Como funciona
a inusitada privada que transforma cocô em energia e criptomoedas
Autoria: Por
Gustavo Minari Editado por Douglas Ciriaco
10 de Agosto de 2021Você já parou para pensar quanto vale o seu cocô em criptomoedas? Um professor de engenharia urbana e ambiental do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Ulsan (UNIST), na Coreia do Sul, fez essa conta e projetou uma privada que dá moedas digitais para os alunos que usarem o banheiro ecológico para fazer o número dois.
Os estudantes que utilizam esse vaso
sanitário tecnológico e inusitado são recompensados com unidades diárias da
moeda digital criada pelo professor Cho Jae-weon. Cada ida ao banheiro vale 10
Ggool — que significa mel no idioma coreano. Os usuários podem usar a
criptomoeda para comprar produtos no campus, como itens de papelaria, macarrão
instantâneo, frutas e livros.
“Eu sempre pensei que as fezes eram sujas, mas agora
elas representam um tesouro de grande valor para mim”, diz o estudante de
pós-graduação Heo Hui-jin. “Eu nunca cogitei que faria isso, mas hoje eu até
falo sobre fezes na hora das refeições, imaginando que posso comprar o livro
que quiser com elas.”
BeeVi
O assento sanitário criado pelo professor foi batizado de BeeVi, uma
combinação das palavras “bee”, abelha, e “view”, visão, em inglês. O
equipamento funciona como uma usina de geração de energia que emprega uma bomba
de vácuo para enviar os dejetos para um tanque subterrâneo, reduzindo o consumo
de água.
“A privada possui uma estrutura que pode sugar as fezes como um
aspirador de pó e enviá-las diretamente para o sistema de produção de energia.
Para fazer isso, precisamos de apenas 0,5 litro de água, uma quantidade muito
menor do que a usada em vasos sanitários comuns”, explica o professor Cho.
No tanque, microorganismos decompõem os resíduos de metano,
tornando a substância uma fonte alternativa de combustível. O gás, que seria
normalmente liberado na atmosfera, é usado para aquecer a água, alimentar
fogões e transformado em energia para abastecer o campus por meio de um
gerador.
Uma lâmpada ultravioleta (UV) esteriliza e desinfeta o vaso
sanitário, o assento e a tampa. A privada também possui um biossensor embutido
que pode ser usado para analisar urina e outros resíduos para verificar se há
biomarcadores, indicadores de doenças e até mesmo deficiências nutricionais.
“Se pensarmos fora da caixa, as fezes têm um valor precioso para
produzir bioenergia por meio da digestão anaeróbica biológica, separando o
metano do dióxido de carbono durante o processo de compostagem. Nós apenas
colocamos esse valor em circulação utilizando as criptomoedas como forma de incentivo
para os alunos”, acrescenta o professor Cho.
Economia
Segundo os cálculos do professor, uma pessoa produz em média 500g de
fezes por dia, quantidade que pode ser transformada em 50 litros de metano.
Esse gás é capaz de gerar 0,5 kWh de eletricidade renovável ou ser usado também
para abastecer um veículo comum por aproximadamente 1,2 km.
Além de uma fonte alternativa e renovável de energia, o vaso sanitário
movimenta a economia da universidade. Para que não haja acúmulo de “riqueza”,
30% da moeda Ggool recebida pelo usuário devem ser divididos com outras pessoas
na rede. A criptomoeda é ativada por meio de compartilhamento e gastos — se
forem deixadas em uma conta, por exemplo, elas desaparecem.
“Um dos principais aspectos da Ggool é que ela foi projetada com uma
taxa de juros negativa de 7%, calculada com base na queda da moeda a zero em 30
dias. Este é um mecanismo simples que apoia a noção de que a moeda foi criada
para ser usada e não armazenada em uma “conta bancária”, encerra o professor
Cho.