USP vai cortar 1,3 mil árvores no câmpus do Butantã
Desmate foi autorizado pela Prefeitura e será um dos maiores da cidade neste ano; área dará lugar a complexo com museus previsto para 2013
22 de setembro de 2011 | 22h 45
Rodrigo Burgarelli - O Estado de S. Paulo
SÃO PAULO - Considerado um dos locais com mais áreas verdes na capital paulista, o câmpus da Universidade de São Paulo (USP) no Butantã, zona oeste, vai perder 1.328 árvores nos próximos meses. Essa pequena mata, equivalente a um Parque Trianon ou da Aclimação, vai dar lugar a um conjunto de museus planejado pela reitoria desde 2001. O corte é um dos maiores aprovados neste ano pela Secretaria do Verde e do Meio Ambiente.
Hélvio Romero/AE
6 mil mudas terão de ser plantadas para compensar
Para se ter ideia do tamanho do desmatamento, toda a obra de duplicação da Marginal do Tietê em 2009 derrubou cerca de 800 árvores, pouco mais da metade do que será cortado na USP. A universidade será obrigada a manter no local apenas 217 árvores, além de plantar outras 6 mil mudas no local. "O problema é que serão cortadas árvores adultas, robustas, que trazem um grande benefício para o clima daquela região. Já essas mudas só trarão efeito similar daqui a 20 ou 30 anos", disse o ambientalista Carlos Bocuhy.
A área fica do lado da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, próximo da Avenida Corifeu de Azevedo Marques. Para Bocuhy, o local é inadequado para uma obra desse porte. "Existem várias outras áreas na USP com bem menos árvores, que trariam um impacto muito menor. É impossível que esse local, onde será necessário cortar mais de 1.300 árvores, seja a melhor alternativa nesse caso", afirma o ambientalista.
As árvores são consideradas essenciais por especialistas pois ajudam a umidificar o ar em zonas localizadas dentro da cidade, o que contribui para a dispersão dos poluentes e alivia os efeitos causados pelo tempo seco. Outra contribuição das matas urbanas é a refrigeração da atmosfera nas redondezas e o aumento da circulação do ar.
Projeto. O plano da USP é erguer no local o chamado "Parque dos Museus", um conjunto de 53 mil m² projetado pelo arquiteto Paulo Mendes da Rocha que será sede do Museu de Arqueologia e Etnologia e do Museu de Zoologia. Isso só será possível justamente por causa de uma obra considerada irregular pelo Ministério Público, que obrigou a incorporadora Brookfield a contribuir financeiramente com o projeto após danificar um sítio arqueológico no Itaim-Bibi, onde constrói um prédio.
O diretor do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da USP, Thiago Aguiar, afirma que não houve discussão sobre o local escolhido pela reitoria para se erguer as novas sedes dos museus. "Esse plano de construção de novos prédios, que vai gastar R$ 240 milhões dos cofres públicos, não foi nada democrático. Não tivemos a chance de discutir nem sobre o impacto dessa obra na área verde do câmpus nem sobre sua finalidade, que também é questionável", diz.
A universidade, por sua vez, afirma que todo o processo está sendo feito de acordo com as orientações da Secretaria do Verde e Meio Ambiente. Segundo a USP, o projeto é importante para a comunidade acadêmica, uma vez que vai aproximar o Museu de Zoologia à Cidade Universitária - hoje, ele funciona no bairro do Ipiranga, na zona sul - e aumentar a área disponível para as exposições. A previsão de inauguração é em 2013.