marcelo Marquesini, ex-integrante do Greenpeace. Um curso básico já foi formulado e será ministrado, a princípio, em São Paulo, Brasília e Manaus. Além das aulas pela internet, haverá também imersões presenciais de uma semana.
A administração financeira da escola é de responsabilidade do Instituto SincroniCidade para a Interação Social, uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip), e o projeto já conta com apoio de outras 13 entidades. "Nossos pilares são a cultura de paz e a sustentabilidade", resume o coordenador.
No plano internacional, uma das maiores iniciativas de ativismo na internet é a Avaaz (pronuncia-se avaz), uma organização global. Ela funciona colaborativamente em quatro continentes e 14 idiomas, mas tem sede em Nova York. Juntamente com a França, o Brasil é o país com mais membros na entidade – são mais de 1,3 milhão. O sucesso da Avaaz está relacionado à facilidade de adesão a suas campanhas. Basta se cadastrar para recebê-las por e-mail. E, para assinar uma petição, só é preciso informar seu e-mail e clicar em enviar.
A palavra avaaz significa voz ou canção em diversas línguas da Ásia, do Oriente Médio e da Europa. Para a ativista Brianna Cayo Cotter, responsável pela divulgação da ONG, só a web é capaz de mobilizar tanta gente a ponto de realmente fazer diferença.
Popularidade
"É uma ética de interdependência global", diz Brianna. "E as causas ambientais são surpreendentemente populares, no Brasil e no mundo." Recentemente, ela conta, 500 mil pessoas aderiram – em apenas 48 horas – a uma carta dirigida à presidente Dilma Rousseff contra o "esvaziamento" do Código Florestal aprovado pela Câmara dos Deputados (no total, foram mais de 700 mil signatários). "O mundo precisa que o Brasil seja um líder mundial no segmento."
O Greenpeace também aproveita bem o potencial de mobilização da internet. A organização tem site, blog e contas no Facebook, no YouTube, no Flickr, e no Twitter. "Além disso, usamos ferramentas de transmissão ao vivo de eventos e protestos", acrescenta Eduardo Santaela, coordenador de assuntos de internet da organização.
Mas como funciona? Santaela exemplifica: "Lançamos petições por e-mail, incentivamos nossos seguidores a enviarem mensagens de protesto e pedimos que o nosso conteúdo seja compartilhado", resume. Outra estratégia é apresentar suas campanhas antes para formadores de opinião – em geral, blogueiros. A entidade também incentiva debates em sites públicos e privados.
"No Brasil, não são as entidades que começaram a usar a internet, mas a rede que se desenvolveu a partir de uma exigência de articulação da sociedade civil", afirma o ativista Roberto Smeraldi, presidente da entidade Amigos da Terra, que trabalha pela proteção da Amazônia.
Antes das ferramentas hoje disponíveis, e antes mesmo da internet, Smeraldi já usava recursos pioneiros de contato eletrônico, algo rudimentares, como o emprego de caixas de som no escritório do correio de Altamira, no Pará, para viabilizar o contato com tribos indígenas.
Para o jornalista e professor Leonardo Sakamoto, a internet não é apenas um meio de divulgação e informação. É sobretudo um veículo para a articulação entre pessoas e instituições. Ele é presidente da ONG Repórter Brasil, especializada em reportagens sobre direitos humanos e meio ambiente – e gosta de compartilhá-las pelo mundo.
Criada há dez anos, a Repórter Brasil conta com dezenas de organizações parceiras e mantém trabalhos in loco em 43 cidades, de seis Estados. As reportagens, pesquisas e metodologias educacionais da ONG têm sido usadas por lideranças do poder público, do setor empresarial e da sociedade. E também como inspiração de pautas para a grande imprensa.
Vida real
Para a maioria dos ciberativistas, as mobilizações online e offline precisam de retroalimentação. "Trabalhamos com iniciativas de investigação, denúncia e confronto, que podem ser desenvolvidas no mundo virtual, mas precisam ser levadas ao plano dos acontecimentos físicos para mudar realidades", afirma Santaela, do Greenpeace.
"Não se pode ter ilusão de que engenhocas substituam a estratégia – para usá-las bem, tem de haver planejamento", frisa Smeraldi, da Amigos da Terra.
De fato, alguns eventos organizados pela internet fracassaram. Dois exemplos emblemáticos são as hashtags "#parebelomonte" e "#codigoflorestal", que, apesar da adesão no Twitter, culminaram em encontros minguados. Um protesto contra o financiamento público para a Usina de Belo Monte, no Pará, reuniu só 9 pessoas em São Paulo e 20 no Rio, onde fica a sede do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Para Marquesini, além de partir para a prática, também é preciso exercitar formas mais efetivas de engajamento. "Gosto muito de marchas, mas sozinhas elas não mudam realidades complexas." Até o fechamento desta edição, o nome da escola de ativismo ainda não havia sido confirmado, assim como a data exata do lançamento, nos próximos dias. Mas o endereço será este aqui: www.ativismo.org.br. O primeiro curso deve ocorrer a partir de 22 de agosto. Ficou interessado? Então, veja só, tudo começa com a sua iniciativa de visitar o site para ver se já ele está funcionando.