Conferência do clima termina com mudança 'histórica', mas sem compromissos por cortes
Atualizado em 8 de dezembro, 2012 - 17:25 (Brasília) 19:25 GMT
A conferência da ONU sobre o
clima em Doha, no Catar, chegou ao seu final neste sábado com uma
mudança histórica em princípio, mas poucos avanços genuínos em cortes de
emissões de gases do efeito estufa.
Além de conseguir um acordo para estender o
Protocolo de Kyoto até 2020, a conferência estabeleceu pela primeira vez
que as nações ricas devem começar a compensar as nações pobres por
perdas em consequência das mudanças climáticas.
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Isso foi comemorado como uma grande novidade pelas nações em desenvolvimento.
Mas elas condenaram a distância entre a ciência das mudanças climáticas e as tentativas políticas de combatê-las.
O acordo, apoiado por quase 200 países, mantém o
protocolo vivo como o único plano legal obrigatório para o combate ao
aquecimento global.
Porém ele determina metas obrigatórias apenas
para as nações em desenvolvimento, cuja parcela de responsabilidade pela
emissão de gases do efeito estufa é de menos de 15%.
O texto final "sugere" que as nações ricas
mobilizem pelo menos US$ 10 bilhões ao ano entre 2015 e 2020, quando o
novo acordo global para o clima deve entrar em vigor, para compensações
pelos efeitos das mudanças climáticas.
Protesto russo
A conferência estava prevista inicialmente para terminar na sexta-feira, mas foi prorrogada por falta de consenso.
As negociações de última hora tiveram sua dose
de drama, com uma ameaça de colapso com a insistência da Rússia, da
Ucrânia e de Belarus de que deveriam receber um crédito extra pelos
cortes de emissões ocorridos quando suas indústrias fecharam.
Após um longo atraso, o presidente da
conferência perdeu a paciência, reiniciou as reuniões e passou a agenda
tão rapidamente que não houve chance de a Rússia fazer objeções. A ação
foi recebida com um longo aplauso.
A Rússia reclamou de uma suposta ilegalidade de
procedimentos, mas o presidente afirmou que não faria mais do que
refletir a visão russa em seu relatório final.
Os grandes emissores como os Estados Unidos, a
União Europeia e a China aceitaram o acordo com graus variados de
reservas. Mas o representante das pequenas ilhas gravemente ameaçadas
pelas mudanças climáticas foi feroz em suas críticas.
"Vemos o pacote diante de nós profundamente
deficiente na mitigação (cortes de emissões) e no financiamento. É
provável que vá nos manter na trajetória de aumento de 3, 4 ou 5 graus
nas temperaturas globais, apesar de termos concordado em manter um
aumento de temperatura de no máximo 1,5 grau para garantir a
sobrevivência de todas as ilhas", afirmou.
Os Estados-ilha aceitaram o acordo porque para eles é melhor do que nada.
Perdas e Danos
Outros diplomatas apontarão à imensa
complexidade do processo liderado pela ONU, que vem tentando avançar do
antigo Protocolo de Kyoto, assinado em 1997, para uma nova fase na qual
tanto nações desenvolvidas quanto em desenvolvimento assumem obrigações
no combate às mudanças climáticas.
O novo mecanismo proposto de Perdas e Danos,
para compensar as nações em desenvolvimento, é considerado um exemplo de
sucesso no processo diplomático.
Até agora as nações ricas aceitavam ajudar
financeiramente países em desenvolvimento a adotar projetos de energia
limpa para combater as mudanças climáticas, mas não aceitavam
responsabilidade pelos danos causados em outros lugares pelas mudanças
climáticas.
Em Doha esse princípio mais amplo foi aprovado.
A maior tarefa dessas duas semanas de
conferência foi o desenrolar do emaranhado de acordos do clima que foi
crescendo aos pedaços nos últimos 15 anos.
A sensação geral é de que um bom trabalho de
limpeza foi feito para ajudar a ONU a partir para a próxima fase, com o
objetivo de conseguir um acordo com responsabilidades globais.
As discussões preliminares sobre isso já
aconteceram, e deixaram evidente que um acordo global que seja justo
para todos os lados será monumentalmente difícil.