12 de março de 2012 | 3h 02
O Estado de S.Paulo
A Agência Nacional de Águas (ANA) vai defender ao longo desta semana, no 6.º  Fórum Mundial da Água, que começa hoje em Marselha (França), a necessidade de  criação de uma governança global para os recursos hídricos. 
"A ideia é criar um organismo no âmbito da ONU, seja um programa ou uma  agência, que tenha a água como fator central", afirma Vicente Andreu, diretor  presidente da ANA. "Hoje existem diversos programas e agências, como a Unesco, a  Organização Mundial de Meteorologia, a FAO, que têm a água como um elemento  constitutivo de sua agenda, mas não é o seu tema central. A água é transversal a  diversos setores."
Segundo ele, o escritório que existe hoje para esse fim, o UN-Water, ligado à  Secretaria-Geral da ONU, "tem tido um papel frágil" em relação aos desafios  colocados pela escassez e o aquecimento global. "A constituição de um organismo  mais efetivo pode trazer uma natureza vinculante às questões relativas à água  junto aos governos", defende. Em seu âmbito poderiam ser discutidos temas como  gestão integrada dos recursos hídricos, questões climáticas, padrões de  monitoramento dos recursos e águas transfronteiriças.
Entre os vários temas que a ANA deve apresentar, Andreu destaca também a  proposta de criação de reservatórios de água como uma medida de adaptação às  mudanças climáticas. O recurso, normalmente usado no Brasil para abastecer  usinas hidrelétricas, é polêmico por seu impacto ambiental. 
"O problema é que em uma situação em que o aquecimento global pode promover  tanto secas mais intensas quanto chuvas mais intensas, a criação de  reservatórios é uma medida que pode fazer frente a isso, tanto para controlar as  cheias quanto para garantir o abastecimento na seca", diz. "O nível de segurança  hídrica, com base nos reservatórios hoje existentes no Brasil, é pequeno. Ainda  mais quando 90% dela é voltado para a geração de energia elétrica. É um tema que  tem de voltar à mesa."
Apesar de o fórum não ser um evento governamental, há a expectativa de que  algumas de suas contribuições possam acabar sendo incorporadas na Conferência  das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20. Um dos painéis  do fórum vai tratar dos caminhos para a Rio+20 e deve encaminhar temas a serem  debatidos nos diálogos setoriais que vão ocorrer na conferência. Desses eventos  sairão propostas que serão apresentadas na reunião final de chefes de Estado,  que vai concluir o documento da conferência. / GIOVANA GIRARDI e KARINA  NINNI
 
