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Coordenador da norma da ABNT fala sobre aproveitamento da água da chuva, dimensionamento e funcionamento de sistemas de captação
Reportagem: Karina Dacol
Edição 61 - Julho/2013
PERFIL
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Nome: Plínio Tomaz Profissão: engenheiro civil Cargo: coordenador da norma sobre aproveitamento da água de chuva da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) |
Com que finalidades a água da chuva pode ser aproveitada?
Somente para fins não potáveis, como descarga em bacias sanitárias, limpeza de pisos, garagens, rega de jardins e uso em equipamentos para resfriamento de máquinas. Essa água não é para beber, para cozinhar e nem para tomar banho.
Em comparação com outros países, o Brasil consome muita água?
Desde 1995, as empresas fabricam no Brasil todos os dispositivos para economizar água. Atualmente, consumimos menos de 170 l por pessoa por dia, enquanto os americanos ainda gastam 300 l. O europeu já economiza bastante. Lá, eles consomem cerca de 100 l de água por pessoa por dia.
Quais os principais vilões do consumo de água em edifícios?
O maior vilão nesse tipo de edificação é, sem dúvida nenhuma, a bacia sanitária. Antigamente, o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) achou valores de 18 l utilizados a cada descarga. Hoje, temos até caixas de descarga com dois botões: um para 3 l e outro para 6,8 l. Nos prédios antigos, devem-se trocar todas as bacias sanitárias por caixas acopladas para descarga de 6,8 l por acionamento.
Os prédios vão começar a usar mais dispositivos para reúso de água?
Em edificações, pode ser feito o aproveitamento da água da chuva e o reúso de águas cinzas (proveniente de utilização de lavatórios, chuveiros e pias de cozinha). A meu ver, devido à pequena área de telhado e ao grande consumo, os prédios vão ter que usar água de reúso. O problema é que não existem normas ou leis federais nem para garantir o consumidor e nem para determinar a partir de qual tamanho de área construída o reúso é necessário.
Até que tamanho de prédio é eficaz o reúso?
Só compensa a partir de certa área e certo volume de consumo. Quando o prédio tem mais de 30 mil m², pode ser contratada firma especializada para acompanhar o tratamento das águas cinzas. Se o prédio for muito pequeno, fica inviável financeiramente. Fazer reúso em uma casa pequena sai caro e a parte financeira não compensa, pois demanda acompanhamento técnico, com engenheiros químicos e especialistas.
Quais os cuidados necessários para implantar sistemas de aproveitamento de água da chuva em condomínios residenciais?
Para que o sistema funcione corretamente, o projeto tem de ser feito por engenheiro civil ou arquiteto e deve seguir a NBR 15.527 - Água da Chuva - Aproveitamento de Coberturas em Áreas Urbanas para Fins Não Potáveis - Requisitos, que regulamenta o uso da água da chuva para fins como rega de jardins, lavagem de pisos e de carros e descargas em bacias sanitárias. A norma diz que, em áreas urbanas, apenas as águas dos telhados são aproveitadas, mas não as que entraram em contato com o chão. O grande problema é achar o volume da cisterna, pois, se for muito grande, o custo ficará elevado e, se ficar pequena, faltará água constantemente.
Existem outras normas referentes ao reúso de água?
A NBR 15.527 trata somente de aproveitamento de água da chuva. As águas servidas ou águas cinzas (greywater), que são as residuais de processos como banho, lavagem de roupa e louça, ainda não possuem norma.
Como é a manutenção?
Não existe treinamento especial, pois os reservatórios usados são como os reservatórios para água potável, e devem ser limpos e desinfetados pelo menos uma vez ao ano. Em geral, são enterrados ou semienterrados e a limpeza e desinfecção das paredes é feita com ácido hipocloroso (hipoclorito de sódio), que é o cloro na forma líquida. A limpeza pode ser feita por funcionário do edifício ou por empresa que preste esse serviço, que costuma ser a mesma que limpa caixas-d'água.
O que deve ser verificado?
Os conjuntos elevatórios devem ser verificados, no mínimo, uma vez por mês pela prefeitura e pelos órgãos ambientais, como a Secretaria da Saúde. Os prédios costumam fazer a limpeza uma vez ao ano e, geralmente, a firma responsável emite atestado, afixado na parede do edifício. Já o reservatório de first flush deverá ser verificado após chuvas intensas para retirada de materiais desviados da cisterna. Em caso de a água servir bacias sanitárias, deve ser clorada, conforme previsto na norma.
Quais os principais erros de projeto?
Os principais erros estão no dimensionamento do reservatório e no first flush, dispositivo que fica na entrada da cisterna e que, quando chega a chuva, retém e expulsa a água que contém folhas, sujeira e pedras. Ele precisa ser calculado para esvaziar em dez minutos, escoando a sujeira.
O que são as chamadas piscininhas?
São reservatórios que armazenam água de telhados e pisos durante o pico de chuvas. O objetivo é controlar enchentes, pois a água é liberada aos poucos. Elas ajudam, mas não resolvem o problema, até porque a água da piscininha não deve ser usada, já que os pisos têm até 12 vezes mais poluição do que os telhados.
O que é golpe de aríete? Ele ainda é um problema?
O golpe de aríete acontecia antigamente, com as válvulas de descargas. Após apertar a descarga, ouvia-se um barulho muito alto, resultado da transmissão das ondas que, com o tempo, acabavam destruindo toda a tubulação. Isso é coisa do passado, pois as válvulas atuais não produzem golpe de aríete.
Qual sua opinião sobre a abordagem dos sistemas de certificação quanto à questão da redução do consumo de água nas edificações?
Se você obtém uma certificação, vai ter certeza de que haverá economia de 30% de água e 30% de energia e haverá mais conforto térmico para os usuários. Por isso, o seu imóvel terá mais valor. Chegará um tempo que, quando o usuário for comprar um apartamento ou um escritório, ele automaticamente vai querer saber sobre o tipo de certificação do prédio. Se não existir, ele vai comprar em outro lugar.