http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/20140-sorocaba-e-santos-abrem-mais-espaco-para-ciclovias.shtml
São Paulo, domingo, 15 de janeiro de 2012
LEANDRO MARTINS
ENVIADO ESPECIAL A SOROCABA E SANTOS
São 7h. Uma balsa que minutos antes havia partido do Guarujá atraca em Santos. Dela, em vez de carros, desembarcam multidões de ciclistas, em um vaivém que se repete várias vezes ao longo do início da manhã.
No fim de tarde, em Sorocaba, trabalhadores voltam para casa de bicicleta em vias exclusivas e bem sinalizadas que cortam a cidade ligando regiões sem distinção, de bairros ricos a periferias.
Os dois municípios passaram a ver nas bicicletas um meio de transporte de fato.
Isso colocou Sorocaba e Santos entre os principais modelos cicloviários do Estado, segundo especialistas.
Com um plano que prevê 100 km de ciclovias até o final deste ano, dos quais 75 km em operação, Sorocaba é apontada como uma das cidades que mais bem investiram no transporte por bikes.
Padronizadas com piso em vermelho e sinalização, as ciclovias são quase todas interligadas. Há bicicletários em terminais de ônibus, o que permite a integração, além de paraciclos (locais para deixar as bikes) pela cidade.
O projeto de criar uma malha cicloviária ampla começou em meados de 2006.
Novas avenidas passaram a ser projetadas com canteiros largos, com espaço reservado para ciclovias, e vias já existentes foram adaptadas.
A prefeitura implantou ações para atrair a população, como passeios e conscientização. Grupos independentes entraram na tarefa, como o Sorocaba Bikers, que tem cerca de 300 membros.
Santos é uma prova de que a consolidação do projeto cicloviário, aliada a uma boa infraestrutura, dá resultado.
As primeiras ciclovias começaram nos anos 1990 e a expansão foi contínua -hoje são quase 30 km e ainda há obras em alguns trechos.
A travessia da balsa entre a cidade e o Guarujá é a maior prova de que a bicicleta faz parte da vida de muita gente.
Segundo a Dersa, órgão estadual que administra a balsa, de 10 mil a 12 mil ciclistas usam a travessia por dia.
A imagem dos desembarques nas primeiras horas do dia impressiona e faz lembrar o que se vê em grandes cidades chinesas, onde multidões se locomovem de bicicletas.
O aspecto econômico é o que parece fazer mais diferença. "Se eu não usasse a bicicleta, teria de pagar dois ônibus, além da balsa, todos os dias", disse a secretária Maria José Soledade Silva, 37, que vai do Guarujá a Santos.
Quem cruza a balsa de bicicleta não paga nada -se estiver a pé, gasta R$ 2,20.
Segundo a Prefeitura de Santos, o uso da bicicleta já corresponde a 8% de todas as locomoções feitas na cidade, incluindo as de pedestres.
A administração atribui boa parte disso às ciclovias. A topografia da área urbana, quase toda plana, favorece.
A estrutura da rede cicloviária na cidade também é boa: há até semáforos exclusivos para bicicletas.
Também há problemas, como no trecho de ciclovia próximo ao cais, que acumula água quando chove e que aparenta não estar tão bem cuidado como o que fica na parte turística à beira-mar.