sábado, 29 de dezembro de 2012

Mais calor

28/12/2012 - 03h30

Editorial: Mais calor

http://www1.folha.uol.com.br/opiniao/1207262-editorial-mais-calor.shtml

A negociação internacional sobre prevenção do aquecimento global se avizinha perigosamente de um círculo vicioso de irresolução, como se viu de novo na última reunião realizada, em Doha (Qatar).

A cidade sediou a 18ª Conferência das Partes (países membros) da Convenção da ONU sobre Mudança do Clima. Mais uma vez quase nada se decidiu nela. Na impossibilidade de alinhavar um novo e mais ambicioso tratado para substituir o Protocolo de Kyoto --acordado em 1997, na terceira reunião--, ele foi prorrogado até 2020.

Pelo protocolo, só países desenvolvidos (com exceção dos EUA, que nunca o ratificaram) assumiram compromissos de reduzir emissões de gases do efeito estufa --"carbono", no jargão climático.

Empreendimentos em nações mais pobres que economizarem tais emissões, como usinas termelétricas mais eficientes, geram créditos que podem ser vendidos para quem se comprometeu com reduções. O sistema previsto no protocolo foi batizado como MDL (Mecanismo de Desenvolvimento Limpo).

O prolongamento de Kyoto, assim, era crucial para que não desmoronasse toda a estrutura do mercado de títulos de carbono que surgiu com o tratado. Sua extensão foi o máximo que se obteve em Doha.

Diante do resultado magro, pode-se dizer que o mundo está mais distante de manter o aquecimento da atmosfera terrestre aquém do limite de 2°C considerado seguro. Acima disso, predizem pesquisadores, eventos climáticos extremos, como secas e ondas de calor, podem tornar-se frequentes.

Os negociadores reunidos em Doha também concordaram com o prazo de 2015 para concluir um novo acordo. O substituto de Kyoto vigoraria a partir de 2020, quando expirará o protocolo ora estendido.

Enquanto exigir consenso entre os 195 signatários da Convenção do Clima, as negociações continuarão a produzir muito papel e pouco resultado. Duas décadas nesses trilhos não levaram a lugar algum.

Um processo com menos participantes à mesa --EUA, União Europeia, Japão e Brics, por exemplo-- teria mais chances de dar conta do desafio. A economia mundial é um transatlântico movido a combustíveis fósseis, como petróleo e carvão, e não será com democratismo multilateral que se conseguirá freá-lo sem danificar seus motores.