Em cada época, há um sonho diferente para o futuro da metrópole; o atual é ter em 2063 uma São Paulo mais interligada e humana
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25 de janeiro de 2013 | 0h 01
O Estado de S. Paulo
SÃO PAULO - A São Paulo do futuro já foi sonhada, imaginada e desenhada 
inúmeras vezes ao longo da história. Essa cidade utópica é tão mutante quanto a 
real, ou talvez mais. No decorrer das décadas, a capital paulista foi idealizada 
como uma cidade europeia, com prédios art déco e passeios arborizados, e também 
como uma metrópole americana, cortada por vias expressas sem fim. Seu centro já 
foi imaginado vivo, glamouroso, mas também vazio, pulverizado. São utopias que, 
na verdade, dizem mais sobre sua própria época do que sobre o futuro. 
Por isso mesmo, descobrir qual é a São Paulo que sonhamos hoje é essencial 
para entender as motivações por trás das mudanças que vão ocorrer na cidade a 
partir de agora. As ideias apresentadas ao longo deste caderno especial dão uma 
pista sobre esses sonhos: uma São Paulo mais humana, mais conectada e menos 
opressora do que a atual. 
Se conseguirmos alcançar esses desejos, como será então a cidade daqui a, 
digamos, 50 anos? Para tentar ilustrar esse futuro ideal, o Estado convidou o 
escritório de arquitetura FGMF, considerado um dos 30 mais promissores do mundo 
pela revista britânica Wallpaper. "Escolhemos um pequeno trecho da cidade para 
sintetizar o que entendemos que será a cidade do futuro: um pedaço do Rio 
Tamanduateí, próximo ao Pátio do Pari, no centro", afirma um dos sócios do 
escritório, Lourenço Gimenes.
Mudanças. Ele acredita que São Paulo não passará por transformações drásticas 
até lá. "Serão mudanças pontuais, pois não há nenhuma intervenção mágica que vai 
mudar uma cidade desse tamanho", diz. Entre as principais modificações, deverá 
estar a revitalização das áreas degradadas do centro, que poderá aliviar o 
problema habitacional das periferias e criar zonas qualificadas de convivência. 
"Uma dessas áreas deverá ser a região do Pari, que é rica em infraestrutura 
urbana, fica próxima de grande oferta de emprego, mas tem taxa de ocupação 
baixa", explica Gimenes.
Essa área também exemplifica uma outra característica que a vida em São Paulo 
terá no futuro, segundo o arquiteto: a mudança na sua cadeia produtiva. De 
acordo com ele, haverá uma difusão nos horários de trabalho e no home office, de 
maneira que haverá mais gente se divertindo e interagindo em espaços públicos 
durante os dias de semana. "Hoje, a cidade funciona muito em relação ao horário 
de trabalho. Uma massa de pessoas usa a cidade de uma forma durante o horário de 
trabalho, o que causa congestionamentos, e outra massa usa a cidade no horário 
de folga, o que causa fila e equipamentos de cultura lotados", afirma.
Por isso, Gimenes acredita que haverá um impulso para o desenvolvimento de 
bairros de uso misto, que englobam tanto moradia, trabalho e lazer - tudo isso 
dentro de uma paisagem convidativa para a convivência coletiva. "As pessoas 
querem uma cidade mais humana, mais agradável. Isso é um processo sem volta." 
Para ele, haverá uma exigência forte da população sobre os governantes para que 
políticas como essas sejam adotadas nos próximos anos.
Beleza. O arquiteto e urbanista Jorge Wilheim, secretário 
municipal de planejamento nas gestões Mario Covas (1983-1985) e Marta Suplicy 
(2001-2004) concorda com a afirmação. "A população está dando mais valor ao lado 
estético da cidade, porque inclusive conhece mais do mundo, viaja, faz 
comparações. E tem muitas cidades que são mais agradáveis do que São Paulo pelo 
mundo", afirma o urbanista. 
Ele também imagina São Paulo diferente no futuro, com suas principais 
questões ambientais resolvidas e um foco maior no transporte coletivo do que no 
individual. "Hoje, não se tem mais ilusão de que é possível fazer tudo com o 
automóvel. O bom senso é melhorar o transporte coletivo, com metrô, corredores 
de ônibus e até a retomada dos bondes, como cidades americanas e europeias estão 
fazendo."
Em relação ao verde, Wilheim imagina uma São Paulo pontilhada de pequenos 
parques - os chamados pocket parks, que existem em cidades como Nova York. 
"São pequenas áreas verdes, às vezes do tamanho de apenas um lote, mas que 
servem de espaço de convivência para uma determinada vizinhança", projeta. Ele 
acredita também que haverá mais controle do poder público em relação ao mercado 
imobiliário. "Teremos de encarar esse conflito", resume.
Passado. Sociólogo, professor emérito da Universidade de São Paulo (USP) e 
colunista do Estado, José de Souza Martins lembra que a São Paulo ideal às vezes 
parece mais um déjà vu de sonhos passados que não se concretizaram. "O plano do 
prefeito Fernando Haddad (PT) de deslocar o crescimento da cidade para as 
margens do Rio Tietê é, na verdade, o plano de Prestes Maia (prefeito de 1938 a 
1945). O rio seria navegável, uma Veneza paulista, com barcos suburbanos 
servindo os bairros na função de ônibus." A Ponte das Bandeiras é o que resta 
desse plano ainda atual, mas que nunca chegou a ser concluído.
 
