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05 de janeiro de 2012 • 
12h42 
Foto: DiárioNet
Não é de hoje que a humanidade busca o desenvolvimento. Ele é objetivo das 
diversas pesquisas do meio acadêmico e, embora de modo e proporções diferentes, 
também é anseio dos cidadãos comuns. Por desenvolvimento, pretende-se garantir e 
aperfeiçoar as condições de vida dos seres humanos, buscando muito mais do que o 
atendimento de suas necessidades básicas de alimentação e abrigo, mas 
provendo-os de boas condições de conforto e saúde e permitindo uma amplitude das 
opções de trabalho, educação, lazer e cultura.
Por perceber as consequências negativas nas cidades e nos ecossistemas 
decorrentes do desenvolvimento a qualquer custo, o termo sustentabilidade 
aparece nos debates desencadeados em fóruns mundiais, para que este ocorra por 
meio de tecnologias menos impactantes, partindo de novas ideias, de novas 
práticas e de novas posturas.
E como novas práticas e novas posturas começam dentro de casa, percebe-se a 
importância de considerar estas questões de sustentabilidade nas próprias 
habitações que abrigam os cidadãos e compõem o cenário das cidades, independente 
de estarem inseridas em meio urbano ou rural, ou de pertencerem a pessoas com 
maior ou menor poder aquisitivo.
Mas o que seriam habitações mais sustentáveis para todos?
Primeiramente, esquecer os modelos. Fixar modelos, por si só, já é uma 
atitude insustentável, pois permite incoerências com os diferentes contextos em 
que as habitações podem estar inseridas, com a diversidade cultural das pessoas 
que nelas irão habitar e com os diversos orçamentos disponíveis.
Também é importante sinalizar os benefícios de uma habitação mais sustentável 
ao longo do tempo, os quais poderão ser percebidos diretamente pela redução das 
despesas no consumo de água, energia elétrica e gás e nas atividades de 
conservação e manutenção. Esta redução de despesas pode ser obtida de diversas 
maneiras, sem necessariamente exigir grandes investimentos, mas sempre partindo 
de planejamento, gestão e comprometimento dos usuários na utilização das 
unidades habitacionais. São boas práticas:
- Instalação de luminárias 
e lâmpadas mais eficientes.
- Dimensionamento e distribuição adequada dos 
circuitos de tomadas e pontos de luz.
- Entrega (ou orientação para a 
aquisição) de eletrodomésticos com altos níveis de eficiência energética e 
certificados pelo PBE do Inmetro (em habitações de baixa renda).
- 
Instalação e posicionamento adequado de esquadrias de modo a permitir a passagem 
de luz durante o dia.
- Aquecimento da água, sempre que possível, por 
meio de energia solar térmica - buscando as melhores soluções considerando a 
demanda de cada habitação (banho, lavatórios, pias de cozinha, piscinas) e as 
superfícies disponíveis de exposição ao sol.
- Uso de sistemas de apoio a 
gás também como alternativa ao uso da energia elétrica da concessionária, 
contribuindo para a redução da demanda urbana no horário de pico.
- 
Instalação de dispositivos economizadores de água, garantindo menores vazões, 
maior durabilidade dos mecanismos e facilidade para a detecção de 
vazamentos.
- Instalação de dispositivos e medidores setorizados que 
permitam aos gestores prediais e aos condôminos o monitoramento dos consumos de 
energia elétrica, água e gás.
- Uso de fontes alternativas de água ¿ 
sempre com o cuidado de evitar a contaminação das redes e garantir a constância 
da realização correta dos tratamentos das águas ao longo dos anos de uso das 
habitações (a princípio, a captação de águas de chuva para uso em irrigação e na 
lavagem de pisos externos é uma boa opção; também o aproveitamento das águas 
servidas de tanques e máquinas de lavar roupa para a lavagem de pisos externos). 
Todos os modos de reuso de água devem ter sua oferta e demanda avaliados, assim 
como o aculturamento dos usuários dos sistemas, de modo a garantir que esta 
economia no uso da água potável não cause problemas à saúde humana.
Além da potencial redução de despesas operacionais, as habitações mais 
sustentáveis também devem proporcionar melhores padrões de conforto e saúde aos 
seus usuários.
Em termos de conforto térmico, por exemplo, sabe-se que os padrões podem 
variar bastante conforme o poder aquisitivo das pessoas e, portanto, também 
variam as soluções de projeto e a especificação dos materiais de construção. Mas 
de modo geral, independente do orçamento, é possível fazer boas escolhas para os 
sistemas de vedação externa, para a configuração das lajes de cobertura, 
telhamentos e dispositivos de sombreamento, obtendo da própria arquitetura as 
condições térmicas interiores satisfatórias e compatíveis com as condições 
climáticas locais.
Já em se tratando de conforto acústico, muito ainda é preciso ser 
desenvolvido em termos de soluções para esquadrias, vedações internas e 
revestimentos de piso, sendo este não apenas um problema observado em habitações 
de baixa renda, mas também atingindo os diversos padrões, em maior ou menor 
grau, conforme o nível de exposição ao ruído.
Quando o tema é saúde, deve-se garantir nas habitações bons padrões de 
ventilação, proporcionados por pés direito altos e adequado posicionamento e 
configuração das esquadrias e outros pontos de tomada de ar, além de 
revestimentos de piso e parede que possibilitem fácil higienização, evitando 
acúmulo de poeira e contaminantes.
Em termos de investimento, entende-se que em cidades com condições climáticas 
mais severas ou com maior nível de exposição ao ruído ou poluição, são 
necessários mais recursos, sendo estas questões a serem aperfeiçoadas para 
garantir conforto e salubridade ótimos em habitações de pessoas de baixa renda. 
Do mesmo modo, as soluções em esquadrias surgem como um ponto frágil quando se 
trata de disponibilidade no mercado brasileiro e custos, pois são elementos 
fundamentais nas habitações, garantindo isolamento, estanqueidade e 
flexibilidade de usos nos diferentes horários do dia e condições 
climáticas.
De qualquer forma, com planejamento e boa arquitetura é perfeitamente 
possível obter-se habitações mais sustentáveis sem grandes investimentos 
adicionais, culturalmente aceitas e operáveis, ambientalmente menos impactantes 
e que contribuam para a criação de uma sociedade mais justa e igualitária em 
termos de uso dos recursos.
Clarice Menezes Degani é engenheira especialista em 
sustentabilidade e assessora da vice-presidência de Sustentabilidade do 
Secovi-SP.
 
