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Arquitetos e construtores visitam em Paris bairro reciclado pelo Poder Público para abrigar famílias de baixa renda, escritórios e escolas
9/Novembro/2011Paulo Kiss, de Paris
No limite sudeste de Paris, junto à margem esquerda do rio Sena e próximo ao anel periférico da cidade, um bairro inteiro está sendo construído no antigo 13° Distrito. Escolas, creches, edifícios comerciais e habitacionais, teatros e a imponente Biblioteca Nacional da França Presidente François Miterrand estão instalados numa área de 130 hectares, onde convivem 15 mil habitantes entre famílias de baixa renda e estudantes. Os escritórios novíssimos e equipados para não ultrapassar 35 kw/m²/ano receberam pouco a pouco pequenos escritórios, empreendedores mas também grandes empresas atraídas por menores custos e edificações mais eficientes.
O planejamento do bairro Paris Rive Gauche teve início ainda no final da década de 1980, devido às pressões por moradias (escassas e caras em Paris), os conflitos sociais e a necessidade de se recuperar uma área bastante degradada e industrial. O bairro foi apresentado a uma missão de engenheiros e arquitetos conduzida por Ana Rocha Melhado, consultora para certificação ambiental do selo Aqua (versão brasileira do selo HQE - Haute Qualité Environnementale). Ana, que trouxe ao Brasil a ideia de se criar um referencial de qualidade ambiental nos moldes franceses, acompanhou durante três anos a evolução do bairro enquanto fazia seu pós-doutoramento. "Este é o melhor exemplo de que se pode recuperar todo um tecido urbano de forma simples, desde que o poder público consiga mesclar usos e diferentes grupos sociais", diz Ana. "A vida é dessa forma, o urbanismo tem que ser assim." Ela coloca a iniciativa como exemplo a ser seguido em planos diretores como da Nova Luz, em São Paulo, e na região portuária do centro do Rio de Janeiro.
Partido arquitetônico e soluções
A linha férrea que acompanha o rio criava dois níveis no distrito, tornando a parte baixa e próxima ao rio inóspita e de difícil acesso. Uma enorme laje foi construída a 6 m do solo elevando-se à mesma altura do restante do distrito, criando um grande platô de serviços e moradias. Largas avenidas foram abertas, escritórios, moradias e escolas, tudo sobre este boulevard suspenso. Para evitar a transição de vibrações, um complexo projeto estrutural distribuiu os esforços de movimento sobre paredes estruturais lindeiras do talude e até de algumas fachadas de edifícios como teatros e escolas. O que parece somente uma fachada, também exerce função estrutural para acomodar as movimentações que possam ser provocadas pela linha férrea e até pequenos sismos.
O bairro está preparado para reter e armazenar água de chuvas, todos os prédios possuem fachadas ventiladas e as moradias são protegidas por persianas automatizadas horizontais, para controle da luminosidade e também aproveitamento do sol para aquecimento visando reduzir cargas de consumo de energia nos meses frios. O bairro é servido pela linha de metrô mais moderna de Paris, totalmente automatizada, para operação mesmo em caso de paralisação dos trabalhadores.
As moradias têm entre 18 e 90 m² e são leiloadas para uso pela autoridade pública. O programa enquadrado em HIS (habitação de interesse social) constrói as moradias ao custo de 1.300 euros/m². Considerado alto para os padrões brasileiros, os edifícios demandam soluções de eficiência energética, baixa manutenção e transporte vertical. As instruções construtivas são definidas nos Cadernos de Encargos que os incorporadores devem seguir à risca. As habitações devem apresentar consumo máximo de energia de até 50 kw/m²/ano. Assim como nos planos diretores, as obras são contrapartida para incorporadores nos empreendimentos do bairro, que devem seguir ainda por 20 anos. Veja fotos e mais detalhes deste projeto.
O Plano Diretor do bairro prevê novas construções por mais duas décadas ainda. A reciclagem deve se concentrar nas construções mais ao sul do distrito e junto à linha férrea |
O platô artificial, uma grande laje a 6 m de altura do solo, abriga amplas avenidas, edifícios comerciais, teatros e escolas. A diferença de escala contribui inclusive para drenagem lenta da água |
Atraídos pela possibilidade de construir novos e rentáveis espaços comerciais, incorporadores não esbaram nas contrapartidas sociais do plano, que envolve altos investimentos em equipamentos públicos |
As moradias têm entre 18 m² (estúdios) a até 90 m². Nas áreas junto ao térreo funcionam creches, escolas e teatros. As fachadas estão equipadas com venezianas horizontais de alumínio, para controle da luminosidade e visando redução das cagas de consumo energético |