Serra Pelada busca 'garimpo sustentável'
Convênio entre garimpeiros e a Universidade de São Paulo quer acabar com uso do mercúrio na reabertura da famosa jazida no Pará
22 de agosto de 2012 | 3h 07
Bruno Deiro - O Estado de S.Paulo
Um convênio entre a USP e a Cooperativa dos Garimpeiros dos Minérios de Serra 
Pelada (Coomispe) quer promover o fim do uso do mercúrio na reabertura de uma 
das mais famosas jazidas minerais do mundo. À espera de propostas de grandes 
empresas mineradoras, a associação paraense buscou apoio técnico para criar um 
modelo de negócio que evite a contaminação ocorrida há três décadas, no auge da 
corrida do ouro na região. 
 
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 Cientistas 
temem aumento de mercúrio na Amazônia
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José Luís da Conceição/AE
Secretaria do Meio Ambiente do Amazonas 
também estuda proposta para banir mercúrio
A Coomispe, uma das oito cooperativas que obtiveram Permissão de Lavra 
Garimpeira (PLG) outorgada pelo Departamento Nacional de Produção Mineral 
(DNMP), será assessorada pelo recém-criado Núcleo de Apoio à Pequena Mineração 
Responsável. "Vamos definir um plano de negócio com base na mineração 
sustentável para ser apresentados aos investidores", afirma o professor Giorgio 
de Tomi, responsável pelo núcleo da USP. 
Com pouco mais de 4 mil associados, a Coomispe dispõe de uma área de 628 
hectares próxima a Curionópolis para a exploração de ouro, prata, platina, 
paládio e silício. Segundo Tomi, a ideia é evitar os problemas enfrentados pela 
Cooperativa de Mineração dos Garimpeiros de Serra Pelada (Coomigasp), única até 
agora a ter fechado um contrato para extração. "Essa primeira cooperativa estava 
muito despreparada ao fechar acordo com a empresa canadense (Colossus). 
Dificilmente conseguirá colocar em prática uma solução sem mercúrio", diz o 
professor. 
Ainda em fase inicial de negociação, o acordo entre a USP e a Coomispe será 
votado em assembleia pelos garimpeiros. Caso seja aprovado, o projeto dependerá 
de estudos de campo para determinar a quantidade de recursos necessários. "A 
única certeza que temos é de que usaremos o 'estado da arte' da mineração, que é 
a técnica com o uso de cianeto. Caso contrário, a USP não entraria no projeto, 
pois não faria sentido promovermos tecnologias com mercúrio", afirma Giorgio de 
Tomi. 
Para Luiz Carlos Martins, diretor comercial da Coomispe, um projeto mais 
moderno será decisivo para atrair investidores. "Estamos na maior região de 
minério do País e a USP tem a melhor tecnologia. Queremos um modelo que sirva de 
exemplo para as outras cooperativas, pois assim nos tornaremos mais 
competitivos." Segundo ele, o reinício da mineração em Serra Pelada deverá levar 
de dois a três anos.
Região amazônica
Um grupo técnico da Secretaria Estadual de Meio Ambiente do Amazonas 
se reuniu ontem para definir mudanças na Resolução 011/2012, que regulamenta o 
uso de mercúrio nos garimpos do Estado. No dia 30, a minuta com as alterações 
será apresentada ao conselho da secretaria - a proposta deve incluir prazos para 
o banimento do mercúrio e eventuais punições.
A resolução causou polêmica entre ambientalistas locais, que acusam o governo 
de legitimar o uso do mercúrio na extração de ouro em rios amazônicos, que por 
suas caraterísticas naturais já possuem uma alta concentração da substância.
Além disso, alguns pesquisadores da área ambiental alegaram não terem sido 
consultados durante a elaboração do documento. Por isso, foram realizadas na 
última semana dois encontros técnicos para debater a questão. Entre as mudanças 
cogitadas está o zoneamento da regulamentação: em locais como a região do Alto 
Rio Negro, que possuem níveis mais altos de mercúrio, poderia haver uma meta 
mais urgente para a proibição do elemento químico.
 
