06/12/2011 - 20h50
Atualizado em 07/12/2011 às 03h00.
Quase um terço dos vegetais mais consumidos pelos brasileiros apresentam
resíduos de agrotóxicos em níveis inaceitáveis, de acordo com a Anvisa (Agência
Nacional de Vigilância Sanitária).
Das amostras de alimentos analisadas pela agência, referentes ao ano de 2010,
28% apresentaram ou limites acima do recomendável ou substâncias não aprovadas
para o produto --um agrotóxico recomendado para o cultivo de eucalipto usado
numa lavoura de tomate, por exemplo.
O campeão de irregularidades é o pimentão --92% das amostras analisadas foram
consideradas insatisfatórias no relatório do Para (Programa de Análise de
Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos, da Anvisa). Há dois anos, esse índice era
de 65%.
Os outros dois alimentos mais problemáticos são o morango e o pepino, com 63%
e 57% de amostras com mais agrotóxicos do que o permitido,
respectivamente.
Foram analisadas 2488 amostras em todos os Estados e no
Distrito Federal, exceto São Paulo, que não quis participar da avaliação.
Segundo José Agenor Álvares da Silva, diretor da Anvisa, o problema de
resíduos químicos em alimentos pode estar relacionado ao custo dos agrotóxicos.
Os pequenos produtores, diz ele, acabam comprando produtos baratos, mas
inadequados para um determinado cultivo.
Silva cita ainda a falta de orientação de agrônomos sobre os produtos
--agrotóxicos são usados para aumentar a a produção dos agricultores.
PRODUTOS BANIDOS
Dos cinquenta princípios ativos mais usados em agrotóxicos no Brasil, 20 já
foram banidos na União Europeia, segundo o diretor da Anvisa.
O endossulfan, achado no pimentão, já não é usado nos EUA e China, por
exemplo. Ele foi reavaliado pela Anvisa em 2010 e terá que ser banido do país
até 2013.
A presença de química não permitida ocorre em 85% das amostras de pimentão.
Para Luiz Carlos Ribeiro, gerente da Andef (associação das empresas que
fabricam agrotóxicos), isso se deve ao fato de os produtores de tomate, que
normalmente também cultivam o pimentão, usarem o mesmo agrotóxico para as duas
culturas.
Para ele, o problema poderia ser amenizado se a Anvisa aprovasse mais
rapidamente os novos agrotóxicos lançados no mercado. Hoje, diz Ribeiro, esse
processo leva cerca de três anos.
CÂNCER
A ingestão de comida com excesso de agrotóxicos de forma prolongada pode
causar câncer, problemas neurológicos e malformação fetal.
Pesquisas recentes mostram a relação da exposição a essas substâncias com
doenças do sistema nervoso.
Em 2010, a Academia Americana de Pediatria fez
uma pesquisa com 1.100 crianças e constatou que as 119 que apresentaram
transtorno de déficit de atenção tinham resíduo de organofosforado (molécula
usada em agrotóxicos) na urina acima da média de outras crianças.
Em 2010, foi usado 1 milhão de toneladas de agrotóxicos em lavouras do país.
Ou seja, 5 kg por brasileiro.
Editoria de Arte/Folhapress | ||