Socioambiental e socioeconomico...
Vítimas de intoxicação por cloro processam a Braskem
Moradores foram afetados por vazamento da petroquímica em Alagoas
213 pessoas foram à Justiça após acidente em maio; adolescente foi parar na UTI e ainda faz 3 inalações diárias
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff2307201105.htm
ELIANE TRINDADE
ENVIADA ESPECIAL A MACEIÓ
Menos de dois meses após o vazamento na fábrica de cloro da Braskem em Maceió (AL), teve início no último dia 4 uma batalha judicial que envolve 213 vítimas da inalação do produto tóxico.Ao longo do mês, já foram ajuizadas 11 ações contra a petroquímica.
São processos em que moradores das regiões afetadas -Sítio Recreio e praça Pingo D'Água, no bairro Trapiche da Barra- pretendem responsabilizar a Braskem, gigante do ramo com receita líquida de R$ 24,4 bilhões, por danos morais e/ou materiais."Houve omissão da empresa no atendimento aos moradores, em sua maioria gente necessitada", afirma Luiz Roberto de Arruda Sampaio, advogado das vítimas.
A Braskem ainda não foi notificada.
"Não temos conhecimento oficial das ações", afirma Milton Pradines, gerente de relações institucionais da empresa.
"Na noite do vazamento, não havia 200 hospitalizados."Entre os casos que foram parar na Justiça estão o da aposentada Luzinete Santos, 65, e de sua neta Ana Paula Elias, 15, moradoras do conjunto habitacional Virgem dos Pobres 3, no Trapiche.
Desde a noite de 21 de maio, quando a área foi tragada por uma nuvem de cloro, a família diz empreender uma via crucis por hospitais.
A adolescente relata sequelas de pneumotite, espécie de pneumonia química. Ainda faz três inalações diárias para combater a falta de ar e os chiados no peito.
Ana Paula conta que inalou por mais tempo o gás venenoso por ter cochilado enquanto estudava. Quando acordou, desmaiou tentando escapar do nevoeiro tóxico que invadiu a casa.Ela e a avó foram levadas por vizinhos para o HGE (Hospital Geral do Estado), onde 129 vítimas deram entrada naquela noite.Segundo boletim da Secretaria de Saúde de Alagoas, os pacientes apresentavam falta de ar, mal-estar, vômito, desmaios, tosse e cansaço.
Ana Paula tomou oxigênio, fez nebulização e foi mandada pra casa. Voltou ao pronto-socorro quatro vezes naquela noite até ser internada.
Teve alta no dia seguinte.Três dias após o acidente, um médico da Braskem avaliou Ana Paula e a encaminhou a um hospital particular, o Arthur Ramos.Ela passou cinco dias na UTI e outros três internada, por conta da Braskem.
"O caso da Ana Paula é uma questão mais psicológica", afirma Pradines.A dona de casa Alzira Campos, 37, foi atendida por médicos da Marinha cinco dias após o acidente.
"Fiquei roxa, sem ar, com tosse e dor de cabeça que não passava."Ela, o marido e uma filha vivem no barraco no "Papódromo" erguido para a visita do papa João Paulo 2.
Mais adiante, em uma zona conhecida como Sítio do Recreio, estão 40 barracos que ocupam os fundos do terreno da Braskem.Maria José Oliveira, 30, mora ali com o marido pescador e duas filhas. Espera que a Braskem resolva a situação sem precisar entrar na Justiça.
"Não quero processar ninguém.
A fábrica tem obrigação de dar assistência."