Com 51 km de extensão de vias quase totalmente interligadas, malha cicloviária de Aracaju ostenta o posto de uma das mais bem estruturadas do País. Veja detalhes do projeto, o orçamento detalhado das obras e as soluções de construção e contratação
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Por Lilian Burgardt
Uma capital de pequeno porte construídaquase que totalmente em terreno plano, e com um fluxo intenso de bicicletas. Essas foram as características que motivaram a prefeitura de Aracaju, em Sergipe, a colocar a cidade no mapa brasileiro das maiores e mais bem estruturadas ciclovias do Brasil. Desde 2001, quando começaram os primeiros investimentos em corredores para tráfego de ciclistas no munícipio, cerca de R$ 11 milhões já foram investidos, com recursos despendidos integralmente pela prefeitura local.
Resultado: hoje Aracaju se desenvolve economicamente de bicicleta e possui a maior malha cicloviária do Nordeste e a terceira do País. De acordo com Fabrício Lacerda, coordenador de ciclomobilidade da SMTT (Superintendência de Transporte e Trânsito), a capital sergipana conta com 51 km de ciclovias implantadas e em funcionamento, atendendo uma média de 40 mil ciclistas. Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) a cidade possui 520.303 mil habitantes em seus 181, 8 km².
As obras de expansão de ciclovias começaram efetivamente em 2004; até então a prefeitura mantinha não mais do que 12 km de vias para ciclistas e, ainda assim, sem sinalização. “Com a concepção do novo projeto começamos a implantar a ciclovia nos principais corredores e também sinalização adequada onde não havia”, lembra Sheila Thereza Vieira Santos, assessora técnica especial da diretoria de planejamento da SMTT.
Projeto
O projeto cicloviário de Aracaju pressupôs a inserção das ciclovias não só em vias reservadas para o lazer e esporte, mas também em meio ao trânsito pesado do dia-a-dia. Isso porque o transporte via bicicletas, embora não infraestruturado, já era, mesmo antes da implantação do projeto, uma opção real de locomoção dos trabalhadores na capital sergipana. Prova disso é que até 2004 o trânsito no horário de pico (encerramento do expediente) era marcado por um tráfego intenso de bicicletas em conjunto a automóveis. “Precisávamos oferecer segurança para quem já era usuário desse meio de transporte, já que o risco para o ciclista era muito evidente. A implantação da ciclovia mudou a cara das avenidas, estabelecendo espaço de cada um”, explica Sheila.
Soluções
O projeto cicloviário da cidade de Aracaju previu quatro tipos distintos de ciclovias:
Tipo I
Tipo I mostra a extensão pela Avenida Tiradentes. Detalhe para os tachões refletivos (dispositivos com retrorrefletores), utilizados em sinalização viária horizontal.
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Tipo II bidirecional
As ciclovias Tipo II bidirecional com 3 mm de largura foram executadas sobre canteiro, podendo ou não facear com os meios-fios da pista de veículos. Na interseção das avenidas, como mostrado no modelo esquemático, o rebaixamento da tubulação existente teve de ser rebaixado e toda a vegetação do talude foi recuperada por meio da plantação de gramas.
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Tipo III unidirecionais
Pavimentadas em concreto pigmentado, as ciclovias do Tipo III unidirecionais têm 1,50 m de largura e foram executadas faceando uma das suas laterais – os meios-fios da pista. Em todas as áreas da ciclovia em que há passagem de pedestres foram executadas rampas nas extremidades opostas à passagem (do outro lado de cada pista). Em cada lado da pista, contornando a rampa, foi executada uma calçada com pelo menos 1 m para cada lado da rampa. Cada passagem teve largura do canteiro e um comprimento de 3 m.
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Tipo IV unidirecionais
Como mostra a seção transversal do projeto de tipo IV, em casos em que a lateral da ciclovia não facea o meio-fio, foi preciso executar rebaixo de no mínimo 0,10 m x 0,10 m, devidamente concretado, conforme detalhe da seção tipo.
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Assim, na definição do mapa cicloviário, a SMTT considerou os principais corredores da cidade destinados ao fluxo de ciclistas. As extensões, que incluíram trajetos específicos para as bicicletas, coincidiam justamente com as áreas de maior volume de tráfego de automóveis.
As obras foram divididas em etapas, chamadas pela SMTT de “trechos da ciclovia”. A Secretaria também definiu quatro tipos de projetos cicloviários, como pode ser visto na página anterior. “Atualmente há ciclovias planejadas para 20 avenidas; 15 já foram implantadas. Ainda vamos fazer a complementação, algumas serão como uma espécie de continuação das já existentes e outras serão novos trechos”, explica.
As pistas foram executadas em concreto simples pigmentado, com fck mínimo de 21 MPa e na espessura mínima de 0,07 m; já os pisos nas passagens de pedestres, em concreto de 15 MPa e espessura mínima de 0,07 m com cimento, areia e brita. O acabamento da superfície do piso é camurçado e todo o piso apresenta um caimento em torno de 2%. A pintura sobre o pavimento foi realizada com tinta para uso em superfície betuminosa ou de concreto de cimento nas cores amarela, branca e vermelha.
Contratação e projeto
Abaixo, detalhe da ciclovia da Av. Augusto Franco, em Aracaju (SE), e, acima, a mesma avenida depois das obras de melhoria
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A elaboração e contratação do projeto cicloviário de Aracaju seguiu um caminho incomum às gestões públicas brasileiras. O engenheiro José Resende Goes, até então sem qualquer vínculo com a prefeitura, fez o planejamento cicloviário da cidade como tema de seu mestrado na Universidade. Interessada, a SMTT contratou o profissional e fez, de seu projeto de mestrado, a documentação básica para a elaboração do projeto executivo da obra, desenvolvido por empresa contratada a partir de especificações técnicas da Secretaria.
O projeto de sinalização ficou a cargo da própria equipe da SMTT, “composta pelo diretor da Secretaria, o coordenador, três assistentes e uma engenheira, sem contar os envolvidos no acompanhamento do projeto executivo”, explica Sheila.
A prefeitura local arcou integralmente com os custos da obra, dividindo-a em trechos, licitados um a um. Veja à parte o orçamento de R$ 659.173,80 da construção da 2a etapa das ciclovias da Avenida Tancredo Neves e da Avenida Tiradentes. “Fomos licitando de acordo com o recurso disponível, mas mantivemos as mesmas especificações da execução para todas as licitações”, conta Sheila. “Nosso projeto é ampliar a malha em mais 25 km”, reforça.
A capital sergipana ainda vem priorizando outras ações estratégicas, como a extensão da malha cicloviária em 25 km e a criação de bicicletários. Em setembro de 2009, dois bicicletários foram instalados nas praças Fausto Cardoso e General Valadão, no Centro da cidade. Ambos têm, juntos, 40 vagas e seguem os padrões adotados mundialmente, sendo equipados com paraciclos duplos (barras de ferro onde as bicicletas ficam presas por correias), gradil de proteção e placas sinalizadoras. O benefício será estendido às praças, praias e outros locais estratégicos.
Em 2005, o Sistema Cicloviário de Aracaju recebeu da ANTP (Associação Nacional dos Transportes Públicos) e Abradibi (Associação Brasileira dos Fabricantes, Distribuidores, Exportadores e Importadores de Bicicletas, Peças e Acessórios) o prêmio ABNT-Abradibi entregue anualmente no Salão Duas Rodas, em reconhecimento à melhor política de urbanismo.