Demora para adotar diesel limpo causará 14 mil mortes no País
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Uso do combustível foi adiado em três anos por pressão de montadoras e da Petrobrás; novo diesel chegou neste mês
26 de janeiro de 2013 | 0h 01
Felipe Werneck - O Estado de S. Paulo
RIO - Pesquisadores do Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental da
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) estimaram o impacto do
atraso na adoção de um diesel mais limpo no País: pelo menos mais 13.984 mortes
devem ocorrer até 2040. O estudo foi publicado na revista científica Clinics em
2012. No início deste mês, postos de combustíveis começaram a receber o diesel
S10, com teor mais baixo de enxofre.
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Por pressão de montadoras e de setores da Petrobrás, a resolução do Conselho
Nacional de Meio Ambiente (Conama) que determinava a distribuição de um diesel
menos nocivo a partir de janeiro de 2009 não foi cumprida. O S50, com 50 partes
de enxofre por milhão de partículas (ppm), só chegou aos postos em 2012, após um
acordo jurídico. Agora, o S50 está sendo substituído pelo S10, com 10 ppm.
O cálculo do impacto do adiamento havia sido feito em 2008 e foi refinado
para o artigo recém-publicado. "Fomos conservadores na projeção", disse o
engenheiro Paulo Afonso de André, que assina o estudo com mais três
pesquisadores. O trabalho engloba as seis principais regiões metropolitanas:
Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro e São Paulo.
"É um passivo que vai demorar até 2040 para ser zerado, porque a renovação da
frota é muito baixa", afirmou André, referindo-se aos veículos a diesel vendidos
entre 2009 e dezembro de 2011, com motores com tecnologia antiga e alta emissão
de poluentes.
"Nunca se vendeu tanto caminhão sem catalisador quanto no período do atraso.
Com isso, pode-se usar qualquer tipo de diesel. Vamos ter esses dinossauros
rodando por 30 ou 40 anos", disse Paulo Saldiva, coordenador do Laboratório de
Poluição Atmosférica Experimental e também autor do artigo.
Veículos antigos. André criticou o fato de não haver
obrigação para que veículos antigos também usem o novo diesel. "Estudos mostram
que um carro velho com combustível novo chega a poluir 50% menos. Mas a política
pública não considerou isso." Segundo Saldiva, a poluição atmosférica causa
doenças que matam cerca de 4 mil pessoas por ano em São Paulo. "O diesel é
responsável por 40% disso: são 1,6 mil mortes por ano a mais em São Paulo. Está
no mesmo nível de evidência que o tabaco e o amianto em casos de câncer." Das 14
mil mortes associadas ao não atendimento da resolução em 2009, 7,2 mil devem
ocorrer na Grande São Paulo.
Com a adoção do diesel mais limpo, disse Saldiva, o brasileiro deixa de ser
tratado como cidadão de segunda categoria neste quesito. "O caminhão produzido
por uma multinacional no Brasil deve ter a mesma tecnologia usada na Alemanha ou
na Suécia." Procurado, o coordenador de Resíduos e Emissões do Ibama e
responsável pelo Programa de Controle de Poluição do Ar por Veículos Automotores
Paulo Macedo, não deu entrevista.