25/01/2013-03h00
Especialistas dão dicas para resolver 10 obstáculos que afetam SP
CASSIANO ELEK MACHADO
LAURA CAPRIGLIONE
MORRIS KACHANI
DE SÃO PAULO
LAURA CAPRIGLIONE
MORRIS KACHANI
DE SÃO PAULO
Numa cidade tão grande e complexa como São Paulo, entra ano, passa ano, e os problemas parecem nunca ter fim.
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Apontá-los dá sempre a impressão de ser um projeto já feito a exaustão e, paradoxalmente, infinito.
No dia em que a maior cidade da América do Sul comemora 459 anos, especialistas se debruçam mais uma vez sobre dez importantes problemas que afetam a cidade e indicam o que pode ser feito para tentar melhorá-la.
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CULTURA
Em minha opinião, o problemas mais grave e estratégico é o desequilíbrio de aparelhos e ofertas culturais entre as regiões da cidade.
Há poucas áreas com alta concentração de teatros, cinemas, museus, galerias e centros culturais e muitas e vastas regiões com ausência de oferta cultural.
Pontual e minimamente, os CEUs e o Sesc amenizam esse quadro, mas ainda são gotas d'água no deserto.
YACOFF SARKOVAS, 58, CEO da empresa de consultoria Edelman Significa
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EDUCAÇÃO
Um dos principais problemas do setor é a falta da implementação do já existente Plano Municipal de Educação. Ele é uma importante ferramenta para revigorar a qualidade de ensino na capital paulista.
O plano prevê, por exemplo, que o governo municipal possa usar acréscimo aos recursos próprios advindos de parcerias com as administrações estadual e federal.
Os objetivos desse trabalho devem ser: estender o número de horas discentes e docentes na escola, promover formação permanente dos profissionais e estimular a participação da comunidade escolar.
MARIO SERGIO CORTELLA, 58, doutor em educação pela PUC-SP e secretário municipal de educação entre 1991-1992
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ENCHENTES
A ocupação desordenada de áreas alagáveis, principalmente a partir dos anos 1970, é a vilã das enchentes, mais que a impermeabilização do solo.
Mas as consequências desse avanço sobre as margens --que escondeu córregos e rios em galerias-- estão sendo combatidas de forma correta. Os projetos de drenagem em andamento preveem, por exemplo, a construção de piscinões e parques lineares.
Não faltam tecnologias para resolver o problema, mas elas demandam uma soma de recursos elevada. Se tudo for feito como está previsto, os riscos de enchentes serão reduzidos a níveis aceitáveis em 15 a 20 anos.
ALUÍSIO CANHOLI, 60, doutor em engenharia hidráulica pela USP
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FINANÇAS
O grande drama de São Paulo é o endividamento. A relação dívida/receita do município é uma das maiores do Brasil, já beirando os 13% do orçamento.
Isso deixa a prefeitura estrangulada financeiramente, sem sobra para manobras. Ela acaba tendo que viver em boa medida pelo que arrecada, e recorrendo a recursos como incentivos fiscais. A dívida alta, com juros muito elevados, é resultado dos desmandos do passado.
Em primeiro lugar, é preciso renegociar urgentemente as taxas de juros com a União, que é o maior credor. E, para isso, é necessário alterar a Lei de Responsabilidade Fiscal, que é algo que a União se dispôs a encaminhar. Como é a maior --e a mais importante-- cidade do Brasil, São Paulo não pode quebrar.
RAUL VELLOSO, 67, consultor econômico e especialista em contas públicas
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HABITAÇÃO
São Paulo tem 35% da população vivendo na precariedade, em favelas, loteamentos irregulares e cortiços, ou mesmo na rua. A política habitacional deve apresentar soluções criativas.
Mas faltam terras disponíveis, sobretudo na cidade "que funciona". Sem acesso a ela, pobres são condenados ao exílio nas periferias. Por causa da escassez de área para construir, a urbanização de favelas e loteamentos tem de ser prioritária.
Prédios e cortiços abandonados têm de ser reocupados. Isso significa enfrentar interesses poderosos. Superar os obstáculos para garantir a diversidade social demanda ações incisivas, que trariam desgaste político, mas mudariam a cara da cidade.
JOÃO SETTE WHITAKER, 46, arquiteto, docente da USP e do Mackenzie e coordenador do laboratório de Habitação da FAU-USP
Editoria de Arte/Folhapress
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LIXO
O manejo das 110 milhões de toneladas de lixo urbano custa R$ 1,5 bilhão por ano à cidade. A prefeitura destina 98% dos detritos para aterros. Apenas 2% são reciclados. O problema é que os aterros ficarão cada vez mais caros, por causa da valorização imobiliária, e mais distantes, encarecendo o transporte.
