quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Green office: a utopia e a contradição da sustentabilidade

04/02/14 05:00 - Opinião2

Green office: a utopia e a contradição da sustentabilidade

Mário Henrique da Luz do Prado

http://www.jcnet.com.br/editorias_noticias.php?codigo=232762
Dia destes, ouvi falar deste termo: Green Office, que significaria “escritório sustentável”. O resto é fácil imaginar: energia renovável, papel reciclado, reciclagem de outros materiais, menor produção de resíduos, etc. Tudo isto faria este escritório ganhar um “selo verde”, com o que poderia, orgulhosamente, estampar seu “hall” de entrada e sua assinatura de e-mail. O que faria, provavelmente, com o símbolo de uma folha de árvore. E faria sem contrariedade.

Dizer que um escritório é sustentável pode ser louvável, e seria, se a sustentabilidade não estivesse, nos dias atuais, vista como, tão somente, preocupação e dever das empresas, das indústrias, e não das pessoas. E não digo isto no sentido de que “devemos ter uma casa sustentável”, ou “não devemos jogar lixo na rua”. Isto é pouco. Isto não é nada. A sustentabilidade é um conceito micro, e não macro. 

Toda mudança deve ser “centrífuga”, de dentro para o exterior. Pois então: temos ideias sustentáveis? Temos atitudes sustentáveis? Desejos sustentáveis? Ser “sustentável” não é cuidar do lixo, é cuidar de si. O mundo não é sustentável e mesmo que reciclemos todo o lixo produzido, que não derrubemos uma árvore sequer, que não joguemos nenhum pedaço de nada nos rios e mares, ainda não seremos sustentáveis. A relação do homem com o homem continuará suja, continuará sendo de servidão, de exploração, de disputa, de ódio, de racismo, de homofobia. De que adianta, então, se preocupar tanto com o lixo que a grande fábrica da sua cidade produz sem se preocupar com o que você mesmo produz ?

E tem mais: a fábrica que não joga lixo nos rios continuará a explorar seu operário, e o que isso tem de sustentável? O automóvel que polui menos continuará entupindo as ruas. E quando forem construir novas estradas para os carros pouco poluentes, o impacto ambiental será ainda maior, serão desapropriadas propriedades de diversas famílias para construir a estrada para os carros “pouco poluentes”.

E assim vamos acreditando nesse “mundo sustentável”, que só muda o jeito de se destruir dia a dia. O modelo de sustentabilidade atual é tão estúpido que, dia qualquer, um tanque de guerra vai ter um “selo verde” por consumir pouco combustível. Então teremos uma guerra “sustentável”. Símbolo maior da utopia, contradição e estupidez da nossa sustentabilidade. 

O autor, Mário Henrique da Luz do Prado, é colaborador de Opinião