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http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/90532-o-ar-que-se-respira.shtml
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Os níveis de poluição na China alcançaram níveis tão assustadores que motivaram até o aparecimento de críticas na imprensa do país, sempre tão leal ao governo. Tanto o "Diário do Povo", do Partido Comunista, como o "China Daily", editado pelo Conselho de Estado, cobraram providências urgentes.
Nesta semana, o governo emitiu sinais de que poderá ordenar o fechamento de fábricas e restrições à circulação de veículos.
Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), o limite razoável para a poluição do ar seria uma concentração de partículas finas de 15 microgramas por metro cúbico. No dia 12 de janeiro, em razão do frio e da falta de ventos, o nível alcançou 993 microgramas em algumas partes de Pequim. As nuvens de fumaça que cobriram 12 províncias do país eram vistas até do espaço, como revelaram os satélites.
Os poluentes se dispersaram, mas restaram os temores sobre o impacto dessa atmosfera asfixiante sobre o ambiente e a saúde da população. A OMS calcula que a poluição do ar provoque 2 milhões de mortes por ano no mundo.
Os problemas enfrentados pela China não são novos -começaram com a Revolução Industrial. As mesmas nuvens que sufocam Pequim afligiram Londres de 1873 a 1975 -com destaque para o pavoroso "Great Smog" de 1952, quando 12 mil pessoas morreram.
No Brasil, a cidade de Cubatão (SP) viveu esses mesmos dramas -recorde-se o nascimento de crianças anencéfalas. Tal como sucedeu em Londres, o quadro só melhorou depois que o governo implantou um severo programa de controle ambiental.
Não é de hoje que a poluição preocupa a China. Em 2000, Xie Zhenhua, então ministro do Meio Ambiente, disse que em 2008 o ar de Pequim seria tão bom quanto o de Paris, graças a investimentos de US$ 12 bilhões. Logo se vê que os recursos foram insuficientes.
A persistência do problema decorre do extenso uso do carvão. Mais barato do que outras fontes de energia, ele responde por 79% da eletricidade gerada no país. Metade do carvão produzido no mundo é queimado pelos chineses.
A esperança de controle ambiental, contudo, vem exatamente daí: os mesmos cálculos que induziram a China -tal como a Inglaterra do século 19- a adotar o carvão agora pesam no sentido contrário.
Em 2012, os prejuízos decorrentes de catástrofes relacionadas ao clima alcançaram US$ 160 bilhões no mundo inteiro, segundo a Munich Re, uma das maiores companhias de resseguro. São esses custos crescentes que devem forçar a China a buscar opções menos poluentes que o carvão.