A solução é aumentar a reciclagem. Enterrar lixo é enterrar dinheiro. Hoje, 60% do lixo residencial é orgânico --deveria virar adubo. E os 40% restantes, a sucata, poderiam ser comprados pela indústria. Com isso, daria
para reduzir as áreas dos aterros e os gastos com transporte --sem falar nas vantagens adicionais de preservação ambiental e geração de empregos.
para reduzir as áreas dos aterros e os gastos com transporte --sem falar nas vantagens adicionais de preservação ambiental e geração de empregos.
Na ponta do lápis, o aumento drástico da reciclagem permitiria uma economia de pelo menos R$ 500 milhões por ano para aprefeitura.
SABETAI CALDERONI, 63, presidente do Instituto de Ciência e Tecnologia em Resíduos e Desenvolvimento Sustentável
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SAÚDE
A saúde na cidade melhorou. Mas isso não significa que ela vai bem. O orçamento municipal para a pasta ainda é curto. O incremento das parcerias público-privadas foi bom, reduzindo o tempo médio de internação nos hospitais públicos de dez para oito dias.
No atendimento, a má qualidade é, muitas vezes, reflexo de problemas com o capital humano, que não vislumbra meritocracia e planos de carreira. Predomina o viés político de contratação, que prejudica a assistência. A abertura de hospitais e centros de diagnóstico é necessária.
Mas, acima de tudo, é preciso organizar os fluxos, integrar a rede e combater a má administração das unidades e o desvio de usos da tecnologia.
CLAUDIO LOTTENBERG, 52, presidente do hospital Albert Einstein
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TRANSPORTE
Um problema crucial é o transporte coletivo sobre pneus. A primeira medida deveria ser retirar os táxis dos corredores --são uma minoria e atrapalham todo o sistema. Em seguida, oferecer um serviço semelhante a um metrô sobre rodas. Menos linhas, com alta frequência: um ônibus por minuto. Esse modelo dá certo em Curitiba.
Também seria importante instalar semáforos inteligentes nos cruzamentos onde passam mais ônibus, com preferência para o transporte de massa. E, além disso, criar mais faixas exclusivas para coletivos
nas vias onde trafegam mais de 30 deles por hora.
nas vias onde trafegam mais de 30 deles por hora.
Por fim, proporia que as novas estações de metrô fossem integradas de modo mais eficiente com os terminais de ônibus. Não há solução possível que não priorize e privilegie o transporte coletivo.
HORÁCIO AUGUSTO FIGUEIRA, 61, consultor em transportes e vice-presidente da Associação Brasileira de Pedestres
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URBANISMO
São Paulo vive uma grave crise urbanística. O problema fundamental não é a falta de unidades residenciais. O que está em jogo é a qualidade do lugar onde se vive --o modelo de cidade que queremos. Isso passa pela revisão do Plano Diretor. Há muita desigualdade. Nas favelas, faltam oportunidades culturais e econômicas.
Nos locais ricos, multiplicam-se condomínios e shoppings. Sem alternativas inclusivas, a especulação imobiliária prevalece. A discussão em torno do futuro do centro é emblemática. Todos concordam que ele merece ser reocupado --uns, por meio do enobrecimento, com moradias valorizadas e opções de consumo; outros, por meio da instalação de uma comunidade heterogênea e multiclassista.
Essa definição será decisiva sobre o tipo de cidade que teremos. A proliferação de movimentos contrários ao conceito intramuros, que buscam uma reocupação coletiva de qualidade para usufruto não exclusivista, é a boa notícia.
RAQUEL ROLNIK, 56, arquiteta e urbanista
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VIOLÊNCIA
O primeiro passo para conter a violência em São Paulo é previsível. A literatura mostra que a violência começa em casa. É necessário implementar programas de prevenção, com base em experiências internacionais. Ensinando os pais, por exemplo, a disciplinar os filhos sem violência.
Falta tradição no Brasil de se trabalhar em uma perspectiva de longo prazo. Sobre a queda dos homicídios em São Paulo --de 46,6 mortes por 100 mil habitantes (1996) para 8,98 (2011)--, ela foi resultado de uma conjunção de fatores.
A ação das três esferas de governo e das ONGs foi importante. Mas outras circunstâncias contribuíram: diminuiu o número de jovens na população, e os níveis de desemprego e saneamento básico melhoraram. Esta é uma lição a ser tirada: melhorando a qualidade de vida da população, a violência tende a diminuir.
NANCY CARDIA, 65, psicóloga social e vice-coordenadora do Núcleo de Estudos da Violência da USP