quinta-feira, 7 de julho de 2011

ANGRA 3: E o Ministério Público está de acordo?

06/07/2011 - 08h45

Angra 3 vai custar quase R$ 10 bilhões e ficará pronta em 2015



DA BBC BRASIL



Se não houver nenhum imprevisto pelo caminho, a usina de Angra 3 deve ficar pronta em 2015, três décadas após o início de sua construção. As obras devem custar R$ 9,95 bilhões, segundo a última revisão orçamentária feita pela Eletrosul, em junho de 2010.
De acordo com a Eletrosul, 70% dos gastos serão efetuados no país. O restante seria justamente a quantia pendente do financiamento indireto do governo alemão, por meio de subsídios à empresa que fornecerá equipamento à usina, a francesa Areva, que produzirá as peças na Alemanha, segundo a ONG Urgewald.
O montante chegaria a 1,3 bilhão de euros (cerca de R$ 2,9 bilhões).
Contatada pela BBC, a direção da Areva não deu retorno à reportagem para confirmar o valor exato do montante.
Segundo a Eletronuclear, o complexo de Angra é hoje responsável por 3% do fornecimento de energia ao país. No Estado do Rio de Janeiro, as centrais nucleares de Angra dos Reis respondem por 50% da energia consumida no Estado.

BRASIL-ALEMANHA
O programa nuclear brasileiro teve início em 1968, quando o regime militar resolveu construir a primeira usina nuclear do país, em Angra dos Reis, no litoral do Rio de Janeiro.
Em 1975, o Brasil assinou um acordo nuclear com a Alemanha, que se dispôs a construir os reatores nucleares e a transferir tecnologia de enriquecimento de urânio para a produção de energia.
O acordo também previa a compra de equipamentos da empresa KWU, subsidiária da Siemens.
Em 1982, Angra 1 começou a operar e tiveram início as obras de Angra 2 e Angra 3. A última teve a construção interrompida quatro anos depois.
O Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) autorizou a retomada de Angra 3 em 2007, seis anos após o início das operações de Angra 2. Em 2008, o Ibama concedeu licença prévia ambiental à nova usina, que ainda não possui uma licença permanente.
Um ano depois, a empresa francesa Areva assinou um contrato de prestação de serviços com a Eletronuclear para fornecer serviços de engenharia e administração a Angra 3, segundo o site da fabricante.
06/07/2011 - 17h26

Ativistas protestam em Berlim contra financiamento a Angra 3



Ativistas antinucleares convocaram um protesto nesta quarta-feira em Berlim contra os planos do governo alemão de subsidiar indiretamente a construção da usina nuclear de Angra 3, no litoral do Rio de Janeiro.
Os manifestantes, cujo protesto seria em frente à sede do governo, dizem ter reunido um abaixo-assinado com 125 mil assinaturas pedindo o fim do financiamento.
A pouco menos de quatro meses do acidente na central nuclear de Fukushima, no Japão, que levou a Alemanha a anunciar o fechamento de todas as suas usinas até 2022, os ativistas querem que o governo de Angela Merkel desista de subsidiar a empresa francesa Areva, que vai fornecer equipamentos para Angra 3.
Em entrevista à BBC Brasil, Barbara Happe, porta-voz da ONG Urgewald, disse: "Não faz sentido o governo anunciar que fechará todas as usinas alemãs e continuar investindo na construção de plantas em outros países."
O financiamento indireto se dá por meio da agência alemã de fomento a exportações Hermes.
Segundo a ONG, o governo alemão planeja investir 1,3 bilhão de euros (cerca de R$ 2,9 bilhões) na companhia francesa Areva, que vai produzir os equipamentos de Angra 3 em uma linha de produção alemã. Este tipo de subsídio funciona como uma espécie de seguro para proteger as empresas alemãs caso um empreendimento em outro país fracasse.
A Areva foi contatada pela BBC Brasil para comentar se está considerando alguma mudança nos seus planos em relação a Angra 3, mas não respondeu à reportagem.

USINA
Segundo Happe, o projeto de subsídios à exportação, que esteve suspenso em 2001 e 2009, foi aprovado no último ano pelo Parlamento. Vários países são beneficiários, mas ao Brasil foi destinado o maior montante --1,3 bilhão de euros, contra um total de 35 milhões de euros (cerca de R$ 55 milhões) para os outros 11 projetos, de acordo com a ONG.
O projeto brasileiro também é o único que contempla a construção de uma nova usina.
Em 2010, a Alemanha reafirmou seu compromisso com Angra 3, mas nenhum contrato de financiamento nem de fornecimento de materiais por parte do governo chegou a ser assinado.
O projeto nuclear brasileiro é fruto de um acordo de cooperação assinado em 1975 com a antiga Alemanha Ocidental.

DEFICIÊNCIAS
Em abril deste ano, diversas organizações, entre elas a Urgewald, enviaram uma carta à chanceler Merkel, pedindo que o governo não levasse à frente os planos de financiamento da Areva.
Os ativistas argumentam que a situação da usina Angra 2, que funciona há dez anos sem uma licença ambiental permanente e que também foi resultado de uma parceria com a Alemanha, comprova que o Brasil é um país com "baixos padrões de segurança e sem uma fiscalização nuclear independente".
A ONG diz ainda que o projeto brasileiro emprega tecnologia obsoleta, menciona a falta de um plano de evacuação eficiente em caso de eventual emergência e diz que falta um sistema independente de fiscalização.
Em nota à BBC Brasil, a Eletronuclear disse que as usinas de Angra "foram projetadas e construídas dentro dos mais rigorosos critérios de segurança adotados internacionalmente".
A empresa estatal disse ainda que os equipamentos já comprados "não estão obsoletos" e se "encontram em ótimas condições para uma operação confiável e segura da planta".
Segundo a Eletronuclear, as usinas são vistoriadas periodicamente por organismos como a AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica). A empresa cita que nunca houve um acidente no complexo, mas ressalta que "num ambiente de tolerância zero, sempre é possível melhorar a segurança".