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Sofia Costa Rêgo
Jaime Cabral fez um jardim de chuva na UFPE e garante que qualquer pessoa pode fazer um em casa
Especial para o NE10
As chuvas estão trazendo grandes problemas para as cidades, sobretudo para as grandes metrópoles. Mas não dá para culpar apenas a natureza pelos alagamentos que tanto atrapalham a vida da população. A urbanização tem deixado as cidades cada vez mais cheias de concreto, dificultando o escoamento das águas nos dias chuvosos. Sem ter como entrar no solo, resta à água se espalhar pelas ruas. Para tentar compensar um pouco os impactos negativos das áreas urbanas e tentar resgatar o ciclo natural da água, pesquisadores do Centro de Tecnologia e Geociências (CTG) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) vêm trabalhando com duas técnicas que tentam facilitar a infiltração das águas da chuva: jardins de chuva e pavimentos permeáveis.
Ter um jardim em casa ou no prédio já é bem melhor do que ter apenas concreto. Mas a taxa de infiltração de água num jardim comum é bem pequena. A penetração da água na terra ocorre mais rapidamente nos primeiros minutos de chuva, mas logo o solo atinge a saturação. Sem conseguir se infiltrar, a água termina correndo para a rua e provocando os alagamentos. Uma boa saída para fazer o jardim absorver mais água é cavar até um metro de profundidade e preencher esse espaço com areia e brita. Na parte superior, coloca-se terra com adubo e a cobertura vegetal. Está pronto o "jardim de chuva".
"Dessa forma você cria um reservatório e permite que a água fique armazenada e depois vá se infiltrando lentamente entre os espaços vazios no meio da areia e da brita. É uma forma simples de ajudar a reduzir os alagamentos", atesta o professor Jaime Cabral, que é coordenador do grupo de Recursos Hídricos do curso de Engenharia Civil da UFPE.
Segundo o levantamento feito pela doutoranda Tássia Tenório, aluna do pesquisador, os jardins de chuva são viáveis tanto em canteiros públicos quanto em residências. "Além de a execução ser bem simples, brita e areia são materiais bastante acessíveis. Qualquer pessoa pode fazer em casa. E não precisa fazer todo o jardim dessa forma. Um pequeno trecho já favorece a infiltração", esclarece Jaime Cabral.
Segundo o levantamento feito pela doutoranda Tássia Tenório, aluna do pesquisador, os jardins de chuva são viáveis tanto em canteiros públicos quanto em residências. "Além de a execução ser bem simples, brita e areia são materiais bastante acessíveis. Qualquer pessoa pode fazer em casa. E não precisa fazer todo o jardim dessa forma. Um pequeno trecho já favorece a infiltração", esclarece Jaime Cabral.
A manutenção do jardim também é simples. Basta remover pedregulhos, folhas e lixos. Apesar de pouco difundidos nacionalmente, os jardins de chuva já são bastante comuns na Austrália, Nova Zelândia, nos Estados Unidos, na França e Alemanha.
Já o pavimento permeável consiste em trocar os blocos de concreto por blocos porosos, que deixam espaço para colocar um pouco de terra e plantar em cima. Na parte de baixo, coloca-se uma camada de areia e uma camada de brita, assim como nos jardins de chuva.
Já o pavimento permeável consiste em trocar os blocos de concreto por blocos porosos, que deixam espaço para colocar um pouco de terra e plantar em cima. Na parte de baixo, coloca-se uma camada de areia e uma camada de brita, assim como nos jardins de chuva.
"Alguns arquitetos têm usado apenas o pavimento poroso para plantar um pouco de grama em cima, com objetivo apenas estético. Isso facilita um pouco a infiltração, mas ajudaria muito mais se colocassem também a areia e a brita para formar esse reservatório. Em cima disso, dá para estacionar carros, por exemplo", diz Cabral, que fez um pavimento permeável no estacionamento do CTG, junto com seu grupo de pesquisa.
TELHADOS VERDES TAMBÉM SÃO ALTERNATIVAS
Outra técnica utilizada para diminuir os danos causados pela chuva é o telhado verde ou teto verde. Nesse caso, as telhas originais são substituídas pela implantação de coberturas verdes, além da construção de muretas de contenção e impermeabilização da superfície superior da laje. "Num telhado comum, a água corre direto para a rua, enquanto que em um teto verde, a água primeiro se infiltra e, quando fica bem cheio, o excedente transborda para a rua", explica Jaime Cabral. Segundo ele, na Alemanha e na Austrália, a população é incentivada a fazer tetos verdes e reservatórios para aproveitar água da chuva.
Em Caruaru, no Agreste de Pernambuco, a professora da UFPE Sylvana Melo dos Santos coordena uma pesquisa sobre o assunto. Ela constatou que os telhados verdes podem reter mais de 70% da água da chuva em comparação a um telhado convencional, com telhas, contribuindo para redução dos alagamentos.
De acordo com a pesquisadora, a técnica pode ser empregada por qualquer pessoa, mas com alguns cuidados. "É preciso realizar uma boa impermeabilização da laje e canalizar o volume escoado para uma caixa d'água ou cisterna para armazenamento e posterior uso da água. Também é necessário escolher uma vegetação leve, que sobrecarregue pouco a estrutura, como as gramíneas", explica.
SAIBA MAIS
- Os jardins de chuva, os pavimentos permeáveis e os telhados verdes reduzem o volume de escoamento devido à retenção e ao armazenamento da água
- As três técnicas amenizam os efeitos erosivos ocasionados pelo escoamento superficial da água
- Têm baixo custo de implantação e manutenção
- Têm maior aceitabilidade pela população por causa dos benefícios estéticos, paisagísticos e ambientais
- O jardim de chuva e o teto verde melhoram a qualidade das águas por causa da retenção e remoção de poluentes transportados pelas águas das chuvas
- No Brasil, o conhecimento dessas duas técnicas chegou há aproximadamente 15 anos, primeiramente em Porto Alegre (RS)