Caminhando juntos: economia e meio ambiente
http://correiodobrasil.com.br/caminhando-juntos-economia-e-meio-ambiente/296582/ 13/9/2011 14:23, Por Adital
Inequivocamente, a primeira condição para mudar a realidadeé conhecê-la. Os dados disponíveis, concernentes à agressão ambiental em escalamundial em nome do “progresso econômico (?)”, não deixam dúvidas: o fortedesequilíbrio ambiental manuseado por mãos humanas que respondem aos ditames do deus-mercado precisa ser freado.
À medida que o consumo ganha maiores proporções e torna-se sinônimo de prosperidade material, os recursos naturais vão sendo dilapidados eo meio ambiente, eixo de todo o sistema vida, sofre as consequências:desequilibra-se o sistema de chuvas, altera-se radicalmente o clima, desmata,polui, agride-se os lençóis freáticos, chove onde deveria fazer sol, há secaonde deveria ter água. A “salada química” é intensa: monóxido de carbono, dióxidode enxofre, eutrofização (degradação do ambiente aquático), pesticidas.
Na busca desenfreada pelo bem-estar, pelo conforto, o homemse fecha numa visão míope e rompe seus laços com a Mãe Natureza. Quem bem-estaré esse que degrada o ambiente? Que melhoria de vida é possível num ambientenatural caótico, desequilibrado, dilapidado? Isso é progresso? A expansãoindustrial, o ritmo alucinado do crescimento da economia somente fez violentara natureza. Em nome disso, passamos a valorizar mais o som da buzina dosautomóveis ao som do canto dos pássaros. A fumaça das fábricas passou a termais valor que o cheiro do mato. A palavra de ordem dada pelo deus-mercado é CRESCER; pouco importa se a consequência disso seja DESTRUIR.
Urge inverter-se essa lógica. O relacionamento entre a Terrae a Economia tem de ser harmonioso, visto que a segunda parte da primeira. Aquireforçamos a ideia de que a economia nada mais é que um subconjunto do meioambiente. É necessário, portanto, criar-se, em todos os aspectos, a boasincronia entre a economia (atividade produtiva) e o ecossistema (a base dosrecursos naturais) para se chegar ao verdadeiro progresso; o progresso que sesustentará ao longo do tempo sem ter feito os estragos em sua base desustentação.
Dito isso, é importante reiterar que o crescimento daeconomia (o crescimento físico) não pode acontecer sobre as ruínas do capitalnatural. O que tem acontecido é o oposto: de 1950 a 2000, a economia global foimultiplicada por sete, aumentando a produção de bens e serviços de US$ 6trilhões para US$ 43 trilhões (dados de 2000). Conquanto, o que não foi respondido nesse mesmo período é a que “preços” ecológico e social essecrescimento elevado foi alcançado.
Enquanto a economia (atividade produtiva) que sustenta essaprodução/consumo tem sido feita em benefício de poucos, na outra ponta, essamesma economia é sustentada (em termos de produção e não de consumo) por muitosque jamais terão as mesmas as oportunidades dadas aos primeiros. Disso advêm,certamente, as gritantes distorções no sistema de distribuição/consumo de bense isso condena, de uma vez por todas, a economia (também enquanto ciência) a sedesviar de seu pressuposto essencial: melhorar as condições de vida de todas aspessoas.
Definitivamente, a economia e a natureza não nasceram para condenar alguém à humilhação, à exploração, à pobreza material. Economia eNatureza, juntas, podem representar uma via de acesso às melhorias que levam ao almejado padrão de bem-estar social, desde que caminhem juntas, numa “parceria”sem exploração voraz, mas numa sintonia de contemplação. A esse respeito,Jean-Michel Cousteau assim ponderou: “a economia e a ecologia não devem ter conflitos porque hoje são exatamente a mesma coisa”.
O curioso é que no passado não muito distante, a ecologia chegou a ser chamada de “a economia da natureza”, dada sua estreita e íntimarelação entre o produzir e o retirar da natureza.
O fato é que, desse argumento de Cousteau, resulta afirmar,a título de reiteração, que a economia e o meio ambiente devem caminhar juntos,pois uma é o complemento da outra, apesar de ser a economia um subconjunto domeio ambiente. Para tanto, o crescimento econômico deve ser revisto, pois essenão pode ser praticado à custa dos recursos naturais explorados à exaustão. Aprópria palavra exaustão (na origem: extremo cansaço) já determina como será nofuturo: é algo que vai acabar.
Portanto, não se deve, não se pode, não se recomenda cresceralém dos limites. O certo é que há limites e esses devem ser respeitados. ATerra não aumentará de tamanho, estejamos certos disso. Na prática, continuarexplorando sem respeitar os limites implicará em sérias perdas para todos.Outrossim, isso significa perdas que serão irrecuperáveis, visto que hárecursos que são finitos, vão acabar. A mensagem é única: usou, esgotou, nãoteremos mais.
Dessa forma, essa história entre a economia e a natureza emconflito pode assim ser resumida: mais economia (crescimento) é sinônimo demenos ambiente (degradação). Logo, crescimento sem regras e sem ponderaçõesaponta para profundos impactos ambientais. Ambiente (ecossistema) degradado évida mal vivida. Muitos vão se defender desses argumentos alegando ser possívela prática do tal “desenvolvimento sustentável”. Conquanto, isso é oximoro (doisconceitos opostos numa só expressão): se é desenvolvimento (evolução) éimpossível ser sustentável (preservação). Isso não se coaduna. Um fere o outroe, ambos, feridos, degradam a qualidade de vida.
Nas palavras de Lester Brown, essa história fica assim: “Aeconomia global atual foi formada por forças de mercado e não por princípios deecologia. Infelizmente, ao deixar de refletir os custos totais dos bens eserviços, o mercado presta informações enganosas aos tomadores de decisõeseconômicas, em todos os níveis. Isso criou uma economia distorcida, fora desincronia com os ecossistemas da Terra, uma economia que está destruindo seussistemas naturais de suporte”.
Para o bem de todos, urge retomarmos sempre que possívelesse debate em torno da economia e sua relação com o meio ambiente. Que amboscaminhem juntos; a preservação das espécies irá agradecer. Por fim, é forçosoressaltar que não estamos na Terra; somos a Terra. Não ocupamos a natureza como meros partícipes dela; somos a própria natureza.