terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Projeto constrói banheiros ecológicos na Bolívia

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Vale da Bolívia recebe melhorias onde não havia saneamento básico

por Enrico Fantoni

Editora Globo
DE VOLTA À TERRA: Belinda posa em uma das hortas locais. As plantações recebem adubo orgânico (retirado por moradores na foto menor ao lado). Ele vem diretamente do banheiro seco que se vê na imagem acima
Urbelinda Ferrufino, Belinda, como é conhecida, tem 55 anos, cabelos curtos pretíssimos, dois diplomas de ensino superior e um espírito indomável. Quase sozinha, ela leva adiante a Aseo (Associação Ecológica de Oriente), uma organização não-governamental que constrói banheiros secos para os habitantes do vale do rio San Isidro, na Bolívia. 


Na região, vivem pouco mais de mil famílias, distribuídas em 18 comunidades. Elas não têm acesso a saneamento básico ou tratamento de esgoto. O rio que corta o local é a fonte única de água: de beber, cozinhar, irrigar os campos, tomar banho. É no rio também que são jogados os dejetos dos quase 5 mil habitantes locais. Em suas casas, geralmente, não há banheiros. Assim, as necessidades são feitas em qualquer lugar. “Aqui no povoado, quase todos vão em um terreno não-cultivado atrás da escola: de manhã você os vê ali com o traseiro no ar e com as mãos cobrindo o rosto para não serem reconhecidos”, diz Belinda, com pudor indissimulável. 



Para melhorar a vida das pessoas e evitar a poluição do rio, ela criou um banheiro de fácil construção e que não usa água. No vaso sanitário, há um cano que leva a urina diretamente para uma lata, armazenada do lado de fora do banheiro. O cocô vai para uma câmara de cimento vedada, acessível do exterior por meio de uma pequena porta. Lá dentro, fica uma mistura de terra e cinzas que ajuda a transformar as “necessidades” em adubo. 



Uma família-modelo, que ali tem, em média, 5 filhos, leva 6 meses para encher a câmara. Ela é, então, fechada e deixada a madurar. Os micro-organismos fazem seu trabalho e, em pouco tempo, saem dali 600 quilos de fertilizante totalmente orgânico. Nem a urina é desperdiçada: misturada com água e deixada amadurecendo por 9 meses à sombra, também se transforma em um potente nutriente para as plantas. 



Além de prover mais conforto para os moradores, a administração local economiza com saneamento básico e tratamento de esgoto. E o rio, enfim, pode correr mais limpo ao longo do vale.