REVISTA SÃO PAULO: ESPECIAL VERDE
Edição 50 - 29 de maio a 4 de junho
Autoria e fonte: http://www1.folha.uol.com.br/saopaulo/
29/05/2011 - 08h14
Sustentabilidade Pererê
Autoria: BARBARA GANCIA
DE SÃO PAULO
DE SÃO PAULO
A Redação da sãopaulo me mandou um e-mail: "Olá, Barbara, por conta do Dia Mundial do Meio Ambiente teremos uma edição temática sobre sustentabilidade. Gostaríamos de contar com a sua colaboração".
Sei. O Fabrício pegando a vizinha do andar de baixo e a mim cabe contribuir com a edição mais chata de todos os tempos. Tudo bem, contem comigo. Embora prefira ler a lista telefônica de Nova Déli a uma revista voltada para o engodo da sustentabilidade, sou uma profissional com espírito de equipe, estamos aqui para isso.
Só não me impeçam de começar dizendo que considero esse babado uma farsa. Ou que acho mais plausível ver o Saci-Pererê vencer o Usain Bolt nos 100 m rasos do que engolir a rapadura das empresas que resolveram se engajar na área.
Sejamos francos: já não dá mais tempo de tomar providências antes que nossa civilização acabe em uma grande bola de fuligem. Entre um deslizamento de terra e outro, nós aqui nem vergonha na cara temos de embutir o custo da devastação da Amazônia na carne que somos campeões mundiais em exportar.
Quem se nutre da roda-viva do mercado é tão absorvido pela piada da sustentabilidade que não vê nada de mais na notícia de que agora tem gente distribuindo folhetos publicitários dentro das salas de aula com o aval dos diretores das escolas. Pois é, Ronald McDonald tem sido aplaudido pela petizada em escolas e hospitais.
Segundo o Datafolha, quanto mais educados os pais, mais coniventes com ações publicitárias do tipo. A classe A quer ver os filhos treinados para consumir desde cedo. Os menos abastados só não gostam da catequização para o mercado por não terem "tutu" para ceder ao apelo das crianças.
Ao menos isso não nos tira mais o sono: a diferença de imbecilidade entre uma classe social e outra. Agora sabemos que todos os tapuias, ricos e pobres, são igualmente acéfalos. Superamos a desigualdade em pelo menos um aspecto, que bom, não é mesmo?
E não pense que é melhor do que eles só porque você se preocupa com o lixo que produz, viu, Pedro Bó? Separar lixo orgânico de plástico não vai resolver o problema, só a sua culpa por ser parte dele.
Não se iluda. Assim que o gelo derreter e for possível plantar mandioca na Groenlândia, você já não estará mais aqui para contar a história do aipim frito dos vikings.
A verdade é que as baleias, as gralhas e eu fatalmente acabaremos saindo de circulação. E o petróleo vai secar e deixar você a pé. Mas não será só isso. Todas as porcarias de plástico que nos rodeiam também vão desaparecer.
Incluindo o teclado em que escrevo e todos os tubos de PVC que levam nossos porcos dejetos para poluir outra freguesia. Não adianta o pessoal da Natura ou da Starbucks ou da Body Shop vir me dizer que é possível viver de forma sustentável porque daremos de volta para a natureza o que dela tiramos. Pague quantos créditos de carbono quiser que você não conseguirá equilibrar a equação.
Veja bem: não ouse vir com o papo furado de que a coisa irá se acomodar com alguma fantástica descoberta biogenética, ou o comércio visionário de urucum e plantas medicinais com os povos da floresta, que eu mando o Aldo Rebelo puxar seu pé no meio da noite.