domingo, 17 de julho de 2011

Transporte Sustentável: Licitar o primeiro trem-bala não é fácil!

11/07/2011 - 17h40

Após fracasso, governo vai dividir licitação do trem-bala em 2



VALDO CRUZ
SOFIA FERNANDES
DE BRASÍLIA


Atualizado às 18h33.
Depois do fracasso nesta segunda-feira do leilão do trem-bala ligando Campinas-São Paulo-Rio de Janeiro, a ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) decidiu dividir em duas a licitação.
Vai licitar primeiro o modelo de tecnologia (coreano, japonês ou europeu, por exemplo). Depois de definida a tecnologia, será feita a licitação das obras de engenharia.
O governo avalia que assim ficará mais fácil estimar o custo da obra, que deverá ser aberta para participação de construtoras internacionais.

Empreiteira quer mais subsídio a trem-balaAgência reguladora descarta adiamento do leilão do trem-bala

Não estão previstas mudanças estruturais no novo edital, previsto para ser lançado até outubro, nem novos cálculos econômicos, afirmou o diretor-geral da ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres), Bernardo Figueiredo.
"Não estou mudando a essência, só a forma de licitar", disse Figueiredo, que estima o valor total da obra em R$ 33 bilhões --aproximadamente R$ 9 bilhões para equipamentos e operação e R$ 24 bilhões para obra. "Não vamos desfigurar projeto para atender um perfil de empresas", afirmou.
A primeira fase do leilão --onde será escolhido o operador, que definirá a tecnologia adotada--será realizada no começo do próximo ano.

FRACASSO
O leilão do trem da alta velocidade fracassou porque nenhum grupo se apresentou na concorrência nesta segunda-feira, data marcada para as empresas entregarem suas propostas.
Segundo Figueiredo, o fracasso foi motivado pela dificuldade das empresas detentoras de tecnologia de formar aliança com as empresas de construção nacionais. Por isso o governo acredita que, fatiando o processo, o leilão terá sucesso.
"O fechamento do mercado nacional a esse tipo de aliança acabou prejudicando o processo licitatório", disse.
Apenas grupos que detêm tecnologia --e que estavam interessados em atuar como fornecedores-- estiveram na Bovespa para verificar se havia ou não interessados no empreendimento. Entre elas estavam franceses da Alstom, japoneses da Mitsui e sul-coreanos, além de dois outros grupos que não quiseram se identificar.
Venceria o leilão quem oferecesse a menor tarifa para os serviços, a partir de uma tarifa-teto fixada em R$ 199,73.
Figueiredo afirmou que é possível que haja algumas mudanças no projeto, mas que o governo tem muita convicção nos estudos realizados para o trem. "Não cabem muitas mudanças, haverá limites para mudanças", disse.
O governo pretende também contratar a obra em lotes, para que mais empresas possam atuar na parte de construção civil da obra.
Figueiredo afirmou que, mesmo com outro adiamento do leilão, o modelo fatiado é mais ágil e não vai comprometer o início das obras, previsto para o início de 2013.


Editoria de Arte/Folhapress

Reportagem da Folha do dia 7 mostrou que as cinco grandes empreiteiras do país só aceitavam entrar com R$ 3 bilhões de capital próprio no trem-bala. O valor é próximo de 5% do custo calculado por elas para o projeto.
O projeto do trem-bala prevê a ligação de Campinas, São Paulo e Rio de Janeiro. Com cerca de 500 quilômetros de extensão, vai passar por aproximadamente 40 municípios.


17 de Julho de 2011
Economia

Governo aposta em complexo imobiliário para trem-bala



autoria: Por Renée Pereira


São Paulo - O governo federal decidiu jogar todas as fichas para tirar o trem-bala do papel. Depois de ser derrotado pela teimosia de manter uma fórmula polêmica, criticada pelos investidores, ele mudou radicalmente o modelo de licitação (agora em duas etapas) e já aceita arcar com alguns riscos do empreendimento - leia-se, colocar mais dinheiro. Também vai criar mecanismos para tornar o projeto mais rentável para compensar o valor da obra.
O principal deles está associado aos empreendimentos imobiliários que podem ser construídos no entorno das estações, produzindo receita extra. O Estado apurou que a intenção do governo é fazer a declaração de utilidade pública dos terrenos próximos das paradas do trem antes da segunda fase de licitação. Ele também será responsável pela desapropriação das terras.
No modelo anterior, as áreas teriam de ser adquiridas pelos investidores, o que tornou muitos projetos imobiliários inviáveis. Essa era a aposta, por exemplo, do consórcio coreano, que projetava construir "novas cidades" ao lado dos trilhos. Mas, sem declaração de utilidade pública, qualquer empresa que não estivesse ligada ao trem-bala poderia explorar a área. "Ninguém ia querer vender um terreno com grandes potenciais de ganhos. Se vendessem, iam jogar o preço lá em cima", diz um investidor.
A nova formatação para o Trem de Alta Velocidade (TAV), entre Campinas, São Paulo e Rio de Janeiro, ainda está em fase de elaboração e tem muitos pontos sem explicação. Mas a lógica é dividir os riscos, como os detentores de tecnologia vinham repetindo desde o início das discussões sobre o projeto.
A primeira licitação vai englobar a tecnologia e a operação do trem-bala. Segundo fontes ligadas ao governo, os interessados vão elaborar um projeto básico, com estudo de demanda de passageiros e tarifas para conseguir dar um lance no leilão. Quem ganhar o processo ficará com o risco de demanda e terá de fazer o projeto executivo do TAV, que determinará o traçado e os custos de construção.
Com o material em mãos, o governo fará a segunda licitação, que será a concessão dos ativos. A vencedora vai contratar as empreiteiras que construirão a infraestrutura (instalação de trilhos, pontes, viadutos e túneis).
A novidade é que, depois da pressão sofrida pelo governo, não poderá haver participação cruzada nas licitações. Ou seja, quem estiver no primeiro grupo não poderá entrar no segundo. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo..