segunda-feira, 11 de junho de 2012

Curso reforça importância da agenda da sustentabilidade na campanha eleitoral


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Promovido pela Rede Nossa São Paulo e Rede de Ação Política Pela Sustentabilidade, curso “Candidatos pela Sustentabilidade” contou com 240 participantes – a maioria pré-candidatos.
Airton Goes airton@isps.org.br
O curso “Candidatos pela Sustentabilidade” contou com 240 participantes, sendo a grande maioria formada por pré-candidatos às eleições deste ano e dirigentes partidários. Em menor número também receberam a formação, que teve como base o Programa Cidades Sustentáveis, gestores públicos e representantes da sociedade civil.
Promovido pela Rede Nossa São Paulo e Rede de Ação Política pela Sustentabilidade (RAPS), o curso reforçou para os pré-candidatos que haviam assinado a carta compromisso do programa e demais participantes a importância da agenda da sustentabilidade no debate eleitoral deste ano. 
Nos dois dias de formação em São Paulo, ocorrida nos dias 1 e 2 de junho, diversos conferencistas apresentaram aos participantes as ferramentas e os instrumentos para a elaboração e realização de uma campanha focada na agenda da sustentabilidade urbana.
Logo na abertura do curso “Candidatos pela Sustentabilidade”, Marcos Vinícius Campos, da RAPS, destacou que “o Programa Cidades Sustentáveis apresenta uma série de boas experiências e bons exemplos a perseguir”. Para ele, os candidatos comprometidos com esta agenda, precisam estar alinhados com os valores de uma cidade sustentável.
Em seguida, Oded Grajew, coordenador-geral da Rede Nossa São Paulo, alertou para o fato de o planeta não ter condições de suportar o modelo de desenvolvimento em curso e defendeu mudanças urgentes. “Somente depois de grandes desastres é que tomamos alguma atitude”, constatou ele, ao avaliar: “Não estamos atentos aos sinais”.
Na opinião de Grajew, os pré-candidatos e dirigentes partidários, ao participarem do curso, realizaram uma escolha que pode fazer a diferença. “É um processo que pode mudar a história da nossa cidade, do nosso país e do mundo. Temos essa possibilidade e, com isso, a responsabilidade.”
O palestrante Ricardo Young, ex-presidente do Instituto Ethos, apresentou o Módulo I do curso “Agenda da sustentabilidade: do global ao local e a relevância da gestão das cidades”. Aproveitando sua experiência de candidato ao senado pelo Partido Verde na eleição de 2010, quando recebeu cerca de 4 milhões de votos, ele argumentou que o tema sustentabilidade está no “coração da política” e é absolutamente estratégico para o Brasil.
Young relatou o crescimento dramático da população que vive nas cidades, defendendo a necessidade de uma nova forma de medir o desenvolvimento. ‎"Há 20 anos, as fotos de bicicleta eram o modelo de atraso, hoje cidades com bicicletas são sinônimo de modernidade”, comparou.
O Módulo II da formação “Programa de Metas (indicadores) e Participação” foi apresentado por Maurício Broinizi, coordenador da secretaria executiva da Rede Nossa São Paulo. Ele começou sua exposição recomendando que os pré-candidatos iniciem desde já o levantamento dos indicadores. “Faça o diagnóstico de sua cidade.”
Broinizi ressaltou que os políticos, ao se comprometerem com o Programa Cidades Sustentáveis, estão se adiantando ao que irá ocorrer daqui a algum tempo. “Todos os poderes executivos terão que fazer, pois a PEC 52/2011 [proposta de emenda constitucional que se encontra em tramitação no Congresso Nacional] prevê a obrigatoriedade de apresentação de um Programa de Metas com base em indicadores.”
Uma das palestras que despertou mais interesse por parte dos participantes foi a “Campanha 2.0”, do Módulo III, que foi apresentada por Maurício Brusadin, diretor executivo da empresa Envolvimento Posicionamento Digital. O especialista em campanhas digitais informou que na era digital, é preciso que os candidatos tenham uma relação direta com os eleitores, sem a necessidade de intermediários. “Do mesmo jeito que não precisamos do garçom nos restaurantes por quilo, o cidadão quer uma comunicação direta com você”, exemplificou.
Brusadin apontou alguns números para demonstrar como as coisas são mais rápidas na era digital. “O rádio precisou de 38 anos de existência para chegar a 50 milhões de usuários. A televisão, 14 anos. O Facebook, 6 meses, e chegou a 100 milhões em 9 meses.”
As rápidas mudanças, que o palestrante chama de “Revolução da Comunicação”, provocaram o “nascimento de um novo eleitor, que busca informações na rede [Internet]”. Ele explicou aos participantes as etapas para uma estratégia de sucesso nas redes sociais, incluindo conceito da campanha, organização da equipe, conteúdo e número de “postagens” diárias recomendadas.
O tema do Módulo IV “Planejamento de Desenho Urbano” ficou a cargo de Nabil Bonduki, ex-secretário de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano do Ministério do Meio Ambiente. O palestrante, que também exerceu o cargo de Superintendente de Habitação Popular do Município de São Paulo e foi vereador da cidade, falou sobre os desafios e as perspectivas da sustentabilidade urbana.
Bonduki deixou claro em sua exposição que o planejamento urbano tem que ser intersetorial. “É preciso romper com essa visão fragmentada da cidade”, afirmou ele, citando um exemplo dos problemas que essa forma antiga de pensar o município pode causar: “Quando a pessoa pensa só na habitação pode gerar um problema de mobilidade urbana”.
Ele criticou o modelo de desenvolvimento em vigor em São Paulo, que em sua avaliação prioriza o automóvel em detrimento do transporte público, e defendeu uma política habitacional que leve em consideração a sustentabilidade ambiental.   
No segundo dia do curso “Candidatos pela Sustentabilidade”, a primeira palestra foi proferida por Rodrigues Lugones, diretor executivo DBA, que expôs o tema do Módulo V “Comunicação Política Direta”. O especialista participou de campanhas presidenciais em diversos países, como Brasil, Argentina, Estados Unidos, México e Uruguai.
Steve Jarding, professor de Políticas Públicas da Harvard Kennedy School, apresentou aos participantes o tema dos módulos VI, VII e VIII – Estratégia de Campanha Eleitoral. Especialista em gerenciamento de campanhas eleitorais e estratégias políticas, o palestrante empolgou os participantes.
O curso foi encerrado por Guilherme Leal, do Conselho de Administração da Natura Cosméticos. Defensor da causa ambiental, o palestrante é também ex-presidente e atual membro do Conselho Deliberativo do Instituto Ethos – Empresas e Responsabilidade Social.
Pré-candidatos avaliam que prefeituras se preocupam pouco com sustentabilidade
Durante o curso, a reportagem da Rede Nossa São Paulo ouviu alguns pré-candidatos e constatou que a opinião predominante é que as atuais administrações municipais se preocupam pouco com a sustentabilidade de suas cidades.
“Lá não existe essa preocupação”, afirmou Acácia Pinho, pré-candidata à Prefeitura de Itabuna, na Bahia. “No poder público, não há nenhuma [preocupação]. A sociedade civil é que está defendendo essas ideias”, acrescentou Claudio Cosme, postulante ao cargo de prefeito de Pancas, município do Espírito Santo.
Para Gisele Uequed, que pretende disputar a prefeitura de Canoas, no Rio Grande do Sul, existem ações específicas no município que contemplam a questão da sustentabilidade. “Entretanto, falta um olhar mais abrangente que envolva a gestão territorial da cidade”, opinou.
“A preocupação é zero. Tem até aterro na beira do rio para construir rua”, criticou Eliana Ribeiro, pré-candidata a vereadora em Guaratinguetá. “As poucas ações relacionadas à questão ambiental na cidade foram paralisadas ou pouco caminharam”, finalizou Carlos Cesar, candidato a prefeito de Porto Ferreira, interior de São Paulo.
Todos se mostraram bastante interessados no curso, dizendo que pretendem colocar em prática o Programa Cidades Sustentáveis em seus municípios, caso sejam eleitos.