Patente verde poderá 'furar fila' no Brasil
Média para análise de pedidos de proteção intelectual no país é de mais de cinco anos, afirma instituição
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ciencia/36384-patente-verde-podera-furar-fila-no-brasil.shtml
São Paulo, quarta-feira, 11 de abril de 2012
SABINE RIGHETTI
ENVIADA ESPECIAL AO RIO
O Inpi (Instituto Nacional da Propriedade Industrial) vai priorizar, a partir de 17 de abril, o patenteamento de tecnologias consideradas "verdes", ou seja, que poluem menos ou que reduzem impactos ambientais.
A expectativa é que os pedidos de proteção para novas tecnologias nacionais mais limpas sejam analisados em até dois anos. Hoje, um pedido de patente leva em média cinco anos e quatro meses para ser analisado pelo Inpi. Até o ano passado, o processo levava até sete anos.
"Vamos acelerar porque queremos que a tecnologia limpa chegue logo à sociedade", afirma Douglas Alves Santos, pesquisador do Inpi que participou do projeto.
"Não podemos esperar seis anos para que uma solução ambiental seja aplicada no mercado", continua.
PRIMEIROS 500
De acordo com Santos, a ideia do Inpi é começar com um piloto de 500 pedidos de patentes feitos a partir de janeiro de 2011. Parte dos resultados dessas análises deve ser apresentados já na Rio+20 -a conferência da ONU para o desenvolvimento sustentável que acontece em junho, no Rio de Janeiro.
"Sabemos, por exemplo, que a maioria dos pedidos de tecnologias limpas nacionais está na produção de energia alternativa e na redução de resíduos", explica Patrícia Carvalho dos Reis, gerente do projeto do Inpi.
De acordo com ela, a definição do que é uma tecnologia "verde" teve base em metodologias de institutos de patentes de países como Estados Unidos, Austrália e Reino Unido, que já priorizam a análise de tecnologias limpas há alguns anos. Mas houve uma adaptação para o cenário brasileiro.
"Decidimos excluir, por exemplo, as tecnologias nucleares da lista de alternativas limpas", conta Reis.
À SOMBRA DE FUKUSHIMA
A decisão foi influenciada pelo acidente na usina nuclear de Fukushima, no Japão, atingida por um terremoto e um tsunami em março de 2011 -quando começou o grupo de estudos do Inpi.
Já o desenvolvimento de inovações para a produção de energia hidrelétrica, eólica e solar ficou na lista das prioridades.
O instituto espera atingir essa redução no tempo de análise das tecnologias "verdes" por meio de um conjunto de estratégias.
A primeira é excluir o tempo de sigilo de 18 meses após o pedido de proteção da tecnologia. Hoje, a Lei da Propriedade Industrial, de 1996, determina que uma patente só pode ser analisada após 18 meses de sigilo.
As patentes "verdes" vão quebrar essa regra -desde que o inventor autorize que a análise seja feita imediatamente após o depósito.
O mesmo procedimento é seguido em escritórios nacionais de patentes de vários países que priorizam as tecnologias limpas. No Reino Unido, por exemplo, uma tecnologia desse tipo leva nove meses para ser analisada.
A Coreia do Sul, por sua vez, já chegou a liberar uma patente verde em 18 dias.
O Inpi também espera aumentar o seu quadro de pareceristas para acelerar o processo de análise. A expectativa é contratar 400 novos nomes até 2015.
O anúncio da priorização das patentes "sustentáveis" está marcado para hoje, quando o instituto brasileiro também deve firmar uma parceria com o EPO (Escritório Europeu de Patentes).
A intenção é que a parceria facilite o trânsito de informações entre os pedidos feitos no Brasil e na Europa por meio de tradução do português ao inglês, e vice-versa, dos pedidos.
BUROCRACIA
Pedido de patente poderá ser feito eletronicamente a partir de julho
DA ENVIADA ESPECIAL AO RIO - A partir de julho, os pedidos de patente poderão ser submetidos ao Inpi (Instituto Nacional da Propriedade Industrial) pela internet, por meio de formulários eletrônicos. Hoje, o acompanhamento da análise dos pedidos já pode ser feito eletronicamente. Mas o pedido ainda era feito totalmente no papel.
O novo formato,pela internet, batizado de e-patente, tem base no sistema eletrônico do EPO (Escritório Europeu de Patentes), que concentra escritórios de patentes de 38 países da Europa.
A ideia do Inpi, de acordo com a assessoria do instituto, é acelerar as análises. Hoje, uma patente leva em média cinco anos e quatro meses para sair do papel. Em alguns países desenvolvidos, o prazo é de cerca de dois anos.
A previsão, de acordo com Julio César Moreira, diretor de patentes do instituto, é aumentar a quantidade de depósitos de patentes em até 10% neste ano, em relação a 2011, quando foram depositados 31.924 documentos.