Como diz meu filho de 13 anos, 
muita bobagem acreditar nessa história de que o mundo vai acabar. “Na 
verdade, o mundo já está acabando”, deduz com sua voz desafinada de 
pré-adolescente, a partir de uma impressão do que vê à sua volta e em 
programas de tevê e no noticiário.
Sim, tecnicamente o mundo está mesmo acabando, ou a vida na Terra 
como a conhecemos. Pela segunda lei da Termodinâmica, a da entropia, nem
 toda energia é transformada em trabalho: parte dela se dissipa para o 
ambiente. Assim, é natural que a vida aos poucos se esvaia, ainda que 
isso dure bilhões de anos.
Mas, nesta era do Antropoceno, caracterizada por mudanças muito 
profundas na biosfera em um curtíssimo espaço de tempo pela mão do 
homem, as perdas irreversíveis ganharam de fato uma bela mãozinha.
“Irreversível” é uma palavra constante nos estudos e materiais que têm sido publicados no campo da sustentabilidade. Tipping point é outra expressão recorrente que vem nos causar arrepios.
Por exemplo, um artigo publicado na Nature em junho (de autoria de Anthony Barnosky et al)
 alerta para o fato de que ecossistema em escala global reage da mesma 
maneira que os ecossistemas locais: ele simplesmente colapsa de forma 
abrupta e irreversível quando são ultrapassados determinados limites.
A própria Nature, em 2009, publicou informações do Centro de
 Resiliência de Estocolmo que identificou a biodiversidade como um dos 
campos em que, disparado, os limiares estão sendo mais ultrapassados, 
seguido pelo ciclo de nitrogênio e pela mudança climática.
Assim, o risco de um colapso da vida na Terra em escala global é 
plausível e joga luz sobre a necessidade de se enxergar com antecedência
 os sinais dessa mudança que pode ocorrer literalmente de uma hora para 
outra.
É o que se chama de tipping point. Você vai enchendo o 
caldeirão e aparentemente está tudo bem porque nada acontece. Até que 
uma única gota a mais fará entornar o caldo.
No campo da mudança climática, mais más notícias. Tem caído por terra
 a ilusão de que ações de adaptação nos farão conviver de forma razoável
 com os efeitos do aquecimento global, já que este é inevitável. 
Conforme publicado no Estadão, um estudo conduzido pela 
Universidade das Nações Unidas e apresentado na COP 18 do Clima, 
ocorrida em dezembro no Catar, mostrou que há limites até mesmo para as 
ações de adaptação.
O estudo avaliou lugares vulneráveis no Butão, Bangladesh, Quênia, 
Gâmbia e Micronésia e concluiu que os custos estão ficando cada vez mais
 caros e perdas e danos continuam ocorrendo independente das medidas 
adotadas.
Mas o mais desalentador são as incongruências a essa altura do 
campeonato. Dentre as mais recentes está o gritante caso publicado na 
semana passada no jornal The Guardian, relatado pelo estudioso 
em energia Délcio Rodrigues, no Boletim da ONG Vitae Civilis 
(www.guardian.co.uk/environment/2012/dec/14/worldbank-climate-change).
Ao mesmo tempo em que o Banco Mundial publicou um relatório 
devastador (acesse em goo.gl/2rYhX) mostrando por que não podemos deixar
 o planeta aquecer  4 graus acima das temperaturas médias globais 
anteriores à Revolução Industrial, seu braço financeiro, a International
 Finance Corporation, considerava financiar uma nova usina termelétrica a
 carvão de 750 MW na Mongólia para mover a operação Tolgoi Oyu 
(considerada a maior mina mundial de cobre e ouro, um projeto de US$ 
13,2 bilhões da mineradora Rio Tinto).
Rodrigues lembra que queima de carvão é a forma mais poluente de 
geração de eletricidade, 50% mais que o óleo combustível derivado de 
petróleo e quase 100% mais que o gás natural, segundo a agência norte 
americana de informação sobre energia.
O caso não é pontual: um relatório do World Resources Institute de 
novembro mostra que o Banco Mundial aumentou os empréstimos para 
projetos de combustíveis fósseis e carvão nos últimos anos a ponto de 
hoje injetar US$ 5,3 bilhões em financiamento para 29 projetos de 
expansão ou de novas usinas de carvão.
Taí um ótimo exemplo daquela mãozinha que nós, humanos, estamos dando ao fim do mundo.
 
