SITE INOVAÇÃO TECNOLÓGICA. Energia nuclear: População avalia bem benefícios e riscos. 28/05/2012. Online. Disponível em www.inovacaotecnologica.com.br/noticias/noticia.php?artigo=energia-nuclear-voz-povo-sabia. Capturado em 29/05/2012.
Paloma Rodrigues - Agência USP - 28/05/2012
Democracia acertada
A população brasileira tem uma predisposição a não gostar da ideia de o
Brasil ter instalações nucleares.
Segundo o pesquisador Felipe de Moura Kipper, fatores emocionais são
decisivos na hora das pessoas opinarem se são ou não favoráveis às instalações
nucleares.
"Os fatores emocionais são baseados em experiências anteriores, como por
exemplo o acidente nuclear em Chernobyl. Eles não são aleatórios e, portanto,
podem motivar decisões acertadas", diz Kipper, que pesquisou o tema em seu
mestrado pelo Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN), instituição
associada a USP.
O receio desses acontecimentos permanece vivo no subconsciente popular e o
mantém distante da aceitação da energia nuclear. "A opinião pública precisa
entender os benefícios trazidos por esta energia e só quando isso acontecer se
deve investir em instalações nucleares no Brasil, porque a vontade democrática
deve ser respeitada."
Percepção dos riscos e benefícios da energia nuclear
A pesquisa foi estruturada a partir da percepção de estudantes do ensino
médio em relação às instalações nucleares no Brasil, com o objetivo de entender
como a comunicação afetava o entendimento dessas pessoas sobre o tema.
Eles tinham de responder de 1 a 5, sendo 1 o menor entendimento e 5 o maior.
Dentre as questões colocadas estavam "benefícios da energia nuclear", "riscos
que ela oferece", etc.
Dentre os meios que o público mais tem acesso para se informar sobre o tema,
a TV e o rádio são mais representativos.
O pesquisador destaca que a falta de um conhecimento técnico apurado dos
profissionais da mídia atrapalha o entendimento das pessoas, pois informações
corretas deixam de ser passadas e, muitas vezes, questões como desastres e
acidentes são tratadas de maneira catastrófica.
A metodologia do trabalho se alterou com o acidente na usina nuclear de
Fukushima, no Japão, em março de 2011.
"O acidente aconteceu bem no meio do trabalho e não pudemos ficar alheios a
isso. Era uma experiência muito rica envolvendo o assunto e tivemos que passar a
considerar os efeitos que esse acidente teria sobre a percepção das pessoas",
afirma Kipper.
Acidente de Fukushima
Estudando o acidente e os efeitos que ele traria - como os países repensando
suas instalações e seus modelos de proteção contra acidentes nucleares, por
exemplo -, Kipper e seu orientador, Antonio Carlos de Oliveira Barroso, também
do IPEN, consideraram estudar o quanto as emoções eram decisivas na opinião das
pessoas. "Com o mesmo questionário sendo aplicado, seria possível avaliar a
mudança da percepção das pessoas depois do acidente", diz.
Novas questões foram propostas aos estudantes do ensino médio e, nessa
segunda fase, o pesquisador incluiu especialistas e pesquisadores no assunto
para também responderem ao questionário, dando um total de 463 respondidos.
As principais diferenças nas percepções estão relacionadas aos benefícios
oferecidos. Eles estão muito mais claros para os especialistas, enquanto pra
população em geral esse assunto ainda é nebuloso.
"No Brasil, utilizamos muito a energia hidrelétrica, o que gera a dúvida na
população do porquê é necessário investir em uma energia considerada mais
perigosa. Na Europa, por exemplo, a situação é diferente, pois há uma forte
presença de combustíveis fósseis e carvão mineral, então elas levam mais em
consideração os impactos ambientais, especialmente o problema da emissão de
gases de efeito estufa, cuja emissão é quase inexistente para as centrais
nucleares," explica.
Questão de entendimento
O papel do entendimento das pessoas passou a ser mais considerado nos últimos
anos.
O pesquisador se baseou em trabalhos do neurologista Antonio Rosa Damásio,
que diz que o entendimento das pessoas está pautado por um modelo formado de
acordo com as experiências positivas e negativas vividas, de modo que esse
entendimento não é tão irracional como se poderia imaginar.
"As pessoas definem um padrão que acaba sendo bom pra elas. Se neste momento
a população brasileira acredita que instalações nucleares não são positivas é
porque há fundamentos para dizer que não são," afirma o pesquisador.
Isso fica claro quando os especialistas, favoráveis às instalações nucleares,
disseram que sentiriam medo se as instalações fossem construídas próximas às
suas casas. "Nas respostas, os especialistas apontaram medo e receio de viver
com uma instalação nuclear em seu entorno", coloca Kipper.
Desta maneira, fica claro que apesar de haver uma larga defesa para uma
introdução mais abrangente da energia nuclear no Brasil, os próprios técnicos
entendedores do assunto não se sentem confortáveis para viver sob os riscos que
essa introdução representaria.