domingo, 6 de novembro de 2011

Rio Tietê: Indicador de política pública ambiental!


06/11/2011 - 03h00

Após 18 anos e US$ 1,6 bi, Tietê fica pior na Grande SP



Após quase duas décadas e gastos de US$ 1,6 bilhão (R$ 2,8 bilhões), o índice de qualidade da água do rio Tietê no trecho da Grande São Paulo está ainda pior, informa a reportagem deJosé Benedito da Silva, publicada na edição deste domingo da Folha (íntegra disponível para assinantes do jornal e do UOL, empresa controlada pelo Grupo Folha, que edita a Folha).
Nos 9 pontos avaliados em 2010, último levantamento, 4 eram péssimos e 3, ruins. Dos 6 monitorados desde 1992, quando foi lançado o plano de despoluição, 5 estavam piores.
Na maior parte da região metropolitana, as taxas de oxigênio ficam próximas de zero, o que inviabiliza a vida aquática.
O esgoto não tratado é o grande vilão, inflado pelo crescimento da população e das ligações clandestinas.
A Sabesp diz que "é difícil ver uma melhora na região metropolitana" e que a situação seria pior sem o plano de despoluição e os investimentos em coleta e tratamento de esgoto.



Após 18 anos e US$ 1,6 bi, Tietê fica pior na Grande SP




Mesmo com investimentos, metade da população não tem esgoto tratado

Cinco de seis locais avaliados pela Cetesb desde o lançamento de plano de despoluição estão mais deteriorados

JOSÉ BENEDITO DA SILVA
DE SÃO PAULO



O ano era 1992. Chitãozinho & Xororó cantavam em propaganda do governo de SP que a população poderia, enfim, voltar a nadar no Tietê.
Mais otimista, o governador Luiz Antônio Fleury Filho disse que um dia beberia do rio e que, na sua gestão, reduziria em 50% a sua poluição por conta do Projeto Tietê, o mais ambicioso plano ambiental da história de SP.
O ano é 2010. Quase duas décadas e US$ 1,6 bilhão depois, a água do Tietê no trecho que atravessa a Grande São Paulo está ainda pior.
O quadro, detectado em avaliação anual da Cetesb, mostra que ele segue feio (turvo), sujo (lixo e esgoto) e malvado (transmite doenças).
Dos seis pontos monitorados desde 1992, cinco estavam piores em 2010. Dos nove avaliados hoje, quatro são péssimos, e três, ruins. Os dois bons ficam perto da nascente, em Salesópolis (101 km de SP).
Folha usou o IQA (Índice de Qualidade das Águas), o mais amplo dos indicadores apurados pela Cetesb, que leva em conta nove parâmetros, entre eles quantidade de oxigênio e coliformes fecais.
Em quase toda a região, as taxas de oxigênio ficaram perto de zero, o que inviabiliza qualquer tipo de vida.
Ou seja, o Tietê -que, em tupi-guarani, ironicamente, é "água boa" ou "rio verdadeiro"- é ainda um rio morto.
E não é o único: o cenário é o mesmo em todos os rios da capital, como Pinheiros, Tamanduateí e Aricanduva.
Apesar dos investimentos em esgoto, é grande o número de domicílios não ligados à rede -de favelas à beira de córregos a condomínios de luxo na zona oeste da cidade.
Nas duas primeiras fases do plano -a terceira vai de 2010 a 2015-, a Sabesp priorizou a montagem estrutural da rede, como a construção de três estações de esgoto (eram duas), redes coletoras e interceptores, entre outros.
O volume de esgoto tratado quadruplicou e incluiu 8,5 milhões de habitantes. "É a população de Londres", diz Carlos Eduardo Carrela, superintendente de Gestão de Projetos Especiais da Sabesp.
Parece muito, mas está abaixo da meta (18 milhões) e atinge só 50% da população. Dez cidades, como Guarulhos e Barueri, não tratavam nada do esgoto em 2010.
"É como na era medieval. O cocô é jogado no rio, o importante é ir embora da minha casa", diz Mario Mantovani, diretor da Fundação SOS Mata Atlântica, que monitora o plano desde o início.
Outro fator foi que a população cresceu (em 5 milhões) e, com ela, problemas como lixo e poluição do ar (chuva ácida), que já respondem por 30% da poluição do rio.