quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Projeto brasileiro traçará retrato 3D de tempestades

Tempestade que caiu em São Caetano do Sul (SP) no início do ano (Marcus Voltarelli/Leitor)



28/12/2011 - 09h57

Projeto brasileiro traçará retrato 3D de tempestades


EDUARDO GERAQUE
DE SÃO PAULO


Esmiuçar as nuvens por dentro, medindo as gotas de chuva, o granizo e entendendo como os raios se formam, é o trabalho diário de um grupo de pesquisa brasileiro.
Desdobramento a médio e longo prazo desse esforço, que vai até 2014: tornar mais confiável a previsão das tempestades que assolam o país.
Além de mapear as chuvas mais violentas, os pesquisadores também investigam por que os raios tendem a aparecer em maior quantidade em determinadas regiões.
Editoria de arte/folhapress

TRIDIMENSIONAL

"Temos equipamentos, como sensores e câmeras filmadoras, que estão acompanhando em tempo real as descargas elétricas. Temos um retrato 3D dos raios", diz Carlos Augusto Morales Rodrigues, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP.
No futuro, diz o pesquisador, que integra a equipe do Projeto Chuva (como é conhecido o grupo que está "escaneando" as nuvens), será possível montar um eficiente sistema de alerta contra descargas elétricas.
O mesmo raciocínio vale para a questão das tempestades. O grupo já fez campanhas de medições nas regiões de Alcântara (MA), Fortaleza (CE) e Belém (PA).
"O objetivo é fazer uma espécie de banco de dados com as informações coletadas dentro das nuvens desses locais", diz Rodrigues.
Essas informações, depois, vão alimentar os modelos matemáticos usados pelos meteorologistas para refinar a previsão do tempo no país.
"Estamos terminando também as medições na região do Vale do Paraíba", diz Luiz Augusto Toledo Machado, pesquisador do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e coordenador do Projeto Chuva, o qual vai fazer mais três campanhas para coleta de dados.

RUMO AO SUL
"Em 2012, vamos para Santa Maria (RS) e, nos anos seguintes, para Brasília e Manaus", diz Machado. O projeto termina em 2014. Ele vai custar cerca de R$ 1,5 milhão, contando com verbas estaduais e federais.
No caso específico da campanha de campo em andamento na região do Vale do Paraíba e litoral norte de São Paulo, as medições que estão sendo feitas já ajudam, em tempo real, a Defesa Civil de cidades como São José dos Campos (interior de SP).
"É possível saber onde está chovendo e onde, por exemplo, existe um acúmulo significativo de chuva", diz Machado, para quem o sistema de alerta está se comportando bem até agora.
É possível saber, também, a partir da rede de sensores espalhados pela região, onde estão caindo muitos raios e para onde os núcleos de tempestade vão se deslocar na meia hora seguinte.
No entanto, ainda que em cinco ou dez anos a previsão do tempo no Brasil possa ser mais precisa, em parte por causa dos dados do Projeto Chuva, o avanço pode ser menor do que o esperado se uma rede de radares não estiver olhando com mais frequência para o território nacional.
"Hoje, temos apenas 24 radares que cobrem o país", afirma Rodrigues.