Brasil poderá ter projeto inédito de sustentabilidade
Em entrevista ao Correio, o astronauta Pontes aborda programas em parceria com a Nasa
10/02/2013 - 11h38 | Felipe Tonon
felipe.tonon@rac.com.br
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Foto: Felipe Tonon/AAN
Marcos Pontes (dir.) posa ao lado do turista brasileiro Marco Clivati
O único astronauta brasileiro, Marcos Pontes, que entrou para a seleta lista mundial de desbravadores do espaço, tem motivos de sobra para comemorar o sucesso. O Correio Popular acompanhou o profissional durante visita ao parque temático da Nasa, o Kennedy Space Center, em Cabo Canaveral, na Flórida (EUA). Ele falou sobre o trabalho para fomentar a educação no Brasil — como a criação de mais um curso de engenharia aeroespacial — e dos programas espaciais inéditos desenvolvidos em parceria com outros países, além de um estudo com a Organização das Nações Unidas (ONU) e a Nasa para transformar o Estado de Roraima no primeiro Ecoestado do mundo.
Atualmente, Pontes acumula diversas funções no Brasil e nos EUA. Sua base é Houston, no Texas, onde atua como representante técnico junto à Nasa e outras instituições ligadas ao Programa da Estação Espacial Internacional (ISS). Ele também está à disposição da Agência Espacial Brasileira (AEB) e acompanha o programa espacial do Brasil, mas reconhece que faltam investimentos no setor. Segundo ele, o programa brasileiro está seguro e devem acontecer lançamentos de foguetes em breve — os lançamentos foram suspensos em 2003, após a explosão de um foguete na rampa de Alcântara, no Maranhão, que matou 21 pessoas.
“O Brasil tem projetos com a França e a Argentina sendo estabelecidos e deve haver abertura de concurso para o Instituto de Aeronáutica”, informou.
A transformação de Roraima no primeiro Ecoestado do mundo é um dos projetos mais ambiciosos em desenvolvimento juntamente com a Nasa e a ONU, e pretende fazer uma “reforma” radical no Estado. Roraima foi escolhido para ter o programa pioneiro por sua localização, próximo à região Amazônica, e pelo potencial ainda pouco explorado para desenvolver práticas ecológicas e sustentáveis.
O mote principal é um Estado ecologicamente sustentável, economicamente viável e socialmente justo, que será feito com a transformação de cidades-modelo para o Brasil em sustentabilidade, integrando aspectos como energia renovável, distribuição de água potável e rede de saneamento e mobilidade urbana.
Na área de educação, Pontes segue trabalhando para a expansão do ensino da engenharia aeroespacial. Em termos de formação de pessoal, propôs ao Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), em 2009, a criação do curso superior de engenharia aeroespacial, já em funcionamento.
O Ministério da Educação (MEC) está avaliando a grade curricular do curso proposto por Pontes na Universidade de São Paulo (USP), que poderá lançar a nova graduação, ampliando a formação na área. A princípio, a proposta é ampliar as matérias da área aeroespacial aos estudantes de engenharia aeronáutica.
Além do ITA, A Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e a Universidade do Grande ABC (UFABC) já oferecem o curso. Ele ainda mantém a Fundação Astronauta Marcos Pontes desde 2010, que trabalha com ciência e tecnologia para crianças, além de motivação de professores e ensino profissionalizante para promoção da pesquisa e desenvolvimento em ciência e tecnologia no Brasil. Pontes também acumula o título de embaixador da ONU para o Desenvolvimento Industrial.
Como se não bastassem tantas atividades, o astronauta brasileiro também é uma das novidades na atração “Encontro com Astronautas”, no Kennedy Space Center, onde apresenta aos visitantes do centro sua trajetória de vida até a conquista do espaço.
Durante a visita do Correio, ele falou sobre sua mais nova experiência de apresentar as facetas do primeiro astronauta brasileiro na Nasa. “Aqui é um centro que atrai muita gente e esse contato com os visitantes, com as crianças, é importante não só no entretenimento, mas, também como forma de incentivo ao ensino da ciência e tecnologia. Abre um bom caminho, uma motivação”, afirmou o brasileiro, um defensor da educação como forma de alavancar os estudos científicos no País. “Quando eu falo com as crianças, não importa de onde elas vêm, se o país é rico ou se é pobre. Se há dedicação no estudo, há claramente sucesso.”
