Os blogs ainda têm futuro?
Por Rafael Kenski
Oito anos atrás, eles eram tidos como o futuro do jornalismo e da internet. Agora, com tanto barulho em torno de redes sociais e internet para celulares, blogs parecem um meio de comunicação prestes a ser superado. Eles ainda servem para alguma coisa? Para responder a pergunta, vamos ver abaixo alguns argumentos:
- Estão surgindo desertos de blogs
Uma matéria recente da revista The Economist citou pesquisas que detectam a existência de centenas de milhares de blogs sem qualquer atualização no último ano. Em muitos lugares – como Indonésia e Irã – essas páginas viraram fantasmas com a popularização do Facebook. Notícias e histórias passaram a ser contadas de forma mais rápida nas redes sociais. Para a revista, o futuro dos blogs parece ser publicação de interesse específico, para assuntos como política, economia, culinária e artesanato.
- Eles ainda dão origem a impérios
Uma rede milionária de sites surgiu nos últimos três anos, totalmente baseada em blogs. É a Cheezburger Network, dona de algumas das páginas mais ridículas (e divertidas) da internet. Começou com um blog sobre LOLcats (um tipo de, hmm, mídia que consiste em fotos de gatos em poses engraçadas com uma legenda abaixo) e depois se expandiu para diversos blogs com uma estrutura parecida. Um deles mostra acidentes, outro conversas constrangedoras no youtube, outro é sobre placas escritas em inglês errado, outro sobre jornalistas pagando mico, ou sobre gráficos engraçados e por aí vai. Todo o conteúdo é sugerido (e feito) pelos próprios leitores, que enviam as fotos, escrevem as legendas – são mais de 18 mil sugestões de por dia. Vendendo anúncios, camisetas e livros baseados nas imagens, a empresa foi lucrativa desde o primeiro dia e deverá ter um faturamento acima dos sete dígitos nesse ano, segundo uma matéria do New York Times.
- Existem novos tipos de blog, mas as ferramentas tradicionais ainda dominam
Blogs negociam espaço com ferramentas bem parecidas, como fotologs, Tumblr e Posterous. Eles são uma evolução do meio: procuram, cada um ao seu jeito, aumentar ao máximo a facilidade de uso, estimular posts rápidos (muitas vezes com só uma foto ou vídeo), ser atualizados por celular ou se interligar a outras redes sociais. Uma pesquisa feita pelo serviço de análise de dados Postrank esse ano, no entanto, concluiu que os serviços que oferecem mais engajamento – mais comentários, links e publicações em redes sociais – ainda são as ferramentas tradicionais de blog como Blogger e Wordpress. Isso indica que a primeira onda de blogs gerou publicações que já se estabeleceram como parte importante da mídia.
- Eles parecem estar em desuso pelos jovens
É uma questão meio polêmica ainda. Uma pesquisa feita pelos site BlogHer e iVillage (leve em conta que são serviços de blog) mostrou que jovens entre 18 e 25 são os maiores usuários de blogs: cerca de 40% escrevem neles e 30% costumam lê-los. Outro estudo do Pew Research Center mostrou que uma geração ainda mais nova – abaixo de 18 anos – já trocou blogs pelas redes sociais: em 2006, 28% dos jovens entre 12 e 17 eram bloggers, enquanto hoje são só 14%. Ambos os estudos, no entanto, têm problemas de metodologia suficientes para deixar a questão ainda em aberto. Mais sobre a questão aqui.
Veredito
As redes sociais estão tomando grande parte da popularidade dos blogs. Em especial, o velho uso de blogs para contar notícias sobre a vida, conversar com amigos e mostrar fotos e vídeos parece estar agora nas mãos das redes sociais. Entretanto, eles ainda têm sua utilidade. Ao contrário do Facebook, permitem textos longos e detalhados, acessíveis por ferramentas de buscas e capazes de serem comentados por qualquer pessoa (e não apenas pelos seus amigos). São recursos importantes para alguns tipos de conteúdo – de política a piadas – e provavelmente darão uma vida longa aos blogs.
O e-mail vai acabar?
njovem 7 de julho de 2010
Por Rafael Kenski
A diretora de operações do Facebook, Sheryl Sandberg, afirma que sim. Em um evento no final de junho, ela afirmou que apenas 11% dos jovens usam e-mail e que, como eles são um bom indicativo dos hábitos no futuro, é provável que a gente deixe de se comunicar dessa forma. É mais um capítulo em uma polêmica velha e com questões muito mais complicadas. Veja abaixo algumas delas:
1 – O uso de email cresce, mas menos do que o de rede sociais.
Um relatório do grupo Radicati mostrou que o número de contas de e-mail deve crescer de 2,9 bilhões em 2010 para 3,8 bilhões em 2014. Entretanto, o número de contas em redes sociais deve crescer ainda mais: de 2,1 para 3,6 bilhões no mesmo período. O estudo também mostrou que o número de e-mails enviados por pessoa por dia está em queda desde meados de 2007.
2 – Ninguém sabe a relação entre redes sociais e e-mail
Há quem diga que o Orkut e o Facebook concorrem com o e-mail e estão contribuindo para que ele acabe. Compartilhar vídeos e textos ou ter conversas rápidas podem ser feitos com mais eficiência por redes sociais ou por mensagens instantâneas. Por outro lado, há evidência de que os maiores usuários de redes sociais usam também o e-mail mais do que a média. Talvez porque um grande número de contatos nessas redes se estenda para outros meios de comunicação, ou porque o Orkut ou o Facebook usem e-mails para dar alertas sobre o que acontece nelas. Por via das dúvidas, o próprio Facebook investe em ferramentas como responder mensagens pelo próprio e-mail e há até especulações de que esteja investindo em um serviço de webmail como Gmail ou Hotmail.
3 – E-mails não são só e-mails
Ferramentas de e-mail hoje misturam lista de contatos, mensagens instantâneas, calendários e até ferramentas de microblogging como o Google Buzz. Por outro lado, qualquer rede social tem serviço de mensagens que não são lá tão diferentes de um e-mail. Mesmo que os endereços com @ no meio caiam em desuso, ferramentas muito parecidas vão continuar existindo misturadas a várias outros serviços.
4 – Jovens não usam e-mail enquanto são jovens
As editoras de uma revista teen, como a Capricho ou a Mundo Estranho, têm várias histórias sobre como é mais fácil contatar leitoras por redes sociais ou mensagens instantâneas do que por e-mail. Mas ninguém sabe até quando vai essa regra, e é possível que os jovens sejam forçados a mudar esses hábitos ao começarem a trabalhar. Afinal, enviar um relatório em Excel via Orkut não é das coisas mais fáceis.
5 – Jovens fazem um uso diferente de e-mail
Além de usarem pouco, é provável que os jovens usem de maneira diferente. Há indicações de que eles dedicam o e-mail a colecionar promoções, por exemplo. Uma pesquisa mostrou que jovens entre 18 e 25 anos têm maior probabilidade de assinar listas de email marketing do que pessoas mais velhas. Outra indicou que, quando estão em busca de promoções, eles usam mais o e-mail do que o Facebook (leve em conta que a pesquisa foi feita pela empresa de email marketing ExactTarget). Ninguém sabe o motivo disso, mas dá para arriscar uns palpites: já que os jovens não usam e-mail mesmo, não os incomoda registrar o endereço em milhões de newsletters. O e-mail passa a ser apenas um arquivo de cupons, para ser aberto quando der vontade de comprar alguma coisa.