Por Ian O'Neill
Desde que escrevi o primeiro artigo da série “O mundo não vai acabar em 2012" para o Universe Today em 2008, venho repetindo a mesma mensagem inúmeras vezes: os maias nunca previram o fim do mundo em 2012. E agora vou dizer mais uma vez, mas com o aval de outros especialistas: os maias nunca, JAMAIS, previram o fim do mundo em 2012.
Infelizmente, a ciência e a história têm sido distorcidas para satisfazer os apoiadores dessa falácia apocalíptica, e quando cientistas e arqueólogos intervêm para desacreditá-la, a culpa recai sobre algum tipo de conspiração global muito conveniente.
Afinal, de onde vem a ideia do apocalipse maia?
A contagem (mais) longa
A origem da multiplicidade de teorias sobre o “fim do mundo” em 21 de dezembro de 2012 é um calendário mesoamericano que previu o fim dos tempos. E um determinado calendário maia está no centro de todo esse alvoroço, já que, por um acaso numérico, ele “acabará” no ano que vem.
A civilização maia existiu de 250-900 d.C. e ocupava a atual área geográfica correspondente ao sul do México, Guatemala, Belize, El Salvador e parte de Honduras. Os arqueólogos que estudaram essa cultura fascinante conseguiram decifrar muitos de seus calendários, mas o que registra o período mais extenso – a “Contagem Longa” – foi o que disparou os alarmes.
A Contagem Longa foi criada pelos maias para que pudessem registrar a história e planejar eventos futuros (não muito diferente do calendário do seu iPhone).
Este calendário longo, constituído por um ciclo de 5.126 anos, era uma variação de outros calendários que os maias usavam na época. Alguns duravam menos de um ano (como o "Tzolk’in", que durava 260 dias), outros abrangiam décadas (como o "Calendário Circular”, que representa o ciclo de uma geração, por volta de 52 anos). Com notável engenhosidade, os maias criaram então o calendário de Contagem Longa, cuja base era numérica, similar a um antigo código binário.
"É uma jogada de marketing"
Embora a data final exata do ciclo da Contagem Longa tenha sido questionada recentemente, em uma coisa a maioria dos especialistas e teóricos do apocalipse concorda: o calendário "termina" no ano que vem. Ele consiste em 13 Baktuns, cada um com aproximadamente 394 anos de duração, e estamos chegando ao final do 13° Baktun.
No entanto, em uma coisa os dois grupos não concordam: o verdadeiro significado do calendário.
Os arautos do apocalipse tentarão convencer você de que o “fim” da Contagem Longa do 13° Baktun é a base de uma profecia maia do “fim do mundo”. Afinal, como todo bom vendedor de óleo de cobra, é preciso apavorar o público antes de lhe vender um livro sobre o assunto.
Segundo estudiosos que de fato sabem alguma coisa sobre esta cultura, os maias jamais fizeram tal profecia: "É preciso esclarecer isso de uma vez por todas. Não existe nenhuma profecia sobre 2012", afirma categoricamente Erik Velasquez, especialista em entalhe da Universidade Autônoma Nacional do México (UNAM). "É uma jogada de marketing”.
O Instituto Nacional de História Antropológica do México, provavelmente farto de receber tantos e-mails histéricos sobre falsas teorias apocalípticas, também se posicionou: "O pensamento messiânico ocidental distorceu a visão de mundo das antigas civilizações, como os maias”.
Segundo o instituto, dos 15.000 textos glíficos encontrados nas ruínas do império maia, somente dois mencionam 2012. Você achava que o fim dos tempos deveria ter menções mais expressivas, certo? Eventos posteriores a 2012 também são citados, portanto, esse apocalipse não é tão inexorável quanto os fatalistas querem fazer crer.
Indiana Jones e o Templo... do Juízo Final?
Por algum motivo, a cultura moderna venera as civilizações antigas como se tivessem poderes mágicos: usando algum subterfúgio, elas conseguiam prever o futuro e conversavam com extraterrestres. Para quem acha que os filmes de Indiana Jones são retratos precisos de eventos históricos, isso não chega a surpreender.
Especialistas oferecem uma perspectiva bem melhor do real significado do fim do 13° Baktun para os descendentes dos antigos maias.
"Como Bolon Yokte já estava presente no dia da criação, seria natural para os maias que ele se fizesse presente novamente”, especula Sven Gronemeyer, um pesquisador dos códigos maias da Universidade La Trobe, na Austrália.
Bolon Yokte é o deus maia associado à guerra e à criação; o reaparecimento deste deus, portanto, na verdade representa uma transição de uma era para outra, segundo Gronemeyer. De fato, muitos irão marcar o fim do calendário maia com celebrações de um “renascimento” espiritual.
Os descendentes maias planejaram muitas celebrações; os países onde os maias prosperaram ficarão animados com o aumento dos lucros do turismo. Ao contrário do que apregoam os sites de teorias duvidosas, esta não será uma época temerária (pelo menos, na América do Sul).
É sério: o mundo não vai acabar em 2012
Quando o nosso calendário passar de 2011 para 2012, novas teorias apocalípticas devem surgir, descrevendo vividamente todas as fantásticas formas que o apocalipse assumirá.
Enquanto alguém puder ganhar dinheiro com os temores humanos, continuaremos a ver prateleiras abarrotadas de livros sobre o fim dos tempos, e anúncios do Google para websites de fatalistas sobre suas versões distorcidas da realidade.
Entretanto, essas teorias têm algo em comum: quer nosso carrasco final seja uma ejeção solar assassina, um alinhamento galáctico ou um tal Planeta X (ou Nibiru), todas são pura balela. Não há nenhum evidência de que 2012 será especial. No ano que vem, teremos nosso quinhão de guerra, morte, destruição, calamidades e derrocadas financeiras, mas os maias – ou qualquer outra civilização neste quesito - não previu o fim de tudo.