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13 de fevereiro de 2012 • 16h25
Os primeiros parques nacionais foram criados entre 1889 e 
1930, período conhecido como República Velha. O Parque Estadual de São 
Paulo, hoje conhecido como Parque Estadual Horto Florestal, foi criado 
em 1896, e em 1911 foram mais dois parques nacionais no Acre. Em 1937 
foi a vez do Parque Nacional de Itatiaia e, em 1939, do Parque Nacional 
do Iguaçu. 
A lógica para a criação de áreas protegidas era conservar a 
biodiversidade, a paisagem, proteger espécies da flora e da fauna e 
manter áreas intactas para as futuras gerações. O artigo 225 da 
Constituição de 1988 contemplou essa proteção do meio ambiente como bem 
de uso comum e fundamental para a vida, enfatizando a importância de sua
 conservação para o futuro. 
Essa é a tônica que passou a fundamentar as leis ambientais criadas 
no Brasil, levando à adoção do Sistema Nacional de Unidades de 
Conservação da Natureza (SNUC), em 2000. O SNUC prevê duas categorias de
 áreas protegidas: i) as áreas de proteção integral (divididas em cinco 
subcategorias); e ii) as áreas de uso sustentável (divididas em sete 
subcategorias). Desde então, a política nacional de criação de Unidades 
de Conservação (UCs) se tornou o principal instrumento de proteção de 
áreas de vegetação nativa.  
Dados de novembro de 2011 do Ministério do Meio Ambiente indicam que 
existem 52 milhões de hectares de áreas de proteção integral e 55,8 
milhões de hectares de áreas de uso sustentável. Isso dá um total de 
107,8 milhões de hectares ou 13% do total da área do País, sem contar 
43,5 milhões de Áreas de Proteção Ambiental, uma categoria de uso 
sustentável instituída sobre áreas privadas. A maioria dessas áreas está
 localizada na Amazônia, no Cerrado e na Mata Atlântica.
Em 2006 foi aprovado o Plano Estratégico Nacional de Áreas Protegidas
 (PNAP), como forma de dar força à política de criação de unidades de 
conservação, considerando compromissos assumidos pelo Brasil na 
Convenção sobre Diversidade Biológica. Até 2010, o Brasil tinha como 
meta conservar 10% de suas áreas nativas, e a meta para 2020 é manter no
 mínimo 17% das áreas de cada bioma.
O PNAP incluiu as terras indígenas e territórios quilombolas no 
âmbito das áreas protegidas brasileiras. Dessa forma, é válido destacar 
que existem 103,5 milhões de hectares de terras indígenas regularizadas,
 que somadas as UCs situadas somente em áreas públicas representam 24,8%
 da área do Brasil. 
Adicionalmente, é essencial lembrar que existem ao menos 57 milhões 
de hectares de Áreas de Preservação Permanente  (APPs) e 194 milhões de 
hectares de áreas de Reserva Legal situadas em propriedades privadas. 
Apesar de não serem áreas protegidas no âmbito do SNUC e da PNAP, são 
protegidas no âmbito do Código Florestal, que devem ser conservadas por 
conta de suas funções ambientais e do seu potencial para preservar a 
biodiversidade. Só essas áreas conservadas nas propriedades agrícolas 
representam 29% da área do País.
Esses números impõem refletir sobre a política de criação de áreas 
protegidas por unidades de conservação, uma vez que a falta de gestão e 
estrutura para gerir e garantir a proteção dessas áreas, autorizar 
pesquisa e visitação onde isso é permitido e fomentar a exploração 
sustentável de algumas categorias de UCs deixam essas áreas 
desprotegidas. Na teoria, esse imenso ativo ambiental é protegido por 
lei, mas na prática, acaba desprotegido em grande parte pela ausência do
 estado. 
A lei prevê que todas as áreas protegidas precisam ter conselho 
gestor e planos de manejo. Sem essas ferramentas, que pressupõem 
recursos humanos e financeiros concretos, não é possível criar uma 
estrutura que permita gerir, monitorar, estabelecer regras para o uso 
sustentável quando for o caso, autorizar pesquisas científicas e 
visitação com fins turísticos e educativos nas categorias de UCs, onde 
isso deveria ser permitido.
Um estudo publicado pela WWF-Brasil em 2007, utilizando um método de 
avaliação do manejo de áreas protegidas conhecido como Rapid Assessment 
and Prioritization of Protected Area Management (Rappam) avaliou 246 UCs
 federais, e apontou que apenas 13% apresentaram alta efetividade de 
gestão, 36% ficaram na média e 51% foram consideradas de baixa 
efetividade. Os parques nacionais, que devem ser abertos para visitação e
 pesquisa, ficaram em terceiro lugar na análise.
Estudo publicado pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia 
(Imazon) e pelo Instituto Socioambiental (ISA) em 2011 aponta que na 
Amazônia Legal, 50% das Unidades de Conservação não possuem plano de 
manejo aprovado e 45% não têm conselho gestor. A média de funcionários é
 de uma pessoa para cada 187 mil hectares!
Nesse cenário, o desmatamento ilegal e a degradação florestal, a 
grilagem de terras, as estradas ilegais e a exploração ilegal de madeira
 (principalmente no Pará e no Mato Grosso), funcionam como vetores que 
ameaçam as unidades de conservação e, consequentemente, o cumprimento de
 seus objetivos como áreas protegidas.
Criar UCs, desapropriar áreas privadas sem regularizá-las e não criar
 estruturas de gestão funcionais não parece uma estratégia que vise à 
conservação efetiva dessas áreas. O Brasil discute suas metas de 
conservação para a biodiversidade até 2020, e a preocupação com a falta 
de gestão das UCs é um dos temas. No entanto, existem propostas para 
criar milhões e milhões de hectares de novas áreas.
Sem atacar os vetores do desmatamento, inclusive dentre de UCs, de 
nada adiantará criar mais e mais áreas protegidas. É válido lembrar que 
as UCs são criadas por ato do poder executivo, o que significa que é 
razoavelmente fácil aumentar a extensão de áreas protegidas no papel. No
 entanto, a realidade brasileira mostra que de nada adiantará expandir 
essas áreas sem que os vetores do desmatamento sejam atacados com 
seriedade: a pobreza, a expansão irregular da agricultura, a falta de 
estrutura e de regularização de terras indígenas e de assentamentos da 
reforma agrária, a exploração ilegal de madeira, a insegurança 
fundiária, entre outros fatores.
Quando esses elementos deixarem de ser ameaça para as florestas, e as
 UCs tiverem estruturas de gestão eficientes, os parques forem 
explorados de forma sustentável por meio do turismo ecológico, que gere 
renda e conscientização da população sobre a relevância dessas áreas, a 
pesquisa científica seja incentivada e autorizada em áreas próprias, as 
florestas brasileiras, que hoje representam 61% do território nacional, 
estarão verdadeiramente protegidas. 
Rodrigo C. A. Lima, gerente-geral do Ícone, é pesquisador da Rede Agro.
 
