http://revistagloborural.globo.com/Noticias/Sustentabilidade/noticia/2014/11/carne-bovina-sustentavel-depende-de-uniao-da-cadeia-produtiva.html
07 de Novembro de 2014 | atualizado em 07/11/2014Representante de pecuaristas dos EUA diz que é preciso criar
valor porque o consumidor não quer pagar mais por produtos
sustentáveis
POR RAPHAEL SALOMÃO, DE SÃO PAULO (SP)
Nas
buscas na internet, em boa parte dos resultados, o nome de Kim
Stachkhouse-Lawson vem precedido de “Dr”. No cartão de visitas, vem acompanhado
de “Ph.D”. A sustentabilidade na carne bovina é a razão do trabalho dela, que
dirige uma divisão de pesquisas nesta área na National Cattlemen’s Beef
Association (NCBA), associação que reúne criadores de gado de corte dos Estados
Unidos.
Especialista
no assunto, Kim esteve no Brasil nesta semana para participar de um congresso
sobre carne sustentável, em
São Paulo. A representante da pecuária de corte dos Estados
Unidos recebeu a reportagem da Globo Rural para uma entrevista, junto com
representantes da Fundação Espaço Eco, ligada à Basf, com quem desenvolveu um estudo conjunto sobre eficiência na produção local.
“Nossa
entidade tem duas linhas de atuação”, explica Kim. A primeira, na área de
pesquisa, é custeada por meio de um percentual sobre vendas de animais. Os
recursos financiam trabalhos em área como marketing, nutrição, segurança
alimentar e sustentabilidade, disse ela. A segunda é política e jurídica,
custeada com recursos dos associados.
“Representamos
os criadores de gado, mas quando fazemos pesquisa, unimos toda a cadeia, do
criador ao varejo. É uma forma importante de dizer a cada segmento onde pode
melhorar”, defende Kim. A necessidade de união da cadeia produtiva em torno da
produção sustentável é ponto central de sua argumentação.
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Pergunto
se o consumidor está disposto a pagar a mais por um bife mais sustentável e que
demanda mais custos de produção. “Não nos Estados Unidos”, diz ela. “Uma das
razões mais importantes de se unificar a cadeia de valor é que o consumidor
americano não quer. Nós fizemos extensas pesquisas e não acredito que ele pagaria
mais por uma carne sustentável”, complementa.
A saída
é “gerar valor de outras maneiras” e, nesse processo, pesquisa e ciência são
fundamentais. Na avaliação da pesquisadora, um trabalho importante tem sido
feito pela cadeia produtiva da carne. A missão é conseguir transferir esse
valor para a sociedade. Segundo ela, o consumidor americano, de um modo geral,
ainda não assimilou o conceito de sustentabilidade, embora esteja preocupado
com um processo produtivo mais responsável.
“A
terminologia ainda é difícil. E há o risco do conceito ser ‘sequestrado’ (a
palavra que ela usa é hijack) por pessoas que não entendem a produção de
alimentos. E, nós temos que trabalhar duro para que isso não ocorra porque há
uma história positiva na agricultura e creio que teremos uma na produção de
carne.”
"Uma
das razões mais importantes de se unificar a cadeia de valor é que o consumidor
americano não quer pagar mais por uma carne sustentável" (Kim
Stackhouse-Lawson, diretora da NCBA)
O
desafio de construir esse diálogo fica ainda mais difícil, lembra ela, quando
pessoas famosas, conferem credibilidade a opiniões negativas sobre a produção
de carne bovina. “Nossa equipe de gestão de imagem fica atenta e fazemos
eventos com pessoas de diversas áreas”, diz Kim. “Se essa pessoa conhecer
melhor e falar bem de nós, falará com mais credibilidade porque, afinal, não é
paga pela indústria como eu sou.”
E como
o criador de gado está trabalhando com a questão? “É algo novo também para ele.
Quando perguntamos, a primeira resposta é ‘sou sustentável. Minha família está
nessa terra há várias gerações. Somos capazes de prover comida para um mundo
com fome e isso é sustentável para mim’. Eles são sustentáveis. O que estamos
pedindo é que façam o possível para inovar e ganhar eficiência mais rápido e
que vamos dar o conhecimento e as ferramentas para isso. Só precisam estar
abertos a essa mensagem.”
Ainda
que reconheça dificuldades, Kim observa que a discussão sobre o papel da
produção de carne na sustentabilidade está evoluindo de forma positiva,
inclusive em escala global. Na opinião dela, o setor está sendo reconhecido
“pela primeira vez”. “As pessoas estão percebendo que ela tem seu lugar nos
sistemas ecológicos. Estão reconhecendo também a riqueza nutricional da carne
bovina. Todos têm feito um grande trabalho”, diz Kim, citando, incluisve, o
Brasil. Um aspecto que, segundo ela, confere mais realismo ao debate , que deve
ser, nas palavras dela, holístico: considerar também fatores como produção e
segurança alimentar e não limitar-se à mudança climática.
No
entanto, é inevitável questioná-la sobre a influência da pecuária na emissão de
gases de efeito estufa, bastante destacada por especialistas. Ela reconhece que
a atividade tem um alto índice de emissões, o que credita, em boa parte, à
própria biologia do bovino. Mas entende que a ciência ainda falha no modo como
mede essas emissões. “Temos que ver o quanto ele é parte de um sistema. Para
mim, ainda temos uma alta emissão, mas é preciso encontrar quem quantifique
plenamente o que estamos falando.”