Pirituba quer parque e não cemitério na região
Ambientalistas afirmam que empresa desmatou sem licença área de proteção para construir cemitério na Avenida Raimundo Pereira de Magalhães. Obra está embargada pela Justiça
fontehttp://www.diariosp.com.br/_conteudo/2011/07/100744-pirituba+quer+parque+e+nao+cemiterio+na+regiao.html
autor - FABIO PAGOTTODIÁRIO SP
"Acordei com o grito dos pássaros. Era a natureza avisando que estava sendo destruída. Abri a janela e vi máquinas arrancando as árvores da área verde em frente ao meu prédio", disse a fisioterapeuta e ambientalista Regina Jasa. A cena ocorreu em 2005. Desde esta época, Regina e um grupo de ambientalistas vêm tentando impedir a abertura de um cemitério em um terreno dentro de uma área de preservação ambiental, na Avenida Raimundo Pereira de Magalhães, no cruzamento da Marginal Tietê com a Rodovia dos Bandeirantes, em Pirituba, na Zona Norte.
A dona do terreno, que é uma APP (Área de Proteção Permanente) de 99 mil metros quadrados, tirou dali um bosque com 3.300 árvores para fazer um cemitério. O Ministério Público diz que o desmatamento foi autorizado irregularmente pela Secretaria do Verde e do Meio Ambiente em 2004, quando a prefeita era Marta Suplicy (PT) e o secretário era Adriano Diogo (PT), hoje senadora e deputado estadual.O promotor Luiz Roberto Proença investiga o caso desde 2005, quando as primeiras árvores foram cortadas. "Descobrimos que diversas leis ambientais não foram respeitadas", disse. Em fevereiro, o promotor obteve liminar embargando a obra e entrou com ação contra o estado, a Cetesb, a Secretaria do Verde e Meio Ambiente e o ex-secretário Adriano Diogo, além do proprietário do terreno, Garzal Zarzur.
foto: Vinicius Pereira/Diário SP
Obra parada: terreno em Pirituba foi desmatado de maneira irregular, segundo o Ministério Público. Ação embargou a obra de cemitério, que teria 30 mil jazigos. Local tem nascentes e lei proíbe túmulos no local
Segundo Proença, houve dano ambiental grave. Além do corte do bosque, o local, por onde passa um lençol freático, foi terraplanado. Um riacho que havia ali foi canalizado. "Muita coisa está errada. A licença para cortar as árvores foi concedida pela Secretaria do Verde na última semana antes do secretário Diogo deixar o cargo e sem autorização do Ibama e da Cetesb. A decisão contrariou até mesmo pareceres da própria secretaria", diz o promotor. "Cerca de 85% do terreno foi impermeabilizado pela obra. Isso pode provocar enchentes", falou. "Além disso, a lei é clara: cemitérios não podem ser construídos próximos a rios, riachos e sobre lençóis freáticos até um metro e meio de profundidade. No terreno do lençol aflora até um metro em alguns pontos", explicou.Além de pagamento de multa e a recuperação do terreno, o promotor pediu a cassação dos direitos políticos de Adriano Diogo. Se condenado, Diogo será punido com a perda do cargo e fica inelegível por oito anos. "Queremos as árvores de volta e não um cemitério. Tenho uma sugestão de projeto para fazer o Centro de Estudos Ambientais de Pirituba", disse o consultor ambiental Edmilson Macedo, de 48 anos. "Nadei e pesquei no riacho que havia aqui, quando eu era criança. Dói meu coração ver o que fizeram", falou o historiador Wilson Alves de Castro, de 78 anos. Regina, Edimilson e Wilson já organizaram abaixo-assinado contra a construção do cemitério com adesão de mais de cinco mil pessoas, além de realizar protestos.
O dono /O terreno é de Garzal Zarzur, que comprou a área em 1959. De acordo com a filha dele, a advogada Carla Zarzur, Garzal tem todas as licenças ambientais e autorizações para a construção do cemitério. "Mas vamos acatar qualquer que seja a decisão da Justiça", afirmou a advogada.O deputado Diogo disse que não agiu errado e vai se defender na Justiça. "Não há crime nenhum em aprovar autorizações de corte de árvores nos últimos dias de mandato", afirmou.
Guerreira
Defensora de causas ambientais desde criança, Regina Jasa acionou o Ministério Público para verificar a regularidade da obra do cemitério. "Só temos um planeta. Um cemitério aqui afeta não só o entorno, e por várias gerações. O que está em jogo aqui é a herança que vamos deixar para nossos filhos e netos."
Tristeza
O historiador Wilson Alves de Castro, de 78 anos, nadou e pescou com seu pai no riacho que foi canalizado durante a construção do cemitério. "Esse lugar me traz muitas lembranças. Foi a fazenda de Anastásio Capuava, e depois foi do Frigorífico Armour. Triste ver como ficou sem árvores", lamenta Wilson.