Pontes é a prova de que um sonho pode se tornar realidade. “Eu nunca pensei em ser astronauta, mas sempre quis ser piloto de avião. Em Bauru eu via a Esquadrilha da Fumaça, e me lembro quando me deixaram chegar perto do avião. Vou levar aquele momento para minha vida inteira.”
Desde que o programa dos encontros com os astronautas foi iniciado no parque da Nasa, em 2001, diversos profissionais da área já mantiveram contato com os visitantes. Em novembro do ano passado, foi a vez do astronauta brasileiro entrar para o time e ganhar elogios na Nasa. O ex-astronauta Jon McBride, que tem mais de 8,8 mil horas de voo e atualmente trabalha no KSC, disse que Pontes é um dos destaques da Nasa. “O Marcos é espetacular, não precisa mudar nada. É simpático, toca na alma, no coração das pessoas. Ele é um astronauta especial”. Sua próxima apresentação aos turistas ocorrerá entre os dias 20 e 25 de julho.
Trajetória teve início em rede ferroviária
Para chegar onde chegou, o garoto do Interior Marcos Pontes começou a trabalhar cedo, com 14 anos, como eletricista na rede ferroviária de Bauru (SP). Nas horas vagas, estudava nos vagões dos trens.
E entrou para o Instituto Tecnológio de Aeronáutica (ITA) - um esforço recompensado com a aprovação para piloto da Força Aérea Brasileira (FAB) na base de Pirassununga (SP). “Queria ser piloto, mas todos olhavam para aquele menino pobre e diziam que era impossível”, lembra.
O sonho já estava realizado, mas se tem uma coisa que Pontes não dispensa é um desafio. Em 1998, o Brasil lançou concurso público para seleção de apenas um astronauta, com a retomada do programa espacial brasileiro. Selecionado no rigoroso processo seletivo, Pontes foi para a Nasa. Após anos de treinamento, em 2005 foi convidado para participar como tripulante da Missão Centenária, criada pela Agência Espacial Brasileira (AEB).
A missão tinha como objetivo realizar experimentos nacionais em microgravidade, incentivar o crescimento dessa área de pesquisa no Brasil, homenagear Santos Dumont e promover o Programa Espacial Brasileiro. Em março de 2006, a bordo da Soyuz (espaçonave russa), o primeiro astronauta brasileiro finalmente foi para o espaço. (FT/AAN)
O jornalista Felipe Tonon viajou a convite do Kennedy Space Center
Atualmente, Pontes acumula diversas funções no Brasil e nos EUA. Sua base é Houston, no Texas, onde atua como representante técnico junto à Nasa e outras instituições ligadas ao Programa da Estação Espacial Internacional (ISS). Ele também está à disposição da Agência Espacial Brasileira (AEB) e acompanha o programa espacial do Brasil, mas reconhece que faltam investimentos no setor. Segundo ele, o programa brasileiro está seguro e devem acontecer lançamentos de foguetes em breve — os lançamentos foram suspensos em 2003, após a explosão de um foguete na rampa de Alcântara, no Maranhão, que matou 21 pessoas.
“O Brasil tem projetos com a França e a Argentina sendo estabelecidos e deve haver abertura de concurso para o Instituto de Aeronáutica”, informou.
A transformação de Roraima no primeiro Ecoestado do mundo é um dos projetos mais ambiciosos em desenvolvimento juntamente com a Nasa e a ONU, e pretende fazer uma “reforma” radical no Estado. Roraima foi escolhido para ter o programa pioneiro por sua localização, próximo à região Amazônica, e pelo potencial ainda pouco explorado para desenvolver práticas ecológicas e sustentáveis.
O mote principal é um Estado ecologicamente sustentável, economicamente viável e socialmente justo, que será feito com a transformação de cidades-modelo para o Brasil em sustentabilidade, integrando aspectos como energia renovável, distribuição de água potável e rede de saneamento e mobilidade urbana.
Na área de educação, Pontes segue trabalhando para a expansão do ensino da engenharia aeroespacial. Em termos de formação de pessoal, propôs ao Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), em 2009, a criação do curso superior de engenharia aeroespacial, já em funcionamento.
O Ministério da Educação (MEC) está avaliando a grade curricular do curso proposto por Pontes na Universidade de São Paulo (USP), que poderá lançar a nova graduação, ampliando a formação na área. A princípio, a proposta é ampliar as matérias da área aeroespacial aos estudantes de engenharia aeronáutica.
Além do ITA, A Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e a Universidade do Grande ABC (UFABC) já oferecem o curso. Ele ainda mantém a Fundação Astronauta Marcos Pontes desde 2010, que trabalha com ciência e tecnologia para crianças, além de motivação de professores e ensino profissionalizante para promoção da pesquisa e desenvolvimento em ciência e tecnologia no Brasil. Pontes também acumula o título de embaixador da ONU para o Desenvolvimento Industrial.
Como se não bastassem tantas atividades, o astronauta brasileiro também é uma das novidades na atração “Encontro com Astronautas”, no Kennedy Space Center, onde apresenta aos visitantes do centro sua trajetória de vida até a conquista do espaço.
Durante a visita do Correio, ele falou sobre sua mais nova experiência de apresentar as facetas do primeiro astronauta brasileiro na Nasa. “Aqui é um centro que atrai muita gente e esse contato com os visitantes, com as crianças, é importante não só no entretenimento, mas, também como forma de incentivo ao ensino da ciência e tecnologia. Abre um bom caminho, uma motivação”, afirmou o brasileiro, um defensor da educação como forma de alavancar os estudos científicos no País. “Quando eu falo com as crianças, não importa de onde elas vêm, se o país é rico ou se é pobre. Se há dedicação no estudo, há claramente sucesso.”
Pontes é a prova de que um sonho pode se tornar realidade. “Eu nunca pensei em ser astronauta, mas sempre quis ser piloto de avião. Em Bauru eu via a Esquadrilha da Fumaça, e me lembro quando me deixaram chegar perto do avião. Vou levar aquele momento para minha vida inteira.”
Desde que o programa dos encontros com os astronautas foi iniciado no parque da Nasa, em 2001, diversos profissionais da área já mantiveram contato com os visitantes. Em novembro do ano passado, foi a vez do astronauta brasileiro entrar para o time e ganhar elogios na Nasa. O ex-astronauta Jon McBride, que tem mais de 8,8 mil horas de voo e atualmente trabalha no KSC, disse que Pontes é um dos destaques da Nasa. “O Marcos é espetacular, não precisa mudar nada. É simpático, toca na alma, no coração das pessoas. Ele é um astronauta especial”. Sua próxima apresentação aos turistas ocorrerá entre os dias 20 e 25 de julho.
Trajetória teve início em rede ferroviária
Para chegar onde chegou, o garoto do Interior Marcos Pontes começou a trabalhar cedo, com 14 anos, como eletricista na rede ferroviária de Bauru (SP). Nas horas vagas, estudava nos vagões dos trens.
E entrou para o Instituto Tecnológio de Aeronáutica (ITA) - um esforço recompensado com a aprovação para piloto da Força Aérea Brasileira (FAB) na base de Pirassununga (SP). “Queria ser piloto, mas todos olhavam para aquele menino pobre e diziam que era impossível”, lembra.
O sonho já estava realizado, mas se tem uma coisa que Pontes não dispensa é um desafio. Em 1998, o Brasil lançou concurso público para seleção de apenas um astronauta, com a retomada do programa espacial brasileiro. Selecionado no rigoroso processo seletivo, Pontes foi para a Nasa. Após anos de treinamento, em 2005 foi convidado para participar como tripulante da Missão Centenária, criada pela Agência Espacial Brasileira (AEB).
A missão tinha como objetivo realizar experimentos nacionais em microgravidade, incentivar o crescimento dessa área de pesquisa no Brasil, homenagear Santos Dumont e promover o Programa Espacial Brasileiro. Em março de 2006, a bordo da Soyuz (espaçonave russa), o primeiro astronauta brasileiro finalmente foi para o espaço. (FT/AAN)
O jornalista Felipe Tonon viajou a convite do Kennedy Space